Capacidade de digerir amido possibilitou domesticação do cão
Se o cachorro se tornou o melhor amigo do homem, é porque aprendeu, ao longo do tempo, a digerir o amido melhor do que o lobo, seu ancestral carnívoro, sugere um estudo comparativo do genoma dos dois animais publicado nesta quarta-feira. Ainda não se sabe com precisão o porquê e como nossos ancestrais priorizaram os cães, e especula-se que tenha sido por motivos de interesse mútuo no que diz respeito à obtenção de alimento e proteção. Mas este animal aparentemente foi o primeiro a ser domesticado.
Um fóssil de uma espécie canina próxima ao cachorro, com uma idade de 33 mil anos, indica isso e também os restos de cães de 11 mil a 12 mil anos que foram identificados em uma sepultura humana. A genética indica que a domesticação do cachorro começou há cerca de 10 mil anos no sudeste da Ásia ou no Oriente Médio, mas as mudanças genéticas que acompanharam a lenta transformação dos lobos antigos em cachorros domésticos ainda são pouco conhecidas.
Erik Axelsson, biólogo na Universidade sueca de Uppsala, e seus parceiros compararam os genomas de 12 lobos provenientes de diversos pontos do mundo e de 60 cães para tentar descobrir mais sobre esta evolução.
No total, eles identificaram 36 regiões do genoma que provavelmente sofreram modificações no processo de domesticação e adaptação evolutiva do cachorro. Mais da metade dessas regiões estão ligadas às funções cerebrais, principalmente ao desenvolvimento do sistema nervoso, e poderiam explicar as diferenças de comportamento que separam o lobo do cão domesticado.
Os pesquisadores descobriram ainda três genes que desempenham um papel determinante na digestão do amido, um glicídeo de origem vegetal, indica o estudo publicado na revista britânica Nature. "Nossos resultados mostram que foram essas adaptações que permitiram aos primeiros ancestrais dos cães modernos a prosperar graças a uma alimentação rica em amido, comparativamente com o regime carnívoro dos lobos, o que constitui uma etapa crucial na domesticação", escreveram.
Uma mudança de nicho ecológico pode ter sido o principal motor deste processo de domesticação. E foi oferecendo a alguns lobos a possibilidade de encontrar comida entre os restos consumidos pelos humanos, cada vez mais frequente com a revolução agrícola, que este novo nicho ecológico foi criado, acreditam os pesquisadores.
"Nossa descoberta pode fazer pensar que o desenvolvimento da agricultura serviu de canalizador para a domesticação do cachorro", acrescentam, ressaltando o "surpreendente paralelo" entre a evolução do homem e do cão para se adaptar a uma alimentação cada vez mais rica em amido com a aparição da agricultura.