Vacinas do futuro prometem prevenir de derrame a alcoolismo
Vacinas do futuro prometem prevenir de derrame a alcoolismo
18 mai2012 - 13h29
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Matheus Pessel
Direto de Porto Alegre
No fim do século 18, o médico inglês Edward Jenner notou que um número cada vez maior de pessoas estava imune à varíola. E todas elas tinham uma coisa em comum: trabalhavam na ordenha de vacas e tinham se contaminado com a varíola bovina, doença parecida com a humana, mas sem apresentar riscos à vida do paciente.
Em um primeiro experimento, Jenner retirou material das pústulas dos animais doentes e usou para inocular o vírus em uma criança. Após poucos dias convalescente, a pequena melhorou e se mostrou imune à varíola humana. Jenner havia criado a primeira vacina, nome que vem, justamente, do vírus causador da varíola bovina, o vaccínia.
Desde então, vacinas para variados tipos de doença foram criados. Mas é para os próximos anos que essa área da medicina promete um salto evolutivo. Em Cuba, por exemplo, onde já se aplica uma vacina terapêutica contra câncer de pulmão, se fala que em breve haverá outra contra tumores na próstata. Na Itália, se estuda como evitar o Mal de Alzheimer. E até mesmo o alcoolismo está na mira de alguns pesquisadores.
Uma dessas pesquisas foi destaque no início deste ano em uma conferência em Londres. Liderada por Jan Nilsson, da universidade sueca de Lund, e por Prediman K. Shah, diretor da divisão de Cardiologia do Instituto Cedars-Sinai, em Los Angeles, o estudo tenta criar uma vacina que previna ataques cardíacos.
O que os dois pesquisadores pretendem com a medicação é evitar a aterosclerose, doença progressiva causada pelo acúmulo de material - como o LDL (o colesterol "ruim") - na parede dos vasos sanguíneos e que é uma das principais causas de morte no planeta (não confundir com arteriosclerose, que é o endurecimento das paredes dos vasos). Segundos os cientistas, esse colesterol pode oxidar e, assim, não é mais reconhecido pelo sistema imunológico e é atacado. A resposta autoimune leva uma inflamação do vaso sanguíneo, que pode fechar e impedir a circulação (infarto) ou romper (derrame).
Outra projeto de Shah, de 2005, parece saído das páginas da ficção científica. A pesquisa começou em 1992, quando o professor e colegas descobriram na população de uma pequena cidade da Itália um gene mutante (chamado de A-1 Milano) que produz uma forma de HDL (o "bom" colesterol) que protege os vasos sanguíneos de aterosclerose e inflamação vascular, processos que podem levar a ataques cardíacos e derrames. Em 2005, os cientistas modificaram um vírus em laboratório para que ele carregasse o gene mutante. O vírus foi injetado em ratos e implantou o gene no DNA nos animais, que começaram a produzir a proteína do A-1 Milano. Esse método ainda está em estudo.
A grande meta da medicina
Contudo, o grande objetivo dos médicos ainda parece ser a prevenção da aids. Se a camisinha como método preventivo não chegou nem perto de erradicar o HIV, os imunologistas esperam acabar com o vírus usando uma vacina. A doença é a sexta maior causadora de mortes no planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Contudo, ainda há temores de que antes de se imunizar a população o número de infectados aumente, já que o medo da doença tende a diminuir. "Era um receio para obter uma vacina. Se ela for muito boa, as pessoas vão voltar a ter relações sem preservativo", disse o professor da Universidade de São Paulo (USP) Marcos Boulos em entrevista anterior ao Terra.
Para o professor Edecio Cunha Neto, da Universidade de São Paulo (USP), existem dois motivos para uma busca tão grande para uma substância que evite o HIV: primeiro, a prevenção atual depende da vontade humana, o que se mostra muitas vezes falho; segundo, a maior parte dos novos casos ocorre em países pobres, que não têm dinheiro para pagar por remédios.
O próprio Cunha Neto pesquisa uma injeção para prevenir o HIV. E os primeiros testes, em camundongos, já foram positivos na resposta imunológica e sem reações adversas graves. O estudo deve seguir para testes com macacos rhesus, geneticamente muito mais parecidos com o ser humano e que podem ser infectados com a aids símia.
O pesquisador da USP explica que o projeto deles usa fragmentos do DNA do vírus e os coloca em outros vírus atenuados que já são usados em vacinas (o da febre amarela, o adenovírus e o próprio vaccínia), o que o professor espera que aumente a resposta imunológica nos primatas.
Os cientistas vão testar todos esses vírus e tentar descobrir qual dá a melhor resposta. "Hoje a gente acredita que a melhor resposta vá surgir por combinação de vários vetores vacinais diferentes. Vai ser a nossa porta para identificar qual é a combinação que vamos precisar para ter a melhor resposta de todas".
