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Estudo sobre risco da cloroquina é tirado do ar por autores

Pesquisadores retiram do ar pesquisa com 96 mil pacientes que mostrava riscos cardíacos da droga contra o novo coronavírus; cientistas dizem não poder garantir a veracidade da base de dados utilizada

4 jun 2020 - 16h17
(atualizado às 16h38)
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Remédios à base de cloroquina e hidroxicloroquina
Remédios à base de cloroquina e hidroxicloroquina
Foto: Roberto Costa/Código19 / Estadão Conteúdo

O controverso estudo publicado em 22 de maio na revista 'The Lancet' com mais de 96 mil pacientes internados que havia concluído que o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina em pacientes com o novo coronavírus, mesmo quando associados a outros antibióticos, aumenta o risco de morte e de arritmia cardíaca nos infectados pela covid-19, foi retirado de circulação nesta quinta-feira, 4, por três de seus quatro autores. 

O estudo havia motivado a suspensão, por parte da Organização Mundial de Saúde, de uma pesquisa mundial com a drogas, mas uma série de suspeitas foi levantada sobre a base de dados, o que fez a OMS retomar nesta quarta os testes clínicos com a substância. Ainda na terça, a 'Lancet' havia divulgado um "manifesto de preocupação" a respeito do estudo. E agora os cientistas se manifestaram publicamente afirmando que não tiveram condições de confirmar a veracidade dos dados apresentados.

A pesquisa publicada na 'Lancet' tinha sido apresentada como a maior já realizada sobre os efeitos que essas substâncias têm no tratamento do coronavírus, de modo observacional. Ela foi feita a partir de uma base de dados da Surgisphere Corporation, uma pequena empresa americana que apresentou informações de diversos hospitais de vários países. O fundador da empresa, Sapan Desai, apareceu como co-autor do trabalho.

Os outros três autores, Mandeep Mehra, Frank Ruschitza e Amit Patel, afirmam en nota divulgada nesta quinta pela 'Lancet', que lançaram uma revisão independente, por uma terceira parte dos dados da Surgisphere, com o consentimento de Desai, "para avaliar a origem dos elementos da base de dados, para confirmar que estavam completos e também para replicar as análises apresentadas no estudo."

Na nota, os pesquisadores dizem que os revisores informaram que a Surgisphere não transferiria toda a base de dados e os contratos dos clientes porque isso "violaria os acordos de confidencialidade". Sendo assim, dizem que não foi possível "conduzir uma revisão independente e privada" e que os revisores iam se retirar do processo. 

"Sempre desejamos realizar nossa pesquisa de acordo com as mais altas diretrizes éticas e profissionais. Nunca podemos nos esquecer da responsabilidade que temos, como pesquisadores, de garantir escrupulosamente que nós nos calçamos em bases de dados que aderem aos nossos altos padrões. Com base nesse desenvolvimento, não podemos mais garantir a veracidade das fontes de dados primárias. Devido a esse desenvolvimento infeliz, os autores solicitam a retirada do artigo", escreveu o trio.

"Todos nós entramos nessa colaboração para contribuir de boa fé e em um momento de grande necessidade durante a pandemia de covid-19. Lamentamos profundamente a vocês, editores e leitores da revista por qualquer constrangimento ou inconveniência que isso possa ter causado."

Estadão
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