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ONU alerta que crescente produção de energia afetará recursos hídricos

21 mar 2014 - 15h11
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A Organização das Nações Unidas (ONU) advertiu nesta sexta-feira que o rápido aumento da demanda de energia nas próximas décadas afetará as reservas de água ao mesmo tempo em que haverá aumento do crescimento demográfico.

O relatório deste ano da ONU sobre o desenvolvimento dos recursos hídricos no mundo destaca que, no ano de 2050, a demanda mundial de água aumentará cerca de 55%, principalmente devido às maiores necessidades de produção, que serão 400% superiores às de hoje.

Ao mesmo tempo, para essa data, a geração de energia térmica exigirá 140% a mais de água do que atualmente, e o consumo doméstico aumentará 130%.

Inclusive antes dessa data, nos próximos 15 anos, o aumento da demanda de recursos é significativo. Para 2030, a ONU prevê que o planeta vai precisar de 35% a mais de alimentos, 40% a mais de água e 50% a mais de energia.

O relatório indica que "o fornecimento de água e energia são interdependentes", e pede um "melhor" reflexo do preço da energia e de água "sem afetar as necessidades básicas dos pobres e os desfavorecidos".

Na atualidade, o principal destinatário de água do planeta é a agricultura, que contabiliza 70% de toda a água extraída para consumo. O relatório ressaltou o impacto negativo dos biocombustíveis para os recursos hídricos, já que os cultivos para produzí-los consomem mais água.

"A demanda de matérias-primas agrícolas para biocombustíveis constitui a maior fonte nova de demanda de produção agrícola há décadas e foi um fator determinante para a alta dos preços mundiais de produtos básicos ocorrida nos anos 2007 e 2008", diz o relatório.

Zafar Adeel, diretor do Instituto para a Água, Meio Ambiente e Saúde da ONU (INWEH), com base em Hamilton (Canadá) e que participou da redação do relatório, disse à Agência Efe que os cultivos para biocombustível estão proliferando porque são "muito lucrativos", mas ao mesmo tempo têm graves consequências a longo prazo.

"De um ponto de vista puramente econômico, há grupos que ganham muito dinheiro. Isso não significa que estão criando suficiente atividade econômica para tirar da pobreza países como os da África Subsaariana", explicou.

Segundo o relatório, 75% de todo o uso industrial de água está destinado à produção de energia, o que ressalta a interdependência de água e energia.

O relatório também afirma que se a água é subvencionada e vendida abaixo de seu custo real, os produtores de energia, que são os principais consumidores de água, não têm incentivos para conservá-la. Por sua vez, os subsídios energéticos aumentam o uso de água.

Estima-se que em 2011 os subsídios para o consumo de combustíveis de origem fóssil chegaram a US$ 523 bilhões, 30% a mais que em 2010, enquanto o apoio financeiro para energias renováveis só representou US$ 88 bilhões.

Adeel também destacou o que o relatório chama de "implicações sociais e de igualdade de gênero".

Na atualidade, 768 milhões de pessoas não têm acesso a uma fonte estável de provisão de água, e 1,3 bilhão carecem de eletricidade, o que Michel Jarraud, presidente da ONU Água, qualificou como "inaceitável".

"Frequentemente, a mesma população que não tem acesso à água e a serviços higiênicos também carece de energia", explicou.

Segundo Adeel, a dificuldade de acesso à água e a energia para centenas de milhões de pessoas no mundo todo representa uma carga que recai de forma desproporcional sobre as mulheres em zonas rurais empobrecidas do planeta.

"Em muitas zonas rurais, a tarefa de coletar lenha para uso como combustível é uma responsabilidade das mulheres. O que significa que não têm tempo para realizar outras atividades", disse Adeel.

"Por isso, se nessas zonas rurais se proporciona água e energia, está sendo liberada uma parte significativa da força de trabalho, que pode se dedicar ao desenvolvimento social ou à educação. Dá para acelerar o desenvolvimento social e econômico quando se têm água e energia" acrescentou.

EFE   
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