Estudo mostra a diferença genética entre órgãos masculinos e femininos
Ao observar alguns animais, muitas vezes não temos muita dificuldade em distinguir o macho da fêmea. O leão é um grande exemplo, já que a juba volumosa evidencia claramente quem é o indivíduo masculino. Particularidades como essas, que nos permitem definir pela aparência o gênero de um animal, são chamadas de dimorfismo sexual.
Agora, uma pesquisa recente decifrou, pela primeira vez, os intricados caminhos genéticos que conduzem às diferenças ligadas ao sexo em mamíferos, indo além das óbvias características presentes no dimorfismo sexual, chegando a explorar as mudanças em órgãos internos de machos e fêmeas.
Diferença genética
O desenvolvimento das características específicas do sexo — que vão desde mudanças no tamanho e coloração do corpo até nuances na composição dos órgãos internos — sempre foi um enigma. O que não sabíamos era como os "programas" genéticos diferem entre os sexos, impactando a função e a composição celular dos órgãos em mamíferos adultos.
Com base nos dados sequenciados de RNA de espécies como humanos, camundongos, ratos, coelhos, gambás e até galinhas, os pesquisadores desvendaram alguns dos segredos do desenvolvimento de órgãos como cérebro, coração, rins e fígado, que se apresentam de forma distinta entre os sexos.
Surpreendentemente, descobriram que as diferenças na expressão genética ocorrem tardiamente, na puberdade, acionadas por hormônios femininos ou masculinos. Esse padrão contrasta com o observado em galinhas, onde a maioria dos genes apresenta diferenças sexuais desde os estágios iniciais de desenvolvimento.
A pesquisa revela um panorama fascinante de rápida evolução nas características específicas do sexo, sugerindo que desafios distintos enfrentados por machos e fêmeas durante a evolução podem ser os catalisadores.
O fígado e os rins, por exemplo, apresentam diferenças notáveis na expressão genética entre os sexos, influenciando a funcionalidade desses órgãos. Essas diferenças, embora invisíveis para quem olha de fora, tornam-se cruciais para médicos e cientistas, explicando, por exemplo, por que certas doenças hepáticas e renais afetam mais homens do que mulheres.
Sexo e biomedicina
A urgência de abordar a histórica exclusão das mulheres na pesquisa médica, e a subsequente negligência de questões de saúde específicas, torna-se evidente à medida que avançamos na compreensão do dimorfismo sexual. Este estudo não apenas esclarece os mecanismos genéticos subjacentes, mas destaca a necessidade crescente de uma abordagem mais atenta ao sexo na ciência biomédica.
O avanço no conhecimento de como nosso corpo funciona pode gerar medicamentos mais eficazes no futuro. Basta cogitar que, sabendo que o fígado do homem tem características distintas do fígado de uma mulher, os cientistas poderão criar remédios com respostas mais certeiras às doenças que atacam esses indivíduos.
A pesquisa, publicada na revista Science, mostra que o estudo da genética não só aumenta nosso entendimento das características visíveis e invisíveis, mas também destaca a importância de olhar para além da superfície para compreender completamente a complexidade dos organismos e como podemos nos aproveitar desse conhecimento.