Pareidolia: por que muitos veem um "monstro" em imagem de furacão feita por satélite
Um monstro? Uma caveira com um sorriso sarcástico? Ou um dinossauro? Uma das imagens do furacão Matthew, feita por satélites da NASA, pode ser tudo isso ou apenas o registro de cores vibrantes ao redor de uma nuvem cinza.
Depende mesmo dos olhos de quem vê. O fenômeno se chama pareidolia.
Não é uma doença, mas um fenômeno pisicológico que faz com que pessoas reconheçam padrões ou façam conexões de dados aleatórios com imagens ou objetos .
A palavra pareidolia tem suas raízes no grego. "Para" siginifica "junto de" ou "ao lado de"; "eidolon", por sua vez, é sinônimo de imagem, figura ou forma.
"É um fenômeno cognitivo, de percepção. Isso significa que o que eu vejo nem sempre é o mesmo que você vê. A pareidolia está ligada a quanto mais se viveu e se viu", explica o engenheiro brasileiro Maurício Raymundo de Cunto, perito forense e especialista em analisar imagem e som.
Cunto observa que a pareidolia dificilmente se aplica a uma criança de um ano de idade.
"É com o passar dos anos que nós armazenamos informações. O fenômeno fica mais intenso a medida que nosso banco de dados interno cresce e somos capazes de fazer associações", diz o engenheiro. "Há pessoas que têm isso mais intenso", completa.
De "capetossaurus" a um monstro
Essa semana a foto do furacão Matthew viralizou nas redes sociais por sua similaridade com uma cabeça que ostenta um sorriso macabro. Virou a "face da morte", uma vez que o furacão deixou um rastro de destruição e mortes pelo Caribe, em especial no Haiti.
A imagem feita do espaço mostra a tempestade em cores vibrantes, com destaque para o "olho" cercado por densas nuvens que delineiam o que se assemelha com o formato de um crânio de perfil e dentes.
Leitores da BBC Brasil viram de tudo na imagem e abusaram da criatividade para descrevê-la. Ela foi definida como monstro, dinossauro, capeta e até "capetossaurus". Outros visualizaram apenas um amontoado de cores.
Ana Cristina S. Oiliveira e Leonardo Oliveira explicaram a pareidolia, lembrando que o fenômeno é curioso e bem comum.
"Faz com que a gente enxergue formas em coisas bem distintas como um rosto nas nuvens", comentou Leonardo.
A torrada santa
O fenômeno, contudo, não é exclusivo à foto da NASA tampouco às nuvens.
Pessoas há muito têm visto caras na lua, em vegetais de formato estranho, em pedras e até mesmo numa torrada queimada.
Diana Duyser ganhou fama e fez dinheiro com uma torrada queimada. A semelhança com Nossa Senhora lhe garantiu US$ 28 mil num leilão no eBay em 2004.
À época, o comprador, um site chamado Goldenpalace.com, prometeu rodar o mundo com a torrada santa e doar para a caridade o dinheiro arrecadado junto aos que pagariam para ver tal imagem.
Há interpretações ainda mais subjetivas, como a foto de um sobrado em Swansea, no País de Gales que foi comparada ao líder nazista Adolf Hitler.
A comparação foi postada por Charli Dickenson no Twitter e viralizou em 2011.
O engenheiro Maurício de Cunto observa que muitas vezes o fenômeno se associa a cranças em atividades paranormais e a supertições religiosas. "O fanatismo atrapalha muito", avalia.
Vozes no chuveiro
O engenheiro diz ainda que o fenômeno não está associado apenas a imagens. "Também acontece com sons", garante Cunto.
Perito particular, ele presta serviços para quem precisa de análises técnicas em áudio, foto e vídeo. Cunto conta que atende muitos casos conjugais.
Uma vez, recorda ele, um marido que tinha certeza que estava sendo traído pela mulher lhe procurou. Havia deixado um gravador no banheiro da casa.
"Ele tinha certeza que a mulher falava o nome dos amantes enquanto tomava banho. Mas era apenas o som do chuveiro", relata o engenheiro.
Segundo ele, no caso de áudio, a acústica, a qualidade da gravação e ruídos locais interferem e alteram o sons. Com as imagens não é muito diferente. Muitas vezes, explica o engenheiro, diferentes elementos interferem na qualidade da imagem, facilitando associações distintas.