Hipnose no Enem: youtuber garante que técnica psíquica pode dobrar desempenho na prova
"Não é mágica nem milagre, mas apenas uma ferramenta da ciência para extrair o máximo que o candidato conseguiu aprender", diz Pyong Lee, que tem 4,1 milhões de seguidores; coordenador de cursinho afirma que técnica não é levada a sério no mundo acadêmico.
Em uma sala, com dezenas de desconhecidos, o estudante coloca à prova - em poucas horas - anos de estudo e dedicação. É o que acontecerá no próximo domingo com mais de seis milhões de brasileiros, que deverão fazer a segunda fase do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, usado como processo seletivo para dezenas de universidades públicas e privadas.
Além da dificuldade da prova, muitos estudantes enfrentam a tensão e a dificuldade de controlar seus nervos durante o teste. Mas, para alguns, a solução para o mal-estar e a chance de turbinar o desempenho podem estar, literalmente, num estalar de dedos.
É isso o que promete Pyong Lee, youtuber brasileiro que faz sucesso nas redes sociais com técnicas de hipnose. Em vídeos em seu canal, assinado por 4,1 milhões de seguidores, ele garante que o estudante pode fazer sumir todos ao seu redor, silenciar o ambiente e, assim, se concentrar de forma plena em seu teste.
Para provar que a solução funciona, Lee já hipnotizou famosos como o cantor Mr. Catra e o apresentador Celso Portiolli. Ele diz que as sessões são capazes de acalmar, reduzir a ansiedade e aumentar significativamente a concentração dos candidatos a ponto de dobrar a quantidade de acertos em exames.
O youtuber diz que há diversas técnicas de hipnose.
"O terapeuta vai induzir a pessoa ao estado de relaxamento durante as sessões - o que a gente chama de transe hipnótico. Isso o faz transitar entre diferentes estados emocionais e de relaxamento. Nesse momento, ele ativa o gatilho - o disparador desse transe - e, a partir disso, o paciente poderá ativar o transe em qualquer lugar", diz Pyong Lee.
"E não precisa ser num ambiente silencioso. Pode ser até numa balada, ainda assim a pessoa ficará concentrada."
Uma das técnicas permite que o paciente em transe se visualize no momento da prova, como se ele tivesse na sala de testes semanas antes de visitá-la. A intenção é fazer com que na hora do exame a pessoa se sinta familiarizada com o ambiente e fique mais calma. A mesma estratégia é usada para quem tem medo de avião ou sofre de fobias sociais, como temor de apresentações em público.
Lee diz que uma simples sessão de hipnose pode permitir que o estudante ative o gatilho.
Outros usos
Especialistas ouvidos pela BBC Brasil afirmam que a hipnose também é usada por pessoas que querem sentir menos dor no parto ou parar de fumar. Segundo o psiquiatra Thiago Moraes, da Associação Brasileira de Psiquiatria, atletas usam hipnose em momentos de grande concentração e pressão, como antes da cobrança de um pênalti no futebol ou para praticar tiro esportivo.
Eles dizem ainda que a hipnose pode ser usada para ajudar a dormir ou para dar uma "injeção mental" de adrenalina.
"A pessoa pode ativar um gatilho para que ela se sinta como se tivesse tomado um energético e fique pilhada. Você consegue acessar praticamente qualquer comando no seu subconsciente com a hipnose. Basta programá-lo para isso", explica Lee.
Moraes ensina uma técnica rápida de hipnose para melhorar o desempenho nos vestibulares.
"No dia da prova, o candidato deve entrar em um cômodo vazio, com temperatura agradável, luminosidade baixa e fechar os olhos. Ele deve fazer respirações profundas enquanto visualiza todo o ano de estudo. Deve se lembrar dos livros que usou, suas capas e folhas, além dos exercícios que fez e os ambientes onde estudava", indica o psiquiatra.
"Isso trará ao estudante uma sensação de conforto. Na hora da prova, ele deve lembrar desse ambiente para retomar durante o teste a sensação de tranquilidade. Isso aumentará a confiança e fará com que o exame pareça simples", diz.
Segundo o psiquiatra, fazer ao menos uma pausa durante a prova, voltar a fechar os olhos e fazer essa mesma respiração profunda ajuda os candidatos a evitar o "branco" na hora do vestibular. "Quando a gente começa a refazer os caminhos do estudo, a gente se lembra de detalhes que foram vistos em aulas e leituras", afirma.
