Cientista: sons são parte mais importante ao aprender de 2º língua
Um novo estudo de pesquisadores da Universidade de Houston, no Texas (EUA), pode ajudar no ensino e no aprendizado de idiomas. O Dr. Arturo Hernandez, diretor do Laboratório de Bases Neurais do Bilinguismo na universidade, utilizou técnicas comportamentais e métodos de neuroimagem para investigar o aprendizado de uma nova língua em um cérebro bilíngue. Com os resultados, descobriu que uma abordagem “orgânica”, com foco nos fonemas em vez de regras gramaticais, como a de uma criança que aprende a se comunicar, pode acelerar em mais de 20% o estudo da língua.
Com a análise da atividade neurológica de voluntários, a pesquisa revelou que bilíngues e monolíngues utilizam partes diferentes do cérebro para aprender um novo idioma. Enquanto bilíngues usam áreas mais básicas para adquirir vocabulário, monolíngues utilizam regiões mais complexas, no córtex frontal. “O cérebro muda quando as pessoas aprendem um novo idioma”, afirma Hernandez, em entrevista ao Terra, em português.
Autor do livro “O cérebro bilíngue”, lançado neste ano nos EUA, ainda sem versão brasileira, o pesquisador acredita que os resultados das recentes pesquisas sobre o assunto podem alterar drasticamente o método de ensino de uma segunda língua. Para ele, a “decoreba” não é o caminho.
Primeiramente, em vez de memorizar e traduzir, deve-se estudar os sons do idioma. “A criança não usa tradução - aprende do zero. É impossível aprender como uma criança, mas o pessoal deve tentar este método implícito”, sugere. “Não tem que estudar. Pode fazer isso sem pensar. Aqui muitos no Ensino Médio podem passar em uma prova de um idioma, mas não conseguem falar. É como aprender as regras de tênis e nunca jogar. Não tem sentido”.
Assim, Hernandez diz que ouvir música, escutar os sons da língua desejada em plano de fundo e jogar podem ser boas ideias para quem deseja dominar mais rápido um idioma. “A escola é uma base, mas a maioria das pessoas aprende melhor em casa”.
Português com Roberto Carlos
Hernandez convive com diferentes idiomas desde a infância. Com residência nos Estados Unidos e família mexicana, aprendeu espanhol e inglês quando criança. Aos 6 anos, uma terceira língua entrou na história. “Comecei a cantar com o Roberto Carlos em português”, conta o professor. “Ele era famoso no México. Meu pai comprou o disco e tentei cantar.”
Mais tarde, aos 22 anos, realizou intercâmbio na Universidade de São Paulo, uma experiência que moldou sua pesquisa acadêmica. “Tinha sotaque muito forte no começo”, lembra. “Mas, depois de dois anos, o pessoal não sabia de onde eu vinha. Eles pensavam que eu era brasileiro. Eu acho que foi por causa do Roberto Carlos. Eu treinei o sotaque ainda menino e, com o espanhol, consegui aprender português quase como nativo”.
O aprendizado do português, no entanto, teve efeito colaterais: “Perdi meu espanhol, e meu inglês ficou ruim”. Quando retornou aos Estados Unidos, Hernandez leu sobre um paciente que alternava entre dois idiomas. Em uma semana, falava uma língua; na outra, só se comunicava em outra. “Isso me lembrou da minha experiência no Brasil. Então decidi que ia estudar o cérebro e a língua em bilíngues”.
Aos 35 anos, enquanto se dedicava ao estudo do cérebro bilingue, Hernandez decidiu aprender um quarto idioma, o alemão. E para a empreitada, utilizou as técnicas orgânicas: “A minha pesquisa mostra que aprender uma língua quando criança depende mais de partes sensoriais do cérebro. Os adultos querem aprender vocabulário e regras, mas as línguas estão formadas para aprender pouco a pouco. São camadas, e a mais importante é o som. Então quando estudei alemão, passei muito tempo ouvindo e falando alemão no meu carro. Depois comecei a construir coisas mas complexas: frases pequenas, um pouco de gramática. Tudo vai muito devagar. Como se eu fosse um menino crescendo”.