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Pássaro 'centenário' voou mais do que distância da Terra à Lua

17 mai 2012 - 16h22
(atualizado às 18h11)
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Um pássaro que já viveu o equivalente a 100 anos humanos e voou uma distância superior àquela entre a Terra e a Lua vem fascinando cientistas em várias partes do mundo e já inspirou uma peça de teatro, um conto literário e tem até sua própria biografia.

O B95, um maçarico-do-papo-vermelho (Calidris canutos), viaja a cada ano entre o Ártico canadense e a Terra do Fogo, na Argentina, e superou de forma significativa a expectativa de vida para a espécie, que vem sofrendo um declínio devido ao excesso de pesca nos ecossistemas do qual depende.

"Não conseguimos acreditar que ele ainda está vivo, porque é uma ave em liberdade que já enfrentou muitas situações terríveis e drásticas. Por isso, também, ele é especial e todos querem ver o B95", disse à BBC Mundo a bióloga Patricia González, que integrou a equipe que fez o anilhamento da ave em 1995, na Argentina, procedimento que permite sua identificação.

"A população de maçaricos-do-papo-vermelho (também conhecidos como seixoeiras) tem sofrido um declínio tão grande, que acreditamos ser difícil que vivam mais de sete anos", disse ela, lembrando que o B95 já tem ao menos 18 anos, o equivalente a 100 anos de idade em um ser humano.

A ave acabou se transformando em um símbolo das ameaças crescentes enfrentadas pelas aves migratórias. Um sistema internacional acordado entre todos os países das Américas permite que cientistas monitorem as aves anilhadas através do uso de telescópios nas praias ou do registro de imagens com câmeras digitais.

Rota migratória

A presença do B95 foi notada muitas vezes nos últimos anos ao longo da rota migratória. Os cientistas calculam que ele percorra 30 mil km por ano, o que multiplicado por 18 anos chegaria a 540 mil km, distância superior a que separa a Terra da Lua (384.403 km).

"A última vez que o vimos foi em dezembro passado, na Terra do Fogo", disse González. Os maçaricos-do-papo-vermelho chegam ao Ártico em junho para a reprodução. Adultos e jovens partem novamente por volta de 15 de julho.

Nem todas as aves seguem a mesma rota, mas elas costumam chegar à Terra do Fogo no fim de outubro ou início de novembro, onde permanecem, em geral, até meados de fevereiro. Algumas delas fazem paradas no Uruguai e no Norte e Sul do Brasil, quase sempre em áreas protegidas que foram reconhecidas internacionalmente pela Rede Hemisférica de Reserva para Aves Limícolas (que habitam praias e manguezais).

"Algo muito importante que ocorre quando chegam à Terra do Fogo é a troca das penas de voo, o que requer muita energia e lhes deixa muito vulneráveis em relação a aves de rapina, como o falcão-peregrino", explicou a bióloga.

Sem paradas

Na volta ao Ártico, a última parada é nos Estados Unidos. Graças a novos sistemas de monitoramento, como geolocalizadores que conseguem medir a latidude e longitude da localização das aves, os cientistas recentemente descobriram que algumas aves conseguem voar da Patagônia aos Estados Unidos, ao longo de 8 mil km ou mais, sem paradas.

Em Delaware, Nova Jersey, as aves enfrentam uma de suas grandes ameaças. "No ano 2000, a população de maçaricos-do-papo-vermelho sofreu um declínio de muito grande, de 40%", explica González. A queda aconteceu porque, nessa região, as aves se alimentam de ovos de caranguejos-ferradura.

"Devido ao excesso de pesca, começaram a sofrer com a escassez do alimento. Esta parada é muito importante, por ser a última antes do Ártico." "Elas (as aves) precisam ganhar massa corporal e nutrientes, não só para viajar até o Ártico, mas para sobreviver uma vez que chegam lá, quando a neve ainda não derreteu e enfrentam tempestades", diz a bióloga.

Inspiração

O B95 já inspirou um conto que virou peça de teatro na Argentina e o escritor americano Phillip Hoose acaba de lançar um livro sobre esta extraordinária ave intitulado Um Ano ao Vento com o Grande Sobrevivente B95.

Patricia González diz que os maçaricos-do-papo-vermelho "nos mostram o que acontece com os ambientes onde param e, no dia em que estas aves desaparecerem, é porque nós também desaparecemos". Para a bióloga argentina, aves como o B95 "não têm fronteiras e mostram que nós também não deveríamos ter fronteiras e que dependemos não somente do lugar onde vivemos, mas do resto do planeta".

A bióloga Patricia González segura o pássaro chamado de B95
A bióloga Patricia González segura o pássaro chamado de B95
Foto: Guy Morrison/Divulgação / BBC Brasil
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