Pandemia 'certamente não acabou', diz diretor da OMS
Na abertura da 75ª Assembleia Mundial da Saúde, Tedros Adhanom destacou a necessidade de aumentar imunização contra covid em países mais pobres e alertou que "baixar a guarda" pode abrir espaço para novas variantes
A Organização Mundial da Saúde (OMS) abriu neste domingo, 22, sua 75ª assembleia anual, a primeira realizada presencialmente desde o início da crise sanitária, com o aviso de que a pandemia da covid-19 não terminará até que as vacinas cheguem aos países mais pobres, embora a maioria das restrições já tenham sido flexibilizadas.
"(A pandemia) certamente não acabou. Eu sei que essa não é a mensagem que vocês querem ouvir, nem a que eu quero dar", disse o diretor geral, Tedros Adhanom, diante de mais de uma centena de ministros da saúde de todo o mundo.
O chefe da OMS, que será reeleito para um segundo mandato nesta assembleia, reconheceu que em muitos países "a vida já é semelhante ao que era antes da pandemia", e isso, entre outras coisas, permitiu que a 75ª assembléia seja presencial, depois de dois anos em que teve de ocorrer virtualmente.
"É bom vê-los novamente, já faz muito tempo", disse Adhanom, que ressaltou que "durante dois anos a tecnologia nos permitiu nos encontrar e continuar trabalhando juntos, mas nada melhor do que nos vermos cara a cara".
Ele alertou, no entanto, que a sensação de normalidade pode fazer com que o mundo "baixe perigosamente a guarda", em um momento em que muitos países reduziram os testes, impedindo conhecer a verdadeira incidência da doença, que pode, assim, ser transmitida mais rapidamente e evoluir para novas variantes mais perigosas.
O especialista lembrou que um bilhão de pessoas em países de menor renda ainda não estão vacinadas contra a covid, e apenas 57 países, aproximadamente um terço do total, atingiram a meta estabelecida pela OMS de imunizar contra a doença pelo menos 70% da população.
"Pedimos aos países que atingiram esses 70% que ajudem aqueles que ainda não o alcançaram", disse. O diretor ressaltou que a covid não é o único desafio sanitário que o mundo enfrenta, uma vez que surtos de ebola, hepatite infantil de origem desconhecida e varíola dos macacos, foram detectados recentemente.
O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, enviou mensagem de vídeo em que destacou que a assembleia deveria discutir um aumento no financiamento da OMS, depois de se ter constatado na pandemia que essa não dispunha dos recursos necessários para responder a uma crise de saúde deste calibre.
"A assembleia vai discutir como tornar o financiamento da OMS sustentável, mas não há investimento que traga mais benefícios do que o feito na saúde", assegurou Guterres, que pediu aos 194 membros da OMS que "investissem em um futuro mais saudável para todos".
O presidente francês, Emmanuel Macron, também em mensagem de vídeo, destacou que outro ponto importante do debate da assembleia será como melhorar a capacidade de resposta da OMS e do sistema de saúde internacional a pandemias. E propôs, nesse sentido, um "comitê permanente" na organização para lidar com emergências de saúde. "Um órgão ambicioso para que, coletivamente, estejamos mais preparados para qualquer emergência que surja", sugeriu.
Na abertura da assembleia, a guerra na Ucrânia também foi assunto. O diretor-geral da OMS lembrou que os conflitos "privam populações inteiras de serviços essenciais de saúde", deixando crianças sem vacinas e pacientes sem tratamentos vitais. "A guerra também cria as condições ideais para a propagação de doenças", sublinhou, ao lembrar que a Gripe Espanhola, de 1918, uma das piores pandemias da história, coincidiu com a Primeira Guerra Mundial./EFE