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Nasa comemora 55 anos com a calculadora na mão

29 jul 2013 - 12h10
(atualizado em 1/10/2013 às 15h14)
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<p>Comandante da Apollo 11, Neil Armstrong tirou a maioria das fotografias da primeira caminhada na Lua, mas esse raro registro do companheiro Buzz Aldrin mostra Armstrong trabalhando próximo ao módulo lunar Eagle</p>
Comandante da Apollo 11, Neil Armstrong tirou a maioria das fotografias da primeira caminhada na Lua, mas esse raro registro do companheiro Buzz Aldrin mostra Armstrong trabalhando próximo ao módulo lunar Eagle
Foto: Nasa / Divulgação

A Nasa chega aos 55 anos nesta segunda-feira. De pequeno passo em pequeno passo, a agência espacial americana comemora saltos gigantescos em seu passado. Hoje, porém, não há orçamento para grandes celebrações: as conquistas que encantaram, assombraram e elevaram a humanidade perderam relevância em um cenário de retração econômica que limita o alcance de um nome associado a feitos impossíveis e inspiradores.

Escorada na disputa política com a União Soviética, a decolagem da Nasa foi fulminante. Até a conquista da Lua, em 1969, a calculadora passava longe das preocupações de seus cientistas. Assim, em uma década, inverteu o domínio espacial, ampliou o escopo da perspectiva humana e assumiu a predominância científica na área. Para isso, gastou tanto quanto foi necessário.

Mas o dinheiro não acompanhou a mudança de foco da política para a ciência. Em 1966, por exemplo, a Nasa recebia 4,4% do orçamento federal dos Estados Unidos. Em 2012, com a Guerra Fria a anos-luz de distância, teve direito a menos de 0,5% da receita total, US$ 17,7 bilhões, o equivalente à metade dos valores captados anualmente entre 1964 e 1966.

<p>Presidente americano em 1963 John F. Kennedy (dir.) recebe explicações do sistema de lançamento do foguete Saturno V</p>
Presidente americano em 1963 John F. Kennedy (dir.) recebe explicações do sistema de lançamento do foguete Saturno V
Foto: Nasa / Divulgação

Uma sequência de reduções nos últimos anos, motivada pela crise econômica e pela opinião pública, obrigou a agência a brecar investimentos em ciências, exploração e operações espaciais - as três maiores áreas em valores aplicados. Seu orçamento, que era de US$ 18,4 bilhões em 2011, caiu no ano seguinte para US$ 17,8 bilhões. Em 2013, a agência recebeu US$ 16,9 bilhões. Com isso, reduziu drasticamente suas atividades em educação - paradoxalmente, uma das iniciativas que poderiam verter a opinião pública em seu favor.

Para 2014, o projeto de lei de dotação orçamentária em tramitação no Congresso dos EUA prevê que a Nasa receba US$ 300 milhões a menos do que no exercício atual. Os números foram divulgados no início de julho, dando início a debates que envolvem a Câmara, o Senado e a Casa Branca.

Frequentemente atuando como mera espectadora do processo, a agência decidiu se pronunciar - na opinião de um de seus principais executivos. David Weaver, diretor adjunto do Departamento de Comunicações da Nasa, externou em seu blog, em 17 de julho, a profunda preocupação com o projeto de lei em análise. "Esta proposta desafia a superioridade da América na exploração do espaço, tecnologia, inovação e descoberta científica", escreveu.

Weaver declarou especial receio quanto ao corte no financiamento para a recém-criada divisão de tecnologia espacial, a Space Technology Mission Directorate, que se dedica à obtenção de novas e não testadas tecnologias para uso em missões espaciais da agência.

Cenário

É nesse cenário, com a calculadora na mão, que a Nasa busca manter e incrementar seus projetos de pesquisa e exploração espacial. Para a doutora em

Astronomia

Duilia Fernandes de Mello, tais programas ainda não estão realmente ameaçados. Pesquisadora associada da Nasa e professora da

Universidade

Católica da América, em Washington, Duilia diz que a agência norte-americana lidera as atividades espaciais mundiais e vai demorar para que qualquer outro país alcance o que ela já fez e ainda faz.