Cunha Neto acredita que essa "nova geração" de injeções - contra câncer de pulmão, aterosclerose e outras doenças -, vá vingar. Ele lembra, por exemplo, que a maior parte dos casos de tumores de útero pode ser evitado ao prevenir o HPV. "Isso vai ser cada vez mais factível na medida em que o conhecimento dos processos da doença ficarem mais claros. Por exemplo, só foi possível fazer uma vacina que controlasse o câncer de útero depois que surgiu a informação muito clara de que o vírus é o fator principal causal. Se não tivesse essa informação básica, ela não poderia nem ser desenhada".
Mas quando essas substâncias, se derem certo, podem chegar aos hospitais? Não há como prever, já que são necessários muitos testes e, principalmente, dinheiro. Cunha Neto chama a atenção, por exemplo, para o fato de testes com humanos custarem caro, já que precisam ser de melhor qualidade para não colocar a vida dos participantes em risco.
"O custo é de 100 a mil vezes maior do que o custo do material que você usa com animal experimental. Só um de pelo menos dois componentes que devemos usar nas vacinas para o teste (com humanos) custa US$ 250 mil e, o segundo, de US$ 250 mil a US$ 500 mil", diz o professor. E isso é o suficiente para manufaturar doses para testar cerca de 20 pessoas apenas. E isso se tudo der certo durante a pesquisa. Por enquanto, resta estudar.
Após ser atacada com ácido, a modelo Katie Piper conseguiu recuperar a visão após cirurgia pioneira com direito a implante de células-tronco
Foto: Getty Images
Wiens apareceu rodeado de cirurgiões pouco antes de deixar o hospital
Foto: Reuters
Dallas Wiens, 25 anos, teve o rosto implantado em março deste ano por uma equipe de 30 pessoas no Brigham and Women's Hospital de Boston, Massachusetts
Foto: Reuters
O primeiro americano a receber um transplante total de rosto fez sua primeira aparição pública após a cirurgia no dia 9 de maio de 2011
Foto: Reuters
O jovem do estado americano do Texas ficou ferido em novembro de 2008, quando sua cabeça encostou em um fio de alta-tensão
Foto: Reuters
As queimaduras "apagaram" o rosto de Dallas Wiens
Foto: AFP
A equipe de médicos, enfermeiros e anestesistas trabalharam 15 horas para substituir nariz, lábios, pele, músculos e os nervos que permitem as sensações
Foto: AFP
A cirurgia, avaliada em US$ 300 mil dólares, foi financiada pelo ministério americano de Defesa no âmbito de seu apoio à pesquisa para os mutilados de guerra
Foto: AFP
O primeiro transplante de face que incluiu as pálpebras e o sistema lacrimal foi realizado na França, em junho de 2010
Foto: AFP
O americano precisa continuar com a reabilitação para reconstruir suas funções nervosas.Leia notícia relacionada
Foto: AFP
A estudante russa Darya Egorova, 6 anos, passou por uma cirurgia pioneira contra um câncer de osso, em Londres. Cirurgiões retiraram parte do osso da canela e o reimplantaram após tratamento com radioterapia
Foto: Divulgação
O americano Kyle Johnson, 25 anos, descia uma colina de skate em Salt Lake City, nos Estados Unidos, sem capacete, quando sofreu uma queda. Johnson sobreviveu após cirurgiões retirarem os dois lados de seu crânio e guardarem no congelador para diminuir a pressão no cérebro, o que pode permitir a total recuperação do paciente
Foto: Reprodução
Um menino iraquiano, portador de uma doença rara, foi submetido a uma cirurgia inovadora para ter sua vida salva na Índia em dezembro de 2010
Foto: Barcroft Media / Getty Images
Sirwaan Sohran sofre de Malformação Aneurismática da Veia de Galeno, que dificulta a circulação do sangue no cérebro
Foto: Barcroft Media / Getty Images
A doença causava a saída de sangue do órgão pelo olho esquerdo do menino e inchava a região
Foto: Barcroft Media / Getty Images
Para salvar a vida do filho, o pai do menino o levou até Nova Delhi, onde os cirurgiões decidiram pela operação
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A cirurgia inovadora consistiu em fazer desvios ou passagens alternativas para o sangue
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A equipe com uma dúzia de médicos demorou cinco horas para terminar a cirurgia, que foi considerada um sucesso
Foto: Barcroft Media / Getty Images
A doença dificultava a circulação de sangue no cérebro de Sirwaan
Foto: Barcroft Media / Getty Images
A cirurgia do menino Sirwaan foi considerada um sucesso pelos médicos
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O médico Shakir Hussain, ao lado de Sirwaan, participou da cirurgia
Foto: Barcroft Media / Getty Images
Sohram Jaffer, pai da criança iraquiana, a levou à Índia para a cirurgia
Foto: Barcroft Media / Getty Images
O agricultor chinês Li Guoxing foi o primeiro do país a receber um transplante de face, após ser atacado por um urso preto em 2003
Foto: Getty Images
Li Guoxing apareceu para a mídia em julho de 2006, em Kunming, província chinesa de Yunnan, três meses depois do transplante
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O agricultor chinês procurava por uma ovelha perdida nas montanhas perto de seu vilarejo quando foi atacado por um urso preto
Foto: Getty Images
Devido ao ferimento na face, Li Guoxing não podia comer, beber ou sorrir como uma pessoa normal
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Li Guoxing morreu em julho de 2008 em sua casa no sudoeste da China
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O médico de Guoxing e um oficial do governo confirmaram a morte do agricultor, alertando para os riscos de rejeição da operação
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Adele Chapman, da Irlanda do Norte, foi a primeira criança a se submeter a um triplo transplante de órgãos em 1998, envolvendo o fígado, o intestino delgado e o pâncreas
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O agricultor francês Olivier Lavolee foi submetido a uma cirurgia que salvou sua vida em 2002. Uma furadeira de 200 kg caiu de um trator em sua cabeça
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Imagem gerada por computador, divulgada pelo hospital Vall d'Hebron, em Barcelona, mostra procedimento usado no transplante de face
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Procedimento cirúrgico mostrado na imagem foi realizado no primeiro transplante facial completo do mundo em 2010
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O espanhol Oscar foi a primeira pessoa a receber um transplante facial completo
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Ele foi submetido à cirurgia de transplante de face em 2010, depois de ter o rosto desfigurado devido a um acidente
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Oscar concedeu coletiva de imprensa no hospital Vall d'Hebron, em Barcelona, em julho de 2010
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Oscar posa para foto junto com a equipe médica responsável por seu transplante de face no hospital Vall d'Hebron, em Barcelona.Leia notícia relacionada
Foto: Getty Images
O primeiro transplante de mão do mundo ocorreu em 1998, na França
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Segundo o médico que operou o neozelandês Clint Hallam, em 2000 ele decidiu por amputar a mão transplantada
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Rafael foi o segundo paciente a receber um transplante de face na Espanha em 2010
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O espanhol Rafael sofre de neurofibromatose, uma doença em que tumores se formam, causando a desfiguração do rosto. Leia notícia relacionada
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O procedimento cirúrgico foi realizado em maio de 2010, no hospital Virgen del Rocio, em Sevilla
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Um grupo de médicos do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, realizaram a primeira telecirurgia do hemisfério Sul em 2000. O homem que aparece bebendo é o médico americano Louis Kavoussi, do hospital Johns Hopknis, em Baltimore, e que coordena a cirurgia
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Isabelle Dinoire foi a primeira pessoa do mundo a receber um transplante facial, ocorrido em 2005, na França
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Ela teve a face mordida por um labrador em maio de 2005
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Em novembro do mesmo ano, Isabelle foi operada pelos professores Bernard Devauchelle e Jean-Michel Dubernard no Centre Hospitalier Universitaire em Amiens, cidade próxima à capital Paris
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A operação de Isabelle Dinoire foi considerada um sucesso
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Os médicos disseram ter enfrentado questões éticas para realizar a cirurgia de Isabelle
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Mason Dixon foi o primeiro paciente a sobreviver a um transplante parcial de fígado de um doador vivo. A cirurgia ocorreu no Royal Prince Alfred Hospital, EM Sidney, na Austrália
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A anomalia cardíaca do bebê iraquiano Bayan Jassem conseguiu unir, pela primeira vez na história, Israel e Iraque - dois países inimigos
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Em 2003, a menina foi submetida a uma cirurgia no coração em Tel Aviv
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Ela passou por uma cirurgia para estabilizar sua condição em Bagdá, para poder vijar para Israel
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O grupo humanitário israelense Save a Child's Heart organizou a viagem de Bayan
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Em 1996, Chelsey Thomas, 7 anos, se submeteu a uma cirurgia para corrigir o distúrbio que a impedia de ter qualquer expressão facial
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Chelsey, que nasceu com a Síndrome de Moebius, teve transplantado um músculo da perna em sua bochecha direita
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O primeiro coração artificial do mundo foi posto à prova em Robert Tool, 59 anos, em 2001
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A operação foi realizada no hospital judeu em Louisville, nos Estados Unidos
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O Dr. Laman Gray (E) e o Dr. Rob Dowling (D), mostram o o coração artificial em coletiva de imprensa
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As gêmeas siamesas Maria de Jesus Quiej-Alvarez e Maria Teresa Quiej-Alvarez foram separadas através de ato cirúrgico em 2002, nos Estados Unidos
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A cirurgia complexa durou cerca de 23h e envolveu mais de 50 membros da equipe médica
Foto: AFP
Um bebê de 13 meses de idade foi submetido, em 2005, no Peru, a uma cirurgia para corrigir a má-formação em suas pernas. Ela ficou conhecida como a "menina sereia" por causa do problema
Foto: AFP
A menina Milagors Cerron nasceu com uma má-formação congênita nomeada de Sirenomelia