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Combate à aids: cura funcional de bebê e vacina contra o HIV são novidades

14 dez 2013 - 08h36
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O ano de 2013 foi marcado por muitos avanços na pesquisa contra a síndrome da imunodeficiência adquirida (aids, na sigla em inglês) e o combate ao causador da doença, o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Além de anunciar que um bebê infectado passou por tratamento e hoje não tem mais níveis detectáveis do vírus nem sinais da doença, cientistas usaram até radiação para destruir populações de vírus HIV em amostras de sangue de pacientes que passam pelo tratamento antirretroviral. Confira, a seguir, as descobertas do ano que nos deixaram mais próximos da cura da aids.

Em março, cientistas anunciam a cura funcional do HIV em uma criança nos Estados Unidos. O paciente de 2 anos, que recebeu o vírus da mãe, foi tratado com drogas antivirais nos primeiros dias de vida e não tem mais níveis detectáveis do vírus nem sinais da doença. Os pesquisadores afirmam que a pronta administração dos medicamentos - que o paciente recebeu nas primeiras 30 horas de vida - pode ter levado à cura do bebê por ter impedido a formação de "reservas" do vírus. A cura funcional ocorre quando o vírus, apesar de não desaparecer do organismo, entra em remissão e o paciente não precisa mais de remédios. O anúncio, porém, foi recebido com cautela por especialistas.

Pesquisas apontaram que tratar pacientes logo depois da contaminação pelo HIV pode bastar para garantir uma "cura funcional" da aids, pelo menos em uma pequena parcela de pessoas que recebem um diagnóstico precoce. A revelação foi feita no mesmo mês em que médicos do Mississippi (EUA) anunciaram a cura de uma menina norte-americana que nasceu de mãe soropositiva e foi tratada logo após o parto, alcançando a chamada "cura funcional". O tratamento rápido logo depois da infecção pelo HIV pode ser suficiente para causar, em até 15% dos pacientes, essa cura funcional.

Cura da aids ainda está distante

Um dos descobridores do vírus HIV, o pesquisador americano Robert Charles Gallo acredita que uma vacina definitiva não está próxima. Ele e sua equipe também foram pioneiros no desenvolvimento do teste de HIV - e estiveram entre os primeiros a relacionar o vírus como causa da aids. Em entrevista exclusiva ao Terra, ele afirmou que vem trabalhando em uma vacina preventiva contra a aids, que deve entrar em testes clínicos em 2014. Embora destaque os avanços que teve em suas pesquisas, o cientista admite que ainda há um longo caminho a ser percorrido.

Os pesquisadores destacam que existe somente um caso de cura "esterilizadora" conhecido do HIV, de um paciente que recebeu um transplante de medula.

Vacina experimental e drogas mais eficazes

Em setembro, cientistas divulgaram que uma vacina experimental contra a aids conseguiu livrar um grupo de animais do vírus da imunodeficiência símia (SIV, similar à "versão" humana, o HIV). Além disso, o resultado se mostrou persistente: alguns dos animais já estão há três anos sem sinais do SIV e isso, afirmam os cientistas, pode persistir por toda a vida deles. O problema com o HIV e o seu "irmão" símio é que esses vírus mantêm "reservas" que se manifestam após o sistema imunológico voltar ao normal. 

No mesmo mês, cientistas conseguiram pela primeira vez determinar a estrutura de um dos dois coreceptores utilizados pelo vírus HIV para entrar no sistema imunológico dos humanos - e informaram que esperam, com isso, contribuir para o desenvolvimento de medicamentos mais potentes contra a doença. Através de uma imagem em alta resolução, os pesquisadores poderão analisar melhor a estrutura e, assim, desenvolver drogas com maior eficácia no combate ao causador da aids.

Avanços brasileiros

Uma abordagem diferente no desenvolvimento da vacina, que visa as regiões constantes do vírus e se mostrou eficaz em camundongos, é a esperança do pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Edecio Cunha Neto, um dos responsáveis pelo projeto denominado HIVBr18, patenteado por ele e seus colegas Jorge Kalil e Simone Fonseca. De acordo com o pesquisador, o motivo para que ainda não se tenha uma vacina contra o HIV reside em sua alta taxa de mutação. A ideia dos pesquisadores brasileiros é que a vacina se foque apenas nas regiões mais conservadas (constantes) do HIV, que são iguais para pessoas diferentes e não apresentam mutação.

A vacina brasileira, que começou em novembro a ser testada em macacos, pretende aumentar a reação dos imunizados ao vírus, diminuindo a capacidade de transmissão e melhorando a qualidade de vida do paciente. Depois de dois anos, se tudo der certo, chegará a vez dos testes com humanos. O ensaio clínico de fase 1 terá uma população saudável, com baixo risco de contrair o HIV, que será acompanhada por vários anos.

Além do alcance das drogas atuais

Os médicos poderão um dia controlar a infecção pelo HIV em pacientes de uma nova maneira: injetando um conjunto de anticorpos destinados a combater micro-organismos nocivos. É o que apontam dois estudos publicados em outubro. Testada em macacos, essa estratégia reduziu significativamente os níveis de um "primo" do HIV no sangue. Os resultados também sugerem que um dia a tática pode ajudar a destruir o vírus da aids nos locais em que se esconde no corpo, algo que os medicamentos aplicados atualmente não conseguem fazer.

Ainda em outubro, um grupo de pesquisadores suíços elaborou o primeiro mapa de resistência humana ao vírus da aids, que mostra a defesa natural do corpo contra a doença, um avanço que poderá ter aplicações como a criação de novos tratamentos personalizados. Através da pesquisa com cepas do vírus HIV em um hospedeiro humano, os pesquisadores puderam identificar mutações genéticas específicas, um sinal que reflete os ataques produzidos pelo sistema imunológico.

Desafio

Desde a identificação do retrovírus, passaram-se 30 anos. Embora o ritmo de novas infecções tenha diminuído, o vírus HIV é portado hoje por aproximadamente 35 milhões de pessoas no mundo. Do início da década de 1980 até junho de 2012, o Brasil teve 656.701 casos registrados de aids (condição em que a doença já se manifestou), de acordo com o último Boletim Epidemiológico.

Com informações da GHX Comunicação e as agências AP, Brasil, EFE e Reuters.

Foto: AFP
Fonte: Terra
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