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O mega meteorito que destruiu o fundo do mar e ferveu os oceanos da Terra

Novas descobertas sobre o meteorito S2 mostram que ele ajudou a vida na Terra a florescer e prosperar.

22 out 2024 - 05h59
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O meteorito de 40 a 60 quilômetros de diâmetro deixou uma cratera de 500 quilômetros
O meteorito de 40 a 60 quilômetros de diâmetro deixou uma cratera de 500 quilômetros
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Um meteorito gigantesco que foi descoberto pela primeira vez em 2014 provocou um tsunami maior do que qualquer outro conhecido na história e ferveu os oceanos do planeta, segundo cientistas.

O meteorito S2 — que é 200 vezes maior do que o que extinguiu os dinossauros — atingiu a Terra quando nosso planeta ainda estava na sua "infância", há 3 bilhões de anos.

Cientistas visitaram o local do impacto do meteorito, na África do Sul, e retiraram pedaços da rocha para tentar compreender o que aconteceu.

A equipe encontrou sinais de que o meteorito gigantesco não trouxe apenas destruição à Terra — ele ajudou a vida, que era incipiente no planeta naquele momento, a prosperar.

"Sabemos que depois que a Terra se formou, ainda havia muitos detritos voando pelo espaço que se chocavam com a Terra", diz Nadja Drabon, professora da Universidade de Harvard, principal autora do estudo.

"Mas, agora descobrimos que a vida era muito resistente diante desses impactos enormes, e que ela na verdade floresceu e prosperou."

O S2 tinha de 40 a 60 quilômetros de largura, e de 50 a 200 vezes mais do que a massa do famoso meteorito que provocou a extinção dos dinossauros há 66 milhões de anos. Aquela rocha tinha cerca de 10 quilômetros de largura — um pouco menos que a altura do Everest (8.849 metros).

Há 3 bilhões de anos, a Terra ainda estava nos seus primeiros estágios de desenvolvimento. Era um mundo predominantemente aquático, com poucos continentes. A vida era muito simples — havia apenas microrganismos unicelulares.

Nadja Drabon e outros cientistas foram até o Barberton Greenstone Belt na África do Sul, para coletar as amostras de rocha
Nadja Drabon e outros cientistas foram até o Barberton Greenstone Belt na África do Sul, para coletar as amostras de rocha
Foto: Nadja Drabon / BBC News Brasil

O local do impacto, na região conhecida como Barberton Greenstone Belt, é um dos pontos da Terra mais antigos que ainda possuem restos de meteoritos.

Drabon já viajou três vezes com seus colegas cientistas, primeiro indo de carro o mais longe possível dentro do complexo de montanhas, e completando o resto do trajeto a pé, com mochilas.

Eles viajam acompanhados de guardas florestais equipados com metralhadoras, para protegê-los de animais selvagens, como elefantes e rinocerontes, ou até mesmo de caçadores no parque nacional.

Os cientistas buscavam pequenas partículas em formato esférico ou pequenos fragmentos de rocha deixados pelo impacto. Com a ajuda de martelos, eles coletaram centenas de quilos de rocha, que foram levadas para análise laboratorial.

Drabon colocou as peças consideradas mais preciosas em sua mala.

"Eu geralmente sou barrada pelos seguranças, mas eu dou uma enrolada neles, falando sobre como a ciência é algo emocionante, e eles costumam ficar entediados e me deixam passar", ela conta.

A equipe de cientistas viajou com guardas florestais para proteção contra animais selvagens no parque nacional
A equipe de cientistas viajou com guardas florestais para proteção contra animais selvagens no parque nacional
Foto: Nadja Drabon / BBC News Brasil

A equipe conseguiu mapear o que aconteceu quando o S2 atingiu a Terra de forma violenta. O impacto provocou uma cratera de 500 quilômetros e pulverizou as rochas, que subiram em velocidades enormes, formando uma nuvem que envolveu todo planeta.

"Imagine uma nuvem de chuva, mas em vez de gotas de água caindo, são gotas de rocha derretida chovendo do céu", diz Drabon.

Um tsunami teria atravessado o planeta, destruindo o fundo do mar e inundando litorais.

O famoso tsunami de 2004 no Índico teria sido considerado pequeno perto desse, diz Drabon.

Toda essa energia teria gerado calor suficiente para ferver os oceanos, provocando evaporação da água. A temperatura do ar teria aumentado em cerca de 100ºC.

Os céus teriam escurecido com a poeira. Com a luz do Sol impedida de penetrar por essa escuridão, as formas mais simples de vida na Terra ou na superfície da água, que dependem de fotossíntese, teriam sido aniquiladas.

A equipe de geólogos analisou a rocha que arrasou o fundo do mar
A equipe de geólogos analisou a rocha que arrasou o fundo do mar
Foto: Nadja Drabon / BBC News Brasil

O impacto é semelhante ao que se observa com outros grandes meteoritos.

Mas Drabon e sua equipe encontraram algo surpreendente. A evidência das rochas mostra que o impacto violento trouxe à tona nutrientes como fósforo e ferro, que ajudaram a nutrir organismos mais simples.

"A vida não só era resistente, como ela na verdade se recuperou muito rapidamente e prosperou", diz a cientista.

"É como quando você escova seus dentes pela manhã. Isso mata 99,9% das bactérias, mas quando chega a noite, elas já voltaram, certo?"

As novas descobertas sugerem que os grandes impactos funcionaram como "fertilizantes gigantes", espalhando ingredientes essenciais para a vida, como o fósforo, para diversas partes do planeta.

O tsunami também teria trazido água rica em ferro das profundezas da superfície, dando energia extra para os micróbios.

As descobertas reforçam uma tese que está cada vez mais popular entre cientistas de que a vida nos primórdios da Terra foi ajudada por uma sucessão de impactos de rochas, segundo Drabon.

"Está parecendo que a vida depois do impacto acabou encontrando condições realmente favoráveis que permitiram que ela florescesse."

As descobertas foram publicadas na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.

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