Grupo de japoneses sobreviventes da bomba atômica ganha o Nobel da Paz
O coletivo Nihon Hidankyo foi escolhido pela sua luta pela eliminação das armas nucleares em todo o mundo.
O Nihon Hidankyo, coletivo formado por japoneses sobreviventes às bombas atômicas de Nagasaki e Hiroshima, foi anunciado nesta sexta-feira (11/10) como ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2024.
O Comitê Norueguês que decide o vencedor do Nobel da Paz justificou a premiação do grupo, fundado em 1956, pelo seu esforço na eliminação das armas nucleares em todo o planeta.
O presidente do Comitê, Joergen Watne Frydnes, disse que o Nihon Hidankyo tem prestado "uma enorme contribuição para a necessidade de banir as armas nucleares".
Frydnes ressaltou que o chamado "tabu nuclear" estava agora "sob pressão" — e elogiou o uso feito pelo grupo de depoimentos de testemunhas vítimas das bombas para garantir que armas nucleares não voltem jamais a ser utilizadas.
O Instituto Norueguês para o Nobel anunciou que foram indicados 286 candidatos para o Prêmio deste ano, incluindo 197 indivíduos e 89 organizações.
As indicações para o Nobel podem ser feitas diretamente por pessoas que ocupem cargos de autoridade significativa, incluindo membros de Parlamentos, Assembleias Nacionais, governos ou cortes internacionais de Justiça.
Em 2023, a vencedora foi a iraniana ativista de direitos humanos Narges Mohammadi. Ela foi escolhida por sua luta contra a opressão de mulheres no Irã.
Menos polêmico
O Nihon Hidankyo envia sobreviventes das bombas nucleares no Japão para darem palestras e depoimentos no mundo todo sobre o sofrimento causado por armas nucleares.
O trabalho começou pouco mais de uma década depois das bombas que arrasaram Hiroshima e Nagasaki, em 1945.
Em 6 de agosto de 1945, um avião militar americano jogou uma bomba de urânio em Hiroshima, matando 140 mil pessoas.
Três dias depois, uma segunda bomba foi jogada em Nagasaki. Duas semanas depois o Japão se rendeu, colocando fim à Segunda Guerra Mundial.
Em entrevista a repórteres no Japão, o co-diretor do grupo, Toshiyuki Mimaki, disse, em meio a lágrimas: "eu nunca sonhei que isso pudesse acontecer".
Mimaki criticou a ideia de que armas nucleares podem trazer paz.
"Já foi dito que por causa das armas nucleares, o mundo mantém a paz. Mas armas nucleares podem ser usadas por terroristas", disse Mimaki, segundo a agência AFP.
A decisão de dar o prêmio ao Nihon Hidankyo significa que o comitê do Nobel evitou entrar em polêmicas maiores.
Especulou-se que a agência da ONU que fornece ajuda aos palestinos, a UNWRA, seria considerada para o prêmio Nobel da Paz.
Apesar de a organização ser a principal fornecedora de ajuda humanitária a civis em Gaza, nove de seus integrantes foram demitidos por suposto envolvimento nos ataques do Hamas contra Israel em 7 de outubro do ano passado.
Mais de 12 mil pessoas assinaram um abaixo-assinado pedindo que o Nobel fosse dado à UNWRA.
Também houve polêmica sobre a nomeação da Corte Internacional de Justiça. O órgão, que é o principal braço de Justiça da ONU, está avaliando acusações contra Israel de que o país teria cometido genocídio em Gaza, e já emitiu uma nota na qual pede que autoridades israelenses evitem atos genocidas. A Corte tem sido fortemente criticada por Israel, mas apoiada por diversos outros países e entidades.
Apesar de o prêmio ao Nihon Hidankyo ser considerado menos polêmico, ele também traz atenção do mundo à ameaça de um conflito nuclear, o que está sempre pairando sobre as tensões na Ucrânia e no Oriente Médio.
Durante a invasão da Rússia à Ucrânia, os líderes russos têm feito repetidas sugestões de que poderiam estar prontos para usar armas nucleares táticas se parceiros ocidentais da Ucrânia aumentarem seu apoio ao país.
Essas ameaças têm sido bem-sucedidas em limitar o apoio ocidental à Ucrânia, por temores de uma escalada de violência.
No Oriente Médio, a estratégia de Israel é por vezes interpretada como um temor de que o Irã possa desenvolver armas nucleares, algo que o governo de Teerã nega.
A decisão do comitê do Nobel renova esse debate sobre uso de armas nucleares, em um momento em que os países que não têm essa tecnologia olham com inveja para os que têm.