Mistério em torno de pintura encontrada na Antártida é desvendado
Imagem de pássaro morto descoberta numa pequena cabana no Polo Sul em meio a fezes de pinguim, foi pintada por cientista da equipe de explorador britânico Robert Scott, que teve fim trágico.
O mistério em torno de uma linda aquarela mostrando um pássaro morto descoberta numa antiga cabana na Antártida foi desvendado.
A pintura, de uma trepadeira-do-bosque, estava numa cabana construída por exploradores noruegueses e que depois foi usada pela trágica Expedição Terra Nova, empreendida em janeiro de 1912 - que resultou na morte do capitão britânico Robert Falcon Scott e mais quatro exploradores quando tentavam retornar do Polo Sul.
A imagem foi encontrada numa pilha de papéis cobertos de mofo e fezes de pinguins. Acredita-se que fora pintada por um dos integrantes da equipe de Scott, o médico, ornitólogo e especialista em história natural britânico Edward Wilson.
Josefin Bergmark-Jimenez, da ONG neozelandesa Antarctic Heritage Trust (voltada para a preservação da história dos grandes conquistadores da Antártida), descreveu a descoberta como o "maior momento" de sua carreira.
"Havia esta linda pintura, minha surpresa foi tamanha que dei um salto. Então levei ela para fora e não conseguia parar de olhar para ela - as cores, a vitalidade, é uma peça tão bonita".
"Não podia acreditar que estivesse lá", acrescentou.
A descoberta ocorreu no ano passado, mas tinha sido mantida em segredo para que conservadores pudessem restaurar cerca de 1.500 artefatos de duas cabanas construídas por exploradores noruegueses em Cape Adare, em 1988. A pintura tem a inscrição "1899 Tree Creeper" (trepadeira-do-bosque) junto da inicial T.
De início, os especialistas não conseguiam identificar o artista, mas após visitar uma palestra sobre Edward Wilson e ver outros trabalhos seus, Bergmark-Jimenez se deu conta de que a pintura só poderia ser dele.
"Assim que vi sua grafia característica, sabia que ele tinha pintado o pássaro. Isto fez sentido, já que havia um artigo de jornal de 1911 sobre o grupo de Scott que foi para a Antártida através da Nova Zelândia (na pilha de papéis)".
Wilson nasceu em 1872 em Cheltenham, na Inglaterra, onde uma galeria de arte e museu levam o seu nome e exibem coleções permanentes de seu trabalho. Sua estátua de bronze, criada pela viúva de Scott, Kathleen Scott, fica em frente à prefeitura da cidade. Uma escola primária em Paddington, em Londres, também tem seu nome.
Lizzie Meek, da Antarctic Heritage Trust, conta que Dr Wilson era um homem notável. "Ele não era apenas um pintor talentoso, mas um cientista e um médico que foi integrante essencial das duas expedições de Scott (ao continente antártico, em 1911 e 1912)."
A ambientalista Josefin Bergmark-Jimenez explica por que a pintura está em condições tão boas. "As aquarelas são muito suscetíveis à luz, então o fato de este trabalho ter passado 100 anos escondido entre outros papéis em meio a condições de frio e escuridão foi o ideal para conservá-lo".
Não se sabe por que e como a pintura foi deixada na cabana, já que a trepadeira-do-bosque é um pássaro do Hemisfério Norte. "É provável que Wilson tenha feito a pintura quando estava se recuperando de tuberculose na Europa".
Mas o pássaro nunca "voará" de volta para o norte, já que todos os artefatos serão retornados à cabana após sua restauração; ela tem o status de Área de Proteção Especial da Antártida.
Especialistas, entretanto, fizeram uma reprodução de alta qualidade da pintura para o Museu de Canterbury, em Christchurch (Nova Zelândia).