"Os cortes orçamentários foram feitos há pouco tempo, então, não se sabe o impacto disto no futuro. As missões espaciais são planejadas com muita antecedência, e as maiores missões continuam sendo construídas. A Nasa não cancelou nenhuma missão de impacto", pondera.

Leia maisEUA gastaram mais de US$ 20 mi com projetos cancelados da Nasa

<p>Os 21 espelhos do Telescópio Espacial James Webb serão capazes de detectar luzes de galáxias distantes</p>
Os 21 espelhos do Telescópio Espacial James Webb serão capazes de detectar luzes de galáxias distantes
Foto: Nasa / Divulgação

Duilia cita o projeto James Webb Space Telescope, cujo lançamento está previsto para 2018. O telescópio espacial implantará um observatório de captação da radiação infravermelha. Com isso, permitirá observar e estudar a formação das primeiras galáxias e estrelas.

Após o James Webb, a Nasa terá um intervalo sem grandes missões. Entretanto a pesquisadora salienta que a agência possui vários projetos em estudo, além de contar com uma particularidade da ciência atual: a cooperação internacional. "Precisamos ser otimistas, pois a tendência é que os países se juntem para executar missões importantes como, por exemplo, uma possível missão tripulada a Marte", avalia.

O próximo alvo

O robô Curiosity registrou os próprios rastros deixados durante trajeto no solo de Marte nesta terça-feira, 9 de julho
O robô Curiosity registrou os próprios rastros deixados durante trajeto no solo de Marte nesta terça-feira, 9 de julho
Foto: Nasa / AFP

Marte pode ser o passo seguinte a uma exploração iniciada naquele que foi o momento mais marcante da história da Nasa: o chegada à Lua, em 1969. "O ser humano é explorador por natureza, e o pouso na Lua demonstrou que podemos sair do nosso planeta e começar a explorar o universo", afirma Duilia. "Claro que não imaginávamos que, quase 50 anos depois, ainda não teríamos saído para os outros planetas, mas acredito que seja apenas uma questão de tempo", completa.

Apesar de as viagens interplanetárias terem ficado no papel, a Nasa não parou no tempo. Em seus 55 anos, não faltam exemplos de projetos de sucesso lançados ao espaço. Entre eles, as sondas Voyager ultrapassaram as três décadas de lançamento e se aproximam do fim do sistema solar, na heliopausa, ainda transmitindo dados à Terra. A Estação Espacial Internacional, nascida da parceria com a comunidade internacional, hoje está em sua 37ª expedição, sempre destacando a pesquisa científica em ambiente de microgravidade.

Para Duilia, entre os projetos da Nasa que integram sua relação de favoritos, estão o telescópio espacial Hubble e os robôs de exploração de Marte. "O Hubble, por estar acima da atmosfera, revelou detalhes do universo que não conhecíamos e ainda vem surpreendendo depois de mais de 20 anos", diz.

Quanto aos robôs, ela destaca o Spirit e o Opportunity, que passearam por Marte por 10 anos e traçaram o caminho para o último robô, o Curiosity. "Hoje sabemos muito mais sobre o passado de Marte e podemos planejar com seriedade uma ida tripulada ao planeta", afirma.

O início

Criada por lei em 29 de julho de 1958, a Nasa começa, na verdade, em 4 de outubro de 1957, data em que a então União Soviética deu início à série Sputnik de satélites artificiais. Em meio à Guerra Fria, o revés na corrida espacial significava muito mais do que avanços científicos. Até a assinatura final do presidente Dwight D. Eisenhower, sucederam-se debates sobre o formato do novo órgão, mas a sua criação era um caminho sem volta. O objetivo? A expansão do conhecimento humano sobre os fenômenos na atmosfera e no espaço. E, claro, vencer o inimigo.

 
Fonte: Edição: André Roca
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