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Memória humana tem o “defeito” de reescrever o passado, aponta estudo

A memória não funciona como uma câmera de vídeo, que armazena perfeitamente informações. Ela reescreve o passado, a partir de experiências recentes, segundo estudo da Northwestern University

4 fev 2014 - 20h00
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Todos sabemos que nossa memória não é perfeita. Esquecer detalhes ou episódios inteiros de algo que já vivemos é comum. Mas e se, mais que esquecer e apagar fragmentos, nosso cérebro também reescreva e altere o passado com elementos do presente? Essa é a hipótese lançada por um estudo da Northwestern Medicine Feinberg School of Medicine, de Chicago, EUA.

A grande descoberta é que, ao contrário do que se imagina, a memória não tem a precisão de uma câmera de vídeo. Ela reescreve o passado, usando informações atuais e atualizando as lembranças com novas experiências.

O estudo, que será publicado amanhã no Journal of Neuroscience, é o primeiro a mostrar especificamente que a memória estaria com defeito, e como ela pode inserir informações do presente em lembranças passadas, quando são recuperadas. O estudo indica o ponto exato no tempo em que a informação, de forma incorreta, é implantada em uma memória existente.

A autora do estudo, Donna Jo Bridge, pós-doutora em ciências sociais médicas, explica que, para nos ajudar a sobreviver, a memória se adapta a um ambiente em constante mudança e nos ajuda a lidar com o que é importante agora. "Nossa memória não é como uma câmera de vídeo", disse Bridge. “Ela reformula e edita eventos para criar uma história adequada à realidade atual".

A “edição” da memória acontece no hipocampo, que, segundo a pesquisa, funciona como um editor de filmes e uma equipe de efeitos especiais.

Para realizar o estudo, 17 pessoas estudaram 168 objetos, dispostos em uma tela de computador, com variadas imagens de fundo. Os cientistas observaram a atividade cerebral dos participantes, assim como o movimento dos olhos.

Os participantes tinham que colocar o objeto no local original, mas com uma nova tela de fundo. O que se verificou foi que os objetos sempre eram colocados em um local incorreto.

"Eles sempre escolhiam o local que já haviam selecionado na etapa anterior", explica Bridge. "Isso mostra que sua memória original do local foi alterada para remeter a localização que lembravam na nova tela de fundo. As memórias deles atualizaram as informações, inserindo as novas informações na memória anterior".

O autor sênior do estudo, Joel Voss, afirma que a noção de uma memória perfeita é um mito. "A memória é projetada para nos ajudar a tomar boas decisões no momento e, portanto, tem que estar atualizada. Uma informação que é relevante agora pode substituir outra que já que estava lá".

Bridge acrescenta que o estudo pode ter implicações para depoimentos de testemunhas, por exemplo. "Nossa memória é construída para mudar, não somente relatar fatos, sendo assim, não somos testemunhas muito confiáveis ", concluiu.

Fonte: Terra
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