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'Grande ameaça à saúde pública': cientistas descobrem mutação resistente a remédio contra a malária

Pesquisadores em Ruanda descobriram casos de resistência à artemisinina, um medicamento de primeira linha usado para tratar a malária.

7 ago 2020 - 09h07
(atualizado às 09h20)
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O parasita da malária é transmitido pela picada de mosquitos infectados.
O parasita da malária é transmitido pela picada de mosquitos infectados.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Pesquisadores em Ruanda identificaram uma cepa do parasita causador da malária que é resistente a medicamentos.

O estudo, publicado na revista Nature, revelou que os parasitas eram capazes de resistir ao tratamento com a artemisinina, um remédio de linha de frente na luta contra a doença.

Esta é a primeira vez que cientistas observam resistência ao medicamento artemisinina na África.

Os pesquisadores alertam que isso "representaria uma grande ameaça à saúde pública" no continente.

Cientistas do Instituto Pasteur, em colaboração com o Programa Nacional de Controle da Malária em Ruanda (Rwanda Biomedical Center), a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Cochin Hospital e a Columbia University (em Nova York, nos EUA) analisaram amostras de sangue de pacientes em Ruanda.

Eles encontraram uma mutação específica do parasita, resistente à artemisinina, em 19 de 257 (ou 7,4%) dos pacientes em um dos centros de saúde que eles monitoraram.

Segundo a OMS, a malária causou a morte de 405 mil pessoas em todo o mundo, em 2018.

Evolução de parasitas

No artigo, os cientistas alertaram que os parasitas da malária que desenvolveram resistência a medicamentos anteriores são "suspeitos de terem contribuído para milhões de mortes adicionais por malária em crianças africanas na década de 1980".

Quando o primeiro medicamento contra a malária, a cloroquina, foi desenvolvido, os pesquisadores pensaram que a doença seria erradicada em poucos anos.

No entanto, desde 1950 os parasitas evoluíram para desenvolver resistência a sucessivas drogas.

Retrocesso

O repórter de saúde e ciência da BBC, James Gallagher, avalia que "este é um momento profundamente preocupante e altamente significativo", e que marca um retrocesso no combate à malária.

Ele aponta que a resistência à artemisinina não é nova, pois tem sido vista em partes do Sudeste Asiático por mais de uma década. Em algumas regiões, 80% dos pacientes estão infectados com parasitas da malária que resistem ao tratamento.

"Mas a África sempre foi a maior preocupação. É onde ocorrem mais de nove em cada dez casos da doença", ele diz.

Segundo ele, parece que o que houve foi que a resistência evoluiu em parasitas da malária na África, e não que tenha se espalhado do Sudeste Asiático para o continente africano.

"O resultado, porém, é o mesmo: a malária está ficando mais difícil de tratar."

Ilustração mostra hemáceas infectadas por parasita da malária
Ilustração mostra hemáceas infectadas por parasita da malária
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A infecção por malária é agora comumente tratada com uma combinação de dois medicamentos: artemisinina e piperaquina.

Mas, os parasitas da malária começaram a desenvolver resistência à artemisinina, o que foi registrado pela primeira vez em 2008 no sudeste da Ásia.

Na época, os cientistas temiam que a resistência à artemisinina também pudesse ocorrer na África e ter consequências devastadoras. Agora, a pesquisa indica que esses temores podem ter se concretizado.

Em 2018, os países africanos responderam por mais de 90% das mais de 400 mil mortes por malária registradas, sendo as crianças o contingente mais afetado.

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