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Vínculo de pessoas com animais preocupa infectologistas

23 set 2009 - 17h06
(atualizado às 17h15)
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Brenda Goodman

Por décadas, o germe MRSA, resistente a medicamentos, era causa de preocupação quase exclusivamente para os seres humanos e se difundia primordialmente em hospitais e outras instituições de saúde. Mas nos últimos anos, o germe vem se tornando problema cada vez mais sério para os veterinários e o número de infecções que causa em pássaros, roedores, gatos, cachorros, cavalos e porcos está em alta.

O germe MRSA tem se tornado problema cada vez mais sério para os veterinários e o número de infecções em animais está em alta
O germe MRSA tem se tornado problema cada vez mais sério para os veterinários e o número de infecções em animais está em alta
Foto: The New York Times

Isso, dizem os especialistas em doenças infecciosas, está se tornando um risco para os seres humanos que são donos desses animais ou passam o tempo em contato com eles. "O que aconteceu pela primeira vez, ao menos em nossa percepção, é que surgiu um ciclo reverso de contaminação de um lado a outro", diz Scott Shaw, diretor do comitê de controle de infecções da Escola Cummings de Medicina Veterinária, na Universidade Tufts.

Não se sabe com que frequência animais domésticos desempenham um papel no contágio de seres humanos pelo vírus Staphylococcus aureus, resistente à meticilina, e vice-versa; médicos e veterinários não costumam determinar a origem dessas infecções. Mas quando esse trabalho de investigação científica é conduzido, no entanto, em geral em casos que envolvam infecções múltiplas ou recorrentes, os resultados oferecem um forte vínculo.

Em 2008, por exemplo, um filhote de elefante e 20 de seus tratadores no Zoológico de San Diego contraíram infecções de pele por MRSA. Uma investigação pelos dirigentes do zoológico e pelas autoridades estaduais de saúde determinou que o filhote, que terminou sacrificado, havia sido involuntariamente contaminado por um tratador que portava a bactéria, mas não sabia disso. O caso foi reportado em estudo publicado pela revista Morbidity and Mortality Weekly Report.

Mas os especialistas ainda não estão recomendando testes de rotina quanto à doença para os animais caseiros e os seres humanos. Em lugar disso, apelam pelo mesmo tipo de precaução adotada com relação a outros patógenos, especialmente a lavagem ou sanitização frequente das mãos antes e depois de brincar com um animal.

Os primeiros casos de MRSA em animais, registrados cinco anos atrás, pareciam afetar cães de terapia e outros animais expostos a pacientes ou profissionais de saúde. Essa categoria de animais ainda é vista como em risco acentuado, mas o padrão pode estar mudando.

Em estudo publicado semanas atrás pela revista American Journal of Infection Control, Elizabeth Scott e seus colegas no Centro de Hiegiene e Saúde no Lar e Comunidade, do Simmons College, em Boston, conduziram exames em superfícies domésticas tais como ralos de pia e banheiro, controles de torneira, vasos sanitários, cadeirinhas de bebê, latas de lixo e esponjas de cozinha, em 35 endereços selecionados aleatoriamente, para determinar que germes seriam encontrados. E eles localizaram o MRSA em quase metade das casas da amostra.

Quando tentaram determinar o que tornaria mais provável a presença doméstica dessa bactéria, descartaram diversos supostos fatores de risco, entre os quais, o exercício em academias de ginástica, ter filhos que usam creches, casos recentes de infecção ou uso de antibiótico, e até mesmo trabalhar em um centro de saúde.

A única variável que previa com probabilidade esmagadora a presença de MRSA em uma casa era a presença de um gato. Os proprietários de gatos tinham oito vezes mais probabilidade de ter germes de MRSA em casa. "Há diversos estudos que estão saindo no momento e demonstram que os animais de estimação apanham o MRSA de nós", diz Scott, "e depois o retornam ao meio ambiente". O próximo estudo de Scott avaliará pacientes que têm cirurgias eletivas marcadas. Nos casos em que identificar MRSA, ela estudará também os animais dessas pessoas, a fim de determinar se a transmissão entre esses grupos é comum ou não.

"Estamos em meio a uma epidemia cada vez mais intensa", disse o Dr. Richard Oehler, especialista em doenças infecciosas na escola de medicina da Universidade do Sul da Flórida, em Tampa, que revisou relatórios de casos de transmissão de MRSA entre pessoas e animais. O estudo de Oehler foi publicado em julho pela revista Lancet.

Oehler narrou o caso de um homem diabético que sofria de infecção recorrente na pele por MRSA; a origem terminou por ser traçada ao seu cachorro, um dálmata que portava a bactéria mas não estava doente. "O cachorro dormia na cama das pessoas da casa e as lambia no rosto", disse o Dr. Farrin Manian, diretor de doenças infecciosas no Centro Médico St. John¿s Mercy, em St. Louis.

Manian acredita que o cachorro tenha sido infectado pelo dono, inicialmente, mas que mais tarde se tenha tornado um repositório da bactéria, causando a reinfecção do proprietário. "Só depois de tratarmos toda a família e o animal conseguimos nos livrