Há 76 anos, morria Ernest Rutherford, descobridor do núcleo atômico
Em 1911, um trio de cientistas disparou partículas alfa (o núcleo do átomo de hélio) contra uma folha de ouro. O experimento, aparentemente simples, teve um resultado revolucionário para a ciência. Enquanto a maior parte das partículas atravessava a folha, conforme previsto, um número bem menor desviava sua trajetória ou até voltava. Uma a cada 20 mil partículas disparadas era desviada 90 graus ou mais.
O modelo mais aceito para o átomo na época era o de J.J. Thomson (descobridor do elétron), que dizia que o átomo era formado pelos elétrons e uma "sopa" de carga positiva, ou seja, basicamente de espaço vazio. Mas o experimento de 1911 indicava que a matéria não era apenas espaço vazio, havia algo ali: um núcleo.
O estudo foi conduzido por Hans Geiger (o mesmo do contador Geiger) e Ernest Marsden em Montreal. Os dois cientistas foram orientados por um neozelandês filho de um fabricante de rodas e uma professora: Ernest Rutherford. Foi este que interpretou o resultado do experimento e descobriu que o átomo tinha um núcleo.
A última batata
Rutherford nasceu em 30 de agosto de 1871 em Nelson, na Nova Zelândia. Era o quarto de sete filhos de Martha e James Rutherford. Ele se graduou no Canterbury College e, em 1894, conseguiu uma bolsa de estudante pesquisador na prestigiada Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Reza a lenda que ele estava na fazenda da família quando soube que havia ganhado a bolsa, e reagiu com a frase: "Acabo de plantar minha última batata".
Cientista
Em Cambridge, Rutherford trabalhou no laboratório Cavendish sob supervisão do próprio J.J. Thomson. Em seus primeiros trabalhos, criou um engenhoso detector de ondas eletromagnéticas.
Em 1898, foi contratado pela Universidade McGill (Canadá). Lá, classificou dois tipos de radiação - alfa e beta. Ao lado de Frederick Soddy, teorizou que a radiação é fenômeno que ocorre em nível atômico, e não molecular - como se pensava.
Em 1907, voltou ao Reino Unido, para a Universidade de Manchester, onde realizou o famoso experimento com a folha de ouro (na verdade, ele utilizou folhas de diversos metais, mas a de ouro ganhou a fama) e descobriu o núcleo atômico, sua maior contribuição para a física.
Em 1912, Niels Bohr se juntou a ele em Manchester e usou a descoberta do núcleo para fazer seu famoso modelo atômico - de que os elétrons orbitam o núcleo, como os planetas orbitam o Sol.
Em 1919, descobriu que os núcleos dos átomos podem ser "desintegrados" com o impacto de partículas alfa. Depois foi descoberto que, nesse experimento, nitrogênio era transformado em oxigênio. Rutherford foi, em outras palavras, o primeiro a transformar um elemento em outro.
No mesmo ano, assumiria a vaga que foi de Thomson no laboratório Cavendish. Nessa época, liderou diversos futuros ganhadores do Nobel, como James Chadwick (que descobriu o nêutron), John Douglas Cockcroft, Thomas Sinton Walton e Patrick Maynard Stuart Blackett.
Rutherford ainda recebeu o título de cavaleiro e de barão. Ganhou diversos prêmios e doutorados honorários, mas o mais importante foi o Nobel de 1908. Curiosamente, apesar de ser um dos nomes mais importantes da física, ganhou o prêmio de química - por seus estudos das desintegrações dos elementos e sobre a radioatividade.
O neozelandês morreu em 19 de outubro de 1937, em Cambridge. Suas cinzas foram enterradas na Abadia de Westminster, mesmo local onde estão alguns dos nomes mais importantes da ciência, como Isaac Newton e Lord Kelvin.