LHC completa 5 anos com "partícula de Deus" e teorias apocalípticas
No dia 10 de setembro de 2008, o maior acelerador de partículas já concluído pelo ser humano ligava seus motores. Ou melhor, seus 1.624 eletroímãs. Em cinco anos, o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) foi palco de uma das mais importantes descobertas científicas, mas também de teorias apocalípticas.
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A grande descoberta
O objetivo inicial do LHC era confirmar a existência da "partícula de Deus" (ou "partícula deus"), como é chamado o bóson de Higgs. Em 4 de julho de 2012, a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, o Cern, anunciou a descoberta de uma partícula de 5 sigmas. Isso significa que havia uma chance em 3 milhões de não ser o bóson de Higgs. Depois, a descoberta foi confirmada.
A partícula, que leva o nome do físico escocês Peter Higgs, um dos físicos que teorizaram sua existência, era a última peça no quebra-cabeça do Modelo Padrão, a teoria que descreve as partículas elementares.
Conforme essa teoria, os bósons são partículas que interagem com outras e criam as forças fundamentais – forte e fraca, que atuam no núcleo atômico, e eletromagnética (há ainda a gravidade, para a qual alguns teóricos defendem existir o gráviton, ainda não comprovado).
No caso do bóson de Higgs, as partículas interagiriam com este e ficariam mais lentas – o que lhes daria massa. Algumas partículas interagiriam mais – e teriam mais massa – e outras menos, ou até nada, como no caso daquelas que são pura energia (por exemplo, o fóton).
O investimento no gigantesco acelerador de partículas alcançava seu primeiro objetivo. Falta saber o que reserva o futuro.
Teorias apocalípticas
Nas vésperas do acionamento do LHC, cientistas foram a tribunais europeus para tentar evitar que o equipamento fosse ligado. O maior temor era de que a colisão de partículas a altas energias criasse um buraco negro.
O astrofísico britânico Stephen Hawking teve que fazer declarações de que não havia essa possibilidade. "Se as colisões no LHC criarem um micro buraco negro, e isso é pouco provável, ele apenas evaporará novamente, produzindo padrões característicos de partículas", disse o físico.
"Colisões como essas, e ainda maiores quantidades de energia ocorrem milhões de vezes por dia na atmosfera da Terra e nada terrível acontece", acrescentou.
Em 2012, cientistas anunciaram descoberta da partícula de DeusComo funciona o LHC
O Grande Colisor de Hádrons é considerado o maior instrumento científico já criado. Seu custo foi estimado em US$ 8 bilhões na época da inauguração. O LHC consiste em um túnel de 27 quilômetros de supercondutores magnéticos que aceleram partículas. Elas percorrem tubos separados, próximo da velocidade da luz e em direções opostas, para colidirem.
Além dos 1624 que aceleram e direcionam, outros eletroímãs são usados para "aglutinar" as partículas e aumentar as chances de colisão. Segundo o Cern, colidir duas partículas é como atirar duas agulhas a 10 quilômetros uma da outra fazendo com que as duas batam no meio do caminho.
Para funcionar efetivamente, os eletroímãs devem ser resfriados a -274,3°C (mais frio que no espaço). Por causa disso, boa parte do acelerador consiste em um sistema de resfriamento que distribui hélio líquido pelo túnel.
O LHC é composto ainda por quatro gigantescos detectores – Atlas, CMS, Alice e LHCb. São nesses espaços que as partículas colidem e deixam os rastros para os cientistas. Cada detector é composto de subdetectores, cada um para registrar uma característica (como velocidade, massa e carga).
Alguns subdetectores são desenvolvidos para detectar tipos específicos de partículas. Os múons, por exemplo, interagem muito pouco com a massa – podem atravessar metros de material denso sem parar. Por isso, subdetectores de múons compõem a camada mais externas dos detectores.