Relatório: consumo ilícito de remédios é maior que o de drogas
O uso abusivo de remédios controlados cresce rapidamente no mundo e já supera o consumo de heroína, cocaína e ecstasy juntos, de acordo com o relatório anual divulgado ontem pelo Departamento Internacional de Controle de Narcóticos, da ONU. O documento diz que mortes de várias celebridades no ano passado, como a do cantor Michael Jackson e da atriz Brittany Murphy, chamaram a atenção para o problema das drogas lícitas.
"Tem sido uma tendência o menor uso de drogas ilícitas. Por outro lado, temos identificado o crescimento do consumo de medicamentos prescritos. Existem legislações mais restritivas às drogas ilícitas e as pessoas estão mais bem informadas sobre os danos cerebrais que podem causar, mas não sabem que os mesmos efeitos negativos podem ser produzidos também pelos fármacos", disse ontem, em Viena, Sevil Atasoy, presidente da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife).
O especialista, que participou de entrevista coletiva, explicou que a tendência de se substituir drogas ilegais por remédios legais começou nos Estados Unidos e agora chega à Europa, onde também foi registrada uma queda no abuso de drogas ilícitas, como a cocaína. "As pessoas acreditam que porque são remédios não causam tanto mal quanto a heroína, por exemplo", disse Atasoy.
Nos EUA, o abuso dos medicamentos "já é a segunda questão mais importante do abuso de drogas, depois da maconha", afirma o documento. O texto afirma que, em 2008, havia 6,2 milhões de norte-americanos viciados em remédios. Em vários países europeus, entre 10% e 18% dos estudantes usam sedativos obtidos sem apresentar receita médica.
Já o Brasil foi citado no relatório como exemplo de país que reduziu o consumo de medicamentos de tarja preta, principalmente os anorexígenos usados de forma abusiva contra a obesidade. Apesar da redução, no ano passado o Brasil teria consumido cerca de 3 toneladas desses produtos.
Relatório alerta para uso das 'drogas do estupro'
Os países devem ficar atentos para o aumento do uso das "drogas do estupro", usadas cometer crimes sexuais. De acordo com o relatório, o uso dessas substâncias está aumentando em todo o mundo.
Estas substâncias aumentam o desejo sexual em níveis incontroláveis e fazem com que o usuário perca o controle sobre si mesmo: a única coisa em que consegue pensar é manter relações sexuais. A Junta Internacional de Fiscalização de Estupefaciantes da ONU chama atenção ainda para a propagação do golpe "Boa Noite, Cinderela", em que as drogas são administradas sem que os usuários percebam. A organização pediu que governos e grupos farmacêuticos introduzam corantes ou aromatizantes às substâncias usadas no golpe para que as vítimas possam ser alertadas de que sua bebida foi alterada.
"O fenômeno evolui rapidamente, enquanto os agressores tratam de se esquivar dos controles mais estritos utilizando substâncias não incluídas nas convenções internacionais", diz o informe da agência, com sede em Viena.