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Estudo genético revela população africana que se pensava ter desaparecido

Um estudo linguístico e biológico de populações dos desertos de Kalahari e Namibe mostrou que, apesar da língua Kwadi ter sumido, o povo que a fala ainda existe

26 set 2023 - 19h37
(atualizado às 23h55)
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No sul da África está a maior variedade genética humana da Terra, e, segundo uma nova pesquisa, essa diversidade está melhor do que pensávamos. Entre os anos 1960 e 1970, o desaparecimento de algumas línguas no deserto de Namibe levantou suspeitas de que a população falante também houvesse se extinguido, mas sua identidade genética foi identificada recentemente, apesar da perda do idioma.

Foto: Annie Spratt/Unsplash / Canaltech

Segundo padrões antropológicos, é comum que exista maior diversidade biológica no local onde uma família ou espécie surgiu. Sabemos, por exemplo, que os humanos evoluíram a partir do continente africano mesmo sem observar registros fósseis — basta olhar para a diversidade genética da nossa espécie no continente. Isso é bem evidente ao olhar para os habitantes dos desertos do Kalahari e Namibe, no sudeste do Continente.

O Namibe é um deserto fino e longo que corre ao longo da costa da Namíbia, partes de Angola e da África do Sul. Por décadas, guerras assolaram o norte da região e atrapalharam o estudo da diversidade humana, mas equilíbrio político recente permitiu a visita da instituição luso-angolana TwinLab, que conseguiu preencher algumas lacunas e, de quebra, achar padrões da pré-história humana.

Encontrando populações desaparecidas

Um dos povos presumidamente extintos, mas reencontrados, foram os Kwepe, que falavam a língua Kwadi, linguagem de cliques que desapareceu há cerca de 50 anos. O idioma compartilhava de um ancestral comum com as línguas Khoe, faladas por forrageiros e pastores do sul da África. Entre as descobertas do projeto, estão dois sobreviventes que conseguem lembrar de grande parte da língua vivendo próximos à foz do rio Kuroka, e que foram entrevistados pelos pesquisadores.

Combinando análises genéticas com linguísticas, então, foram investigadas as relações entre os habitantes angolanos do Namibe. As maiores diferenças aparecem entre as populações com estilos de vida contrastantes, como as entre fazendeiros e pastores e destes entre caçadores-coletores. Apesar da língua Kwadi estar quase extinta, a equipe científica descobriu que os descendentes dos falantes do idioma ainda trazem a diversidade genética da época em que fazendeiros falantes de Bantu chegaram à região.

Um dos objetivos era entender o quanto da variação local seria produto da deriva genética, um processo aleatório de mudança de genes que afeta muito mais as populações pequenas, especialmente na miscigenação com as que já desapareceram. Estudos anteriores mostraram que os forrageadores do deserto do Kalahari descendem de uma população ancestral, a primeira a se diferenciar de outros humanos modernos.

Segundo os resultados da pesquisa, a população do Namibe está na mesma linhagem ancestral, mas divergiu das outras ancestralidades do sul da África, se dividindo, em seguida, entre populações do sul e do norte do Kalahari. O Namibe angolano e o norte da Namíbia são as únicas regiões onde essa ancestralidade genética sobrevive.

Por fim, foi possível reconstruir as migrações das populações da região — os falantes de Khoe-Kwadi se espalharam pelo local há cerca de 2 mil anos, provavelmente vindos de onde hoje é a Tanzânia. Comparados com os primeiros habitantes, falantes de línguas Khoe e que habitavam a área por centenas de milhares de anos, eles chegaram tarde. Os falantes de Bantu chegaram entre 200 e 500 anos depois, vindos da África Central e oriental, e divergem bastante do restante da humanidade, geneticamente falando.

Fonte: Science Advances

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