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Novo teste 'diferencia' gêmeos e pode resolver casos de estupro e paternidade

Testes convencionais não conseguiam achar diferenças em DNA de gêmeos idênticos; veja crimes que ficaram sem solução por causa disso

16 jan 2014 - 08h59
(atualizado às 11h03)
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Já se sabe que gêmeos idênticos não são totalmente iguais. Mas, até agora era quase impossível diferenciar o DNA destes gêmeos. Mas um laboratório da Alemanha elaborou um novo exame de DNA que seria capaz de fazer essa diferenciação e que promete ajudar a esclarecer crimes não solucionados ou questões de paternidade.

Tyrone (esq.) e Jerome Cooper foram libertados depois de acusação de estupro
Tyrone (esq.) e Jerome Cooper foram libertados depois de acusação de estupro
Foto: AP

Um exemplo de crime que pode ser resolvido com o novo teste é o caso dos estupros de seis mulheres em Marselha, sul da França, ocorridos no fim de 2012. As provas, inclusive amostras de DNA, levaram a polícia a dois suspeitos, os gêmeos idênticos Elwin e Yohan, que não tiveram os sobrenomes revelados. As vítimas reconheceram os gêmeos, mas não conseguiram identificar qual dos dois tinha sido o estuprador.

Os dois estão presos desde fevereiro de 2013; ambos se dizem inocentes e se recusam a culpar o outro. Quando foram presos, a imprensa deu a entender que os testes para determinar qual dos gêmeos deveria ser acusado seriam caros demais. Mas isso pode mudar, com ajuda dos cientistas especializados em pesquisa de genoma no laboratório Eurofins, em Ebersberg, Alemanha.

"O genoma humano é formado por um código alfabético de três bilhões de letras", explicou Georg Gradl, especialista em sequenciamento genético do laboratório. "Se o corpo está crescendo, ou um embrião está se desenvolvendo, então todos as três bilhões de letras precisam ser copiados. Durante este processo de cópia no corpo acontecem 'erros de digitação'", disse o cientista se referindo a pequenas mutações.

Partes de DNA

Em exames de DNA tradicionais apenas uma pequena parte do código é analisada, o suficiente para diferenciar duas pessoas consideradas normais, mas não para diferenciar gêmeos idênticos. Gradl e sua equipe recolheram amostras de um par de gêmeos idênticos e analisaram toda a sequência de três bilhões de letras. Com isso, encontraram algumas dezenas de diferenças no DNA.

Os cientistas também analisaram o filho de um dos homens e descobriram que ele herdou cinco destas mutações do pai. Após analisar os resultados, eles afirmam que agora podem diferenciar qualquer gêmeo idêntico do outro e os filhos destes gêmeos. A rapidez do resultado é importante nesses casos; o teste alemão leva um mês para ser concluído.

Institutos de Criminalística da Europa, América Latina e Estados Unidos já pediram ajuda à Eurofins para solucionar dez casos diferentes. Gradl afirma que casos de estupro ou violência sexual envolvendo gêmeos são "mais frequentes do que nós esperávamos". Com frequência há vestígios de sêmen e, "nestes casos, nós podemos diferenciar".

A empresa não pode revelar em quais casos está trabalhando, mas Gradl admite que o caso de Marselha é "certamente um destes que gostaríamos de ajudar... e estamos convencidos que vamos conseguir (um resultado)".

Crimes e paternidade

Outros crimes também poderiam se beneficiar do novo teste de DNA. Na Argentina, por exemplo, a Justiça suspendeu um julgamento para que fossem feitas mais investigações, depois que um homem acusado de estupro culpou o irmão gêmeo. Vários casos de estupros ocorridos nos Estados Unidos também poderiam receber ajuda deste novo teste, mas também há complicações em casos ligados a tráfico de drogas.

Em 2009, em Kuala Lumpur, na Malásia, a polícia apreendeu 166 quilos de maconha e 1,7 quilo de ópio em um carro. O motorista foi preso e, ao chegar na casa para onde o carro estava indo, os policiais encontraram o gêmeo idêntico do motorista.

A polícia sabia que o primeiro, o motorista, seria o culpado, mas durante o julgamento, surgiram dúvidas sobre quem seria quem entre os gêmeos, e exames de DNA disponíveis não puderam ajudar a diferenciá-los oficialmente. Os dois foram libertados, escapando da pena de morte que geralmente é o destino dos traficantes de drogas do país.

E não apenas crimes seriam solucionados, mas também casos de dúvida em relação a paternidade envolvendo gêmeos idênticos.

Em 2007, a Justiça do Estado americano do Missouri tentou descobrir quem era o pai do filho de Holly Marie Adams, que manteve relações sexuais com dois irmãos, gêmeos idênticos, Raymon e Richard Miller.

Como neste caso o teste de DNA tradicional foi inconclusivo, foi necessário contar apenas com os testemunhos de Holly sobre os dias exatos em que ela manteve relações com os dois, como estas datas correspondiam ao ciclo menstrual e se algum deles usou preservativo. No final, apenas com base nestas provas, foi determinado que Raymon era o pai.

Para Laura Walton-Williams, do Departamento de Ciência do Crime e Criminalística da Universidade de Staffordshire, na Grã-Bretanha, o teste de DNA da Eurofins é um grande avanço, e poderia ser usado até para descobrir se um gêmeo está envolvido no assassinato de um irmão idêntico, pois, pela primeira vez, será possível diferenciar o DNA da vítima e do suspeito.

Mas a especialista acredita que a Justiça precisará saber se este exame foi rigorosamente testado, e se o custo poderá influenciar na decisão de usá-lo ou não. Até o momento a Eurofins não divulgou quando este exame de DNA vai custar.

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