Funciona ou não?
De acordo com Moraes, há pelo menos 700 estudos científicos que atestam - em algum grau - a eficácia da técnica. Ele diz que exames de ressonância magnética e PET scam feitos com pessoas em transe comprovam sua eficácia.
"A hipnose permite que você tenha acesso profundo a algumas áreas do cérebro que controlam as emoções e dores. Isso faz com que a região do córtex cingulado anterior - responsável pelas atividades críticas e autoavaliativas - diminua sua intensidade de ação. Desta forma, o paciente consegue se concentrar em objetivos que exigem grande concentração, como atividades esportivas, entrevistas de emprego, discursos em público e provas", explica.
Ele conta que não há nenhuma contraindicação para a prática da hipnose - mas diz que esquizofrênicos e pessoas com deficiência mental não conseguem entrar em transe.
Já Daniel Perry, coordenador do Anglo Vestibulares, afirma que em 15 anos nunca recomendou hipnose aos estudantes porque não conhece nenhum caso de sucesso do método.
"Não sei de nenhum aluno que foi aprovado em universidades de alto nível que teve um aumento significativo em seu desempenho por causa da hipnose. Pode ser que tenha alguém, mas eu não conheço", diz.
As dicas de Perry são convencionais: ele recomenda apenas que o candidato faça exercícios leves na véspera da prova, como caminhadas, tenha uma alimentação saudável e descanse bastante. Ele ainda indica assistir a filmes e se encontrar com familiares e amigos.
"A gente trabalha de maneira tradicional. Recomendamos estudo intenso durante todo o ano com horas para descanso e lazer, pois é importante o aluno cuidar da sua saúde física e mental. Mas no dia anterior o melhor é relaxar", afirmou Daniel Perry.
Caso a ansiedade persista, Perry indica que o candidato leia as apostilas e cadernos usados para estudar ao longo do ano. "Mas a gente não recomenda que ele tente responder questões porque ele pode se deparar com alguma que não sabe e isso vai aumentar sua ansiedade ainda mais", afirma.
Para Lee, no entanto, a hipnose pode sim melhorar a vida de quem é testado.
"O candidato pode ativar esse gatilho pouco antes da prova. Funciona como o botão de uma máquina. Não é mágica nem milagre, mas apenas uma ferramenta da ciência para extrair o máximo que o candidato conseguiu aprender. É claro que se ele não estudar e não tiver o conhecimento, não vai ter o que aplicar", diz.
Amigo de Lee, o hipnólogo Rafael Baltresca também tem um canal no YouTube com 435 mil seguidores. Um de seus vídeos mais vistos é de técnicas de hipnose para se concentrar nos estudos.
Nos comentários, seus seguidores dizem que fizeram a técnica proposta e deu certo. "Muito obrigada, eu estava precisando me concentrar ainda mais nos estudos. Quando você falou em pensar sobre o futuro, chorei, pois me consegui ver num lugar que eu era incapaz de ver. Me senti orgulhosa por ter conseguido realizar meus sonhos", disse uma delas.
Mestre em filosofia do direito e campeão latino americano de memória, o hipnólogo Alberto Dell'Isola tem mais de 130 vídeos no YouTube para ensinar hipnose.
Assim como os psiquiatras e outros especialistas na técnica, ele alerta que a técnica só pode se realizar com a anuência de quem será hipnotizado e que não há risco de alguém entrar em um transe tão profundo a ponto de perder completamente o controle de suas ações.
Cada pessoa tem um ritmo para acessar o transe. Por isso, algumas sessões podem demorar de 5 a 50 minutos, dependendo do trabalho que o psiquiatra terá para explicar a técnica e convencer a pessoa a ser hipnotizada.
"A pessoa sempre está ouvindo tudo e vai filtrar o que ela quer e sai do processo quando quiser. O paciente mantém o crivo de julgamento porque seus princípios fundamentais são mantidos. Se for pedido algo que vá contra o princípio do paciente, como pedir sua senha do banco, ele desperta", diz o psiquiatra Thiago Moraes.
O transe, eles explicam, é um estado ampliado de consciência e voltado para a interior do paciente, como se ele fizesse uma viagem para dentro de si.