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Mundo perdeu a chance de uma recuperação verde da pandemia

15 jun 2022 - 14h57
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Relatório alerta que, apesar de governos terem prometido impulsionar energias renováveis após a crise da covid-19, maioria dos países voltou a buscar fontes de combustíveis fósseis e a queimar mais carvão e petróleo.Mesmo com o crescimento recorde de energia renovável no ano passado, os combustíveis fósseis continuam a dominar o uso de eletricidade no mundo.

As emissões de dióxido de carbono ligadas à energia dispararam no ano passado para um recorde de 36,3 bilhões de toneladas métricas
As emissões de dióxido de carbono ligadas à energia dispararam no ano passado para um recorde de 36,3 bilhões de toneladas métricas
Foto: DW / Deutsche Welle

Em seu relatório anual sobre o setor de energia renovável, o think tank REN21 afirma que a participação geral das energias renováveis no consumo global de energia praticamente estagnou, tendo aumentado apenas oito pontos percentuais na última década.

O setor, que forneceu cerca de 20% das necessidades energéticas mundiais em 2011, respondeu por apenas pouco mais de 28% em 2021 - apesar do aumento dos investimentos nesse período.

Os ganhos obtidos em 2021 foram ofuscados por um aumento estimado de 4% no consumo de energia global, à medida que o mundo começou a se recuperar lentamente dos lockdowns impostos devido à pandemia de covid-19 - um aumento impulsionado principalmente pelos combustíveis fósseis, como o carvão e o gás natural.

"Embora muitos mais governos tenham se comprometido em zerar a emissão líquida de gases de efeito estufa em 2021, a realidade é que, em resposta à crise energética, a maioria dos países voltou a buscar novas fontes de combustíveis fósseis e a queimar ainda mais carvão, petróleo e gás natural", disse Rana Adib, diretora executiva do REN21, antes da divulgação do relatório.

O resultado é que as emissões de dióxido de carbono ligadas à energia dispararam no ano passado para um recorde de 36,3 bilhões de toneladas métricas - 6% acima de seu nível mais alto da história, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

Falha na recuperação verde

Cerca de 366 bilhões de dólares foram investidos no setor de energia renovável em 2021, de acordo com números fornecidos pelo REN21. A cifra representa um crescimento pelo quarto ano consecutivo. E pela primeira vez, mais de 10% da eletricidade do mundo foi fornecida por energia solar e eólica.

Mas esses investimentos foram baixos em comparação com os subsídios de combustíveis fósseis, que totalizaram 18 trilhões de dólares entre 2018 e 2020 - sendo 5,9 trilhões de dólares somente em 2020.

"Os governos falharam grandemente em fazer da descarbonização um foco em seus pacotes de recuperação econômica pós-pandêmica, com apenas uma pequena fração dos bilhões gastos dedicada a acelerar a transição energética para reduzir as emissões", escreveu a Climate Action Tracker, uma coalizão independente de pesquisa, em uma análise recente. "Em vez disso, eles perderam uma oportunidade maciça, gastando a maior parte desses pacotes na manutenção do status quo."

Isso ficou claro antes da última conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, a COP26, em novembro do ano passado. Das muitas promessas de emissão zero feitas antes da cúpula crucial, apenas 84 países tinham metas de usar energia renovável em todos os setores da economia, e apenas 36 de obter 100% de sua energia de fontes renováveis.

A avaliação da Climate Action Tracker foi compartilhada por três acadêmicos da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, em um artigo publicado em março na revista científica Nature.

"Os investimentos verdes de hoje são proporcionalmente menores do que os que se seguiram às recessões anteriores", afirmaram. "Após a crise financeira global em 2007-2009, por exemplo, 16% dos gastos de estímulo global foram direcionados para cortes de emissões (ou cerca de 520 bilhões de dólares de um total de 3,25 trilhões de dólares). Se uma parcela semelhante tivesse sido prometida hoje, o total seria de 2,2 trilhões de dólares - mais que o dobro do que foi prometido para a redução de emissões."

Guerra desestabiliza ainda mais o mercado

A invasão da Ucrânia pela Rússia e as consequentes sanções internacionais contra Moscou agravaram a crise energética global e ameaçaram cortar as exportações de gás natural e petróleo, especialmente na Europa.

Embora a União Europeia (UE) tenha concordado no início deste mês em proibir cerca de 90% das importações de petróleo russo nos próximos oito meses, alguns países - como Hungria, Eslováquia e República Tcheca - disseram que não poderiam suspender totalmente a compra. E Bruxelas ainda não descobriu como reduzir sua dependência do gás russo, sendo a Alemanha um dos maiores compradores.

Cerca de 58% de quase 2 mil empresas alemãs disseram que não seriam capazes de substituir o gás fóssil a curto prazo, enquanto 14% viram uma queda na produção desde o início da guerra, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Alemão de Pesquisa de Emprego (IAB, na sigla em alemão).

Rana Adib, do REN21, afirma que os desenvolvimentos recentes apenas frisaram a necessidade de uma rápida transição global para as energias renováveis, chamando-as de "a solução melhor e mais acessível para enfrentar as flutuações de preço da energia", bem como uma forma de proporcionar independência energética.

Em entrevista à DW em setembro passado, após as eleições federais na Alemanha, Adib disse que o país precisa assumir a liderança na "transição de uma economia baseada em combustíveis fósseis para uma economia baseada em energias renováveis" - mas lembrou que ainda há um longo caminho a percorrer.

"[A transição] precisa estar ancorada em uma atividade econômica e em uma atividade política. E a Alemanha, que tem sido uma vanguarda histórica em termos do desenvolvimento da transição energética, claramente tem hoje a grande tarefa de assumir a liderança e impulsionar a transição integrada [...] mas também ser uma inspiração para outros governos globalmente."

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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