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Evangelho de Barnabé opõe fé cristã e islâmica sobre história de Jesus

Polêmico texto apócrifo mostra ponto de vista islâmico sobre Cristo

25 jun 2013 - 13h59
(atualizado às 14h19)
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Os evangelhos apócrifos ocupam um lugar à margem da história cristã. Além das 27 escrituras do Novo Testamento, a Igreja Católica rejeita os textos que versam sobre a vida de Jesus. Entre os mais conhecidos, estão os evangelhos de Tomé, Tadeu, André, Nicodemos, Judas e Barnabé.

Autoridades turcas acreditam que essa possa ser uma versão autêntica do evangelho escrito pelo discípulo Barnabé
Autoridades turcas acreditam que essa possa ser uma versão autêntica do evangelho escrito pelo discípulo Barnabé
Foto: Daily Mail / Reprodução

Existe alguma evidência de que Jesus era casado?

De vez em quando, um deles volta à tona. Após o livro Código Da Vinci, de Dan Brown, de 2003, só se falava no texto atribuído a Judas. Recentemente, foi a vez de Barnabé ganhar destaque, depois de uma agência de notícias iraniana ter anunciado, com estardalhaço, que um documento encontrado na Turquia destruiria a base da crença cristã.

Mas não foi assim. Havia dois manuscritos conhecidos do evangelho de Barnabé, um em espanhol e um em italiano. Até que, em 2000, surgiu uma versão diferente, redigida em couro, na Turquia. O texto despertou a curiosidade de historiadores e do meio acadêmico. Escrito no idioma siríaco, um dialeto do aramaico, o livro está no Museu Etnográfico de Ancara, na Turquia, e, por ter sido considerado original por peritos (daquele país), teve valor estimado em mais de 20 milhões de euros (aproximadamente R$ 56 milhões).

Um suposto pedido da Igreja Católica para analisar o documento provocou ainda maior expectativa quanto ao conteúdo. Mas, segundo o pesquisador em História Antiga Marcio Loureiro Redondo, doutor pela Escola de Arqueologia e Estudos Orientais da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, a escritura conhecida atua em conformidade com o ponto de vista islâmico sobre Jesus.

Ele diz que pesquisas de historiadores, incluindo muçulmanos, revelaram que o texto foi escrito por um autor islâmico que viveu nos primórdios do islamismo, ainda no século 7 da era cristã. “Um dos aspectos centrais da fé islâmica é a crença num Deus misericordioso, e esse detalhe se destaca no Evangelho de Barnabé”, explica.

Islamismo

Redondo lembra que, para avançar em regiões de população predominantemente cristã, o islamismo precisava oferecer a sua versão sobre Jesus. É nesse contexto que surgiu o Evangelho de Barnabé, que procura apresentar uma visão islâmica sobre o cristianismo e reforçar a ideia da superioridade do islamismo - inclusive dizendo que Jesus foi um profeta que predisse a vinda de um profeta ainda mais importante: Maomé.

Outro ponto conhecido da escritura indica que Jesus ascendeu vivo ao céu, sem ter sido crucificado, e que Judas Iscariotes teria sido crucificado em seu lugar. O texto também critica o apóstolo Paulo, que seria um enganador.

Segundo Redondo, as chances de o texto revelar dados confiáveis e factuais sobre a vida de Jesus são remotas. Embora avalie que o assunto exija cautela pela ausência de dados concretos, o pesquisador acredita que o texto já conhecido foi composto com o intuito de converter cristãos ao islamismo, oferecendo-lhes uma visão islâmica da pessoa de Jesus.

História

Para o historiador, no entanto, o enfoque, seja muçulmano ou cristão, não significa que o texto não traga elementos históricos. Ele salienta que achados de qualquer natureza, não apenas religiosos, sempre têm algo a dizer sobre nossa própria história, confirmando o que já se sabe ou acrescentando fatos desconhecidos.

Como exemplo de achado importante, ele menciona o fragmento de pedra monumental em que aparece o nome de “Pôncio Pilatos”. Durante muito tempo questionou-se a sua existência, a qual acabou confirmada em 1961, com a descoberta em Cesareia Marítima, em Israel. “Isso reforça a ideia de que o Novo Testamento deve ser levado a sério como documento histórico”, conclui.

O Evangelho de Tomé também merece atenção. Segundo o pesquisador, o texto oferece um testemunho de primeira mão sobre a existência e crenças de grupos de cristãos gnósticos - assim chamados aqueles que se distanciaram do cristianismo majoritário, cuja aceitação recai somente sobre os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João.

Tais grupos foram formados a partir da chegada do cristianismo ao mundo greco-romano, onde a filosofia grega tinha enorme presença e onde também as mais variadas religiões eram aceitas. Conforme Redondo, isso levou a um choque de ideias. “Alguns rechaçaram por completo as ideias cristãs. Outros passaram a aceitá-las”, conclui.

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