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O dia em que a CIA sequestrou uma nave espacial da União Soviética

Em uma noite entre os anos de 1959 e 1960, quatro agentes da inteligência dos EUA se apoderaram de uma sonda soviética por oito horas, sem serem notados.

7 abr 2018 - 09h09
(atualizado às 10h09)
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Durante giro internacional em que a União Soviética exibiu seus feitos espaciais, agentes americanos sequestraram uma nave do programa Luna
Durante giro internacional em que a União Soviética exibiu seus feitos espaciais, agentes americanos sequestraram uma nave do programa Luna
Foto: CIA / BBC News Brasil

Pouco mais de 8 horas: esse foi o tempo que quatro agentes da CIA (agência de inteligência americana) tiveram para desarmar, fotografar e remontar uma famosa nave espacial soviética. Sem deixar rastros.

Isso aconteceu há cerca de 60 anos - em algum momento entre 1959 e 1960, mas documentos secretos da agência não deixam claro uma data mais exata. O período era de tensão entre os Estados Unidos e a então União Soviética, envolvidos em uma Guerra Fria que, entre outros desdobramentos, levou a uma verdadeira corrida espacial.

Conheça os episódios dessa batalha secreta.

Etapa 1: Espionagem

Depois de colocar em órbita o Sputnik, o primeiro satélite artificial da história, e enviar a cadela Laika para o espaço, os soviéticos deram início a outro ambicioso programa espacial chamado Luna, apelidado Lunik no Ocidente.

Em setembro de 1959, a espaçonave Luna 2 se tornou a primeira sonda a tocar a Lua. Um mês depois, a Luna 3 fez história ao fotografar o lado oculto da Lua.

Lado oculto da Lua foi fotografado pela primeira vez em 1959 por uma sonda soviética
Lado oculto da Lua foi fotografado pela primeira vez em 1959 por uma sonda soviética
Foto: NSSDC / BBC News Brasil

Diante do sucesso, os soviéticos decidiram embarcar, entre 1959 e 1960, em um giro internacional para exibir seus feitos industriais e econômicos.

E incluíram, na caravana, um veículo espacial do programa Luna. Mas havia dúvidas de se se tratava de uma réplica ou do modelo verdadeiro.

"Uma quantidade de analistas da comunidade americana suspeitava que poderia ser (o modelo verdadeiro), e foi montada uma operação para averiguar isso", dizem os documentos sobre o caso revelados ao público pela CIA em 1995, sob o título O sequestro de Lunik.

Em um dia não identificado, em um país não especificado, agentes americanos visitaram a exibição dos soviéticos e conseguiram chegar à nave para constatar que se tratava, de fato, de uma sonda real - porém, sem o motor e outras peças mecânicas.

Modelo da Luna segundo um documento da CIA
Modelo da Luna segundo um documento da CIA
Foto: CIA / BBC News Brasil

No entanto, para fazer uma análise aprofundada, era preciso ter acesso à nave para além do contato em uma exposição - onde a máquina era fortemente vigiada por guardas.

Foi então que elaborou-se um roteiro digno de cinema.

Etapa 2: Sequestro

Os agentes passaram a monitorar a passagem da nave em turnê por diferentes cidades, buscando uma oportunidade para interceptar a carga e sequestrar a sonda.

A CIA partiu do pressuposto de que a Luna estava no último caminhão da frota.

Assim, em um dado momento, os agentes americanos, disfarçados, conseguiram parar o automóvel.

"O condutor original foi escoltado a um quarto de hotel, onde passou a noite", dizem os documentos oficiais. "O caminhão foi rapidamente conduzido (com um novo motorista) a um depósito que havia sido alugado para a ocasião".

Por 30 minutos, os agentes esperaram em silêncio e conseguiram constatar que "não havia nenhum indício de que os soviéticos suspeitavam de que havia algo errado".

Foi então que, por volta de 19h30, quatro especialistas chegaram para coletar informações científicas.

Etapa 3: Desmonte e pesquisa

Os envolvidos na missão sabiam que a Luna tinha suas paredes aparafusadas, fazendo do teto a única alternativa para que pudessem entrar sem deixar rastros.

O que eles não esperavam é que, na parte interna da sonda, teriam pouco espaço para se locomover. Eles precisaram então se dividir para estudar a nave em segmentos.

Nesta semana, completaram-se 50 anos desde a morte do astronauta soviético Yuri Gagarin, o primeiro a ir para o espaço
Nesta semana, completaram-se 50 anos desde a morte do astronauta soviético Yuri Gagarin, o primeiro a ir para o espaço
Foto: Keystone/Getty Images / BBC News Brasil

Iluminando o maquinário com lanternas de mão, os agentes desmontaram peças-chave da Luna, tiraram fotos e fizeram anotações. Depois, colocaram tudo de volta ao seu lugar.

"Juntamos os nossos equipamentos e fomos buscados por alguns carros às 4h da manhã", detalha um dos documentos revelados.

O motorista inicial do caminhão voltou, pegou o automóvel e levou ao próximo ponto como previsto pelos soviéticos - que aparentemente nunca desconfiaram de nada.

Segundo a CIA, "até o dia de hoje não há indício algum de que os soviéticos tenham ficado cientes de que a Lunik foi tomada emprestada por uma noite".

Etapa 4: Aprendizados

As informações obtidas naquela noite se mostraram muito valiosas.

Segundo um documento da CIA tornado público em 1994, foi possível, na missão, identificar o peso e o tamanho de várias peças da sonda, como o motor.

Isto permitiu se repensar a tecnologia espacial que vinha sendo desenvolvida pelos Estados Unidos, até então sem tanto êxito quanto os soviéticos.

Ainda assim, seria preciso ainda uma década para que os Estados Unidos conquistassem uma vitória na corrida espacial.

Nos anos seguintes, foi a União Soviética que levou o primeiro homem ao espaço (Yuri Gagarin) e a primeira mulher (Valentina Tereschkova), que conquistou o voo orbital mais longo (5 dias) e que possibilitou que um humano, Alexei Leonov, realizasse pela primeira vez uma caminhada espacial.

A grande conquista americana aconteceria em 20 de julho de 1969, quando a Apollo 11 chegou à Lua, levando Neil Armstrong a dar o primeiro passo ali.

"A União Soviética perdeu sim a corrida com a chegada (americana) à Lua, mas a contínua presença do ser humano na órbita se deve muito à determinação soviética e russa de conquistar o espaço", disse à BBC Gerard de Groot, professor de história moderna da Universidade St Andrews, no Reino Unido.

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