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30 anos depois da descoberta, vírus HIV ainda é desafio para a ciência

Com novas drogas, aids foi transformada em uma doença crônica controlável

20 mai 2013 - 07h47
(atualizado às 08h53)
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Nesta segunda-feira, dia 20 de maio, completam-se 30 anos da publicação do artigo sobre o experimento científico que, pela primeira vez, identificava o retrovírus responsável pela aids - batizado três anos depois de HIV. O estudo "Isolation of a T-Lymphotropic Retrovirus from a Patient at Risk for Acquired Immune Deficiency Syndrome" foi assinado na revista Science (Vol. 220, nº. 4.599, pg. 868-871) por doze pesquisadores de instituições francesas. Entre eles, Luc Montagnier, renomado virologista que divide a coautoria pela descoberta do vírus com o americano Robert Gallo.

Passadas três décadas do anúncio, a aids perdeu estigmas antigos e agressividade em seus sintomas. Os tratamentos à doença tiveram importantes avanços que, apesar de melhorarem a vida dos pacientes, ainda não culminaram em cura definitiva ou vacina eficaz. Embora o ritmo de novas infecções tenha diminuído, o vírus HIV é portado hoje por aproximadamente 35 milhões de pessoas no mundo.

Desde o isolamento viral, houve um enorme avanço na compreensão dos mecanismos pelos quais o HIV atua no organismo, de seu comportamento biológico e das complexas respostas do hospedeiro à infecção. Essa é avaliação do médico infectologista Carlos Roberto Brites, pós-doutor pela Harvard School of Public Health e coordenador do Laboratório de Pesquisas em Virologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Tratamento 

O pesquisador lembra que a primeira década após a descoberta do vírus se caracterizou pela ausência de opções terapêuticas adequadas e eficazes, ocasionando elevadas taxas de mortalidade para os pacientes infectados. Com o surgimento de novas drogas e o tratamento combinado (o famoso “coquetel”), o controle da infecção se tornou possível, permitindo uma extensão significativa da sobrevida dos pacientes com aids.

A doutora em Saúde Pública Monica Malta, pesquisadora do Departamento de Ciências Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ), destaca que, atualmente, quem recebe diagnóstico positivo para o HIV cedo e tem acesso a acompanhamento médico e tratamento adequado apresenta expectativa de vida semelhante à de uma pessoa livre do vírus.

Essa melhora se deve, em grande parte, à evolução dos medicamentos antirretrovirais. Quando eles começaram a ser oferecidos no Brasil pelo serviço público de saúde, em 1996, muitos pacientes ingeriam até 30 comprimidos ao longo do dia. “Hoje esses esquemas são mais eficazes, mais simplificados, menos tóxicos e de menor custo”, analisa Monica.

Inicialmente, recorda Brites, o uso das drogas era acompanhado por exigências complexas, como a necessidade de jejum para umas e estômago cheio para outras. Isso dificultava o uso correto dos fármacos, gerando elevada taxa de falha da terapia e o surgimento, em consequência, de vírus resistentes. Com as novas drogas, a aids foi transformada em uma doença crônica controlável. “Hoje, pode-se tratar a infecção com apenas uma pílula ao dia, ainda não disponível no Brasil”, menciona.

Vacina

Com a qualificação do tratamento, o próximo passo na luta contra o HIV depende da descoberta de uma vacina eficaz. Para Carlos Brites, os avanços obtidos são constantes e permitem afirmar que o mundo está mais próximo da vacina do que jamais esteve. Entretanto não há como estimar se isso levará meses ou anos, já que os progressos são lentamente transformados em estratégias para promover uma resposta do sistema imunológico humano capaz de impedir a infecção.

Por vezes, esse processo sofre interrupções. Em abril, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) suspendeu um estudo de vacina experimental contra o HIV iniciado em 2009. Um comitê de revisão independente avaliou que ela não impedia a infecção nem reduzia a presença do vírus no sangue. “Essa não é a primeira pesquisa que buscava identificar uma vacina anti-HIV a ser descontinuada”, lembra Monica. 

Estudo conhecido como “HVTN 502” ou “STEP Study”, também liderado pelo NIH, foi suspenso em 2007 e teve consequências desagradáveis divulgadas apenas na semana passada, dia 14: a vacina testada na época não só era ineficaz, como foram identificados mais casos de infectados pelo HIV entre aqueles que haviam recebido a vacina, quando comparados com as pessoas que receberam placebo.

Cura

A respeito de uma possível cura definitiva da aids, Brites entende que há muitas questões ainda sem resposta nessa busca, como os chamados reservatórios virais - inacessíveis aos fármacos habituais. Eventos recentes, contudo, aproximam os pesquisadores da eliminação do HIV. 

Em 2010, o hematologista alemão Gero Huetter anunciou o desaparecimento do vírus do organismo de um paciente a partir de um transplante específico de medula óssea. Já neste ano, foi indicada a “cura funcional” da aids em 14 pacientes adultos por pesquisadores do Instituto Pasteur, da França - mesmo diagnóstico descrito por médicos americanos sobre um recém-nascido.

“Os relatos recentes sobre sucessos esporádicos neste campo reforçam a ideia de que isso é factível, mas, para sua utilização na prática clínica diária, ainda temos um longo caminho a percorrer”, avalia Brites.

Por enquanto, os resultados indicam que o tratamento precoce constitui-se da forma mais eficaz de controlar a doença. Segundo Monica Malta, porém, a melhor medida é a prevenção.  Ela aconselha o uso de preservativos e o exame regular de HIV.

Foto: AFP
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