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Apesar de avanços, cura da aids para maioria 'ainda está longe'

O vírus da aids matou mais de 25 milhões de pessoas nas últimas três décadas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)

4 mar 2013 - 21h11
(atualizado em 7/3/2013 às 12h40)
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Médicos dos Estados Unidos conseguiram o que está sendo chamado de cura "funcional" do vírus HIV em uma criança de 2 anos. De acordo com os americanos, uma menina soropositiva do Estado do Mississippi (sul do país) não demonstra sinais de infecção pelo vírus após deixar o tratamento por cerca de um ano.

A cura livrou a criança de uma vida que seria marcada pelo alto consumo de medicamentos, o preconceito e o dilema de contar a amigos e familiares sobre a doença. Mas, além da história de triunfo dos médicos, surge uma grande questão: esta descoberta coloca o mundo mais perto de uma cura para a aids?

No caso da garota americana existem circunstâncias especiais: os médicos conseguiram atingir o vírus muito cedo e com muita força. Isto não é possível em adultos, que descobrem que contraíram pelo HIV meses e até anos depois da contaminação, quando o vírus já está completamente estabelecido.

Também não se sabe ainda como o sistema imunológico de um bebê recém-nascido pode afetar o tratamento. Bebês conseguem grande parte da sua proteção contra doenças a partir do leite materno.

Uma coisa é certa - esta abordagem não irá curar a grande maioria dos portadores do vírus. O que levanta a dúvida: haverá um dia esperança para os que vivem há décadas com o HIV?

Tratamento 

O vírus da aids não é mais o assassino que costumava ser. Ele apareceu primeiro na África no começo do século 20 e se transformou em um problema de saúde global na década de 1980. Nos primeiros anos da epidemia, não havia tratamento.

O vírus matou mais de 25 milhões de pessoas nas últimas três décadas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A partir da metade da década de 1990 surgiram as terapias com antiretrovirais, e o impacto que tiveram no número de mortes por Aids foi dramático.

As pessoas infectadas com o HIV que têm acesso a esse tratamento podem ter uma expectativa de vida normal, mas nem todas conseguem. Cerca de 70% das pessoas que vivem com o HIV estão na África ao sul do deserto do Saara, onde o acesso aos medicamentos é relativamente limitado.

A busca pela cura continua. "Sempre presumimos que era impossível, mas começamos a descobrir coisas que não sabíamos antes, e (isso) está abrindo uma fenda na blindagem", disse à BBC o pesquisador John Frater, da Universidade de Oxford.

Escondido 

Depois que uma pessoa é infectada pelo HIV, o vírus se espalha rapidamente, infectando células em todo o corpo. Ele se esconde dentro do DNA, onde não será afetado pelas terapias.

Já existem agora medicamentos experimentais para tratamento de câncer que poderiam tornar o vírus mais vulnerável. 

"Este é um momento muito animador, mas não é a resposta no mundo atual. Temo que por querer uma cura tão desesperadamente nos esqueçamos das questões de custo e eficiência, que fazem a diferença", disse Jane Anderson, professora do Hospital Homerton, em Londres 

"(O medicamento) ataca o vírus dentro da célula e o deixa visível para o sistema imunológico. Poderemos alcançá-lo com uma vacina", afirmou Frater.

No entanto, a abordagem requer medicamentos que façam com que o vírus fique ativo e uma vacina que treine o sistema imunológico para acabar com ele. E isso não é algo que está próximo de ser descoberto.

Outro caminho sendo considerado envolve uma mutação rara que faz com que as pessoas fiquem resistentes à infecção. Em 2007, Timothy Ray Brown se transformou no primeiro paciente que teria erradicado o vírus. 

Seu sistema imunológico foi destruído como parte de um tratamento de leucemia. Em seguida, ele foi restaurado graças a um transplante de células-tronco de um paciente com a mutação.

Um pouco de engenharia genética também poderia ajudar a modificar o sistema imunológico do próprio paciente, para que ele adquira a mutação protetora. Mas, novamente, esta é uma perspectiva distante. 

Medicina experimental 

Para o presidente do programa de vacina da aids da Grã-Bretanha, Jonathan Weber, professor da universidade Imperial College, no sul da Inglaterra, não há um consenso nos tratamentos para os que já estão infectados.

"Para a infecção estabelecida nós temos algumas ideias, mas tudo ainda nos domínios da medicina experimental. Não há um consenso e nenhum caminho claro (a ser seguido)", afirmou.

Para Weber, uma cura seria a solução para o problema dos gastos, já que dar remédios para as pessoas todos os dias para o resto de suas vidas pode ser muito caro.

A professora Jane Anderson, do Hospital Homerton, em Londres, prefere ser mais cautelosa sobre a possibilidade de uma cura para a Aids depois do caso nos Estados Unidos. "Este é um momento muito animador, mas não é a resposta no mundo atual. Temo que, por querer uma cura tão desesperadamente, nos esqueçamos das questões de custo e eficiência, que fazem a diferença", afirmou.

Quase todos os casos de transmissão do HIV da mãe para a criança podem ser evitados com medicamentos, com a escolha pela cesariana e evitando que a mãe amamente o filho.

Em adultos, a maioria dos casos de infecção por HIV ocorre como resultado de sexo sem o uso de preservativos. 

Foto: AFP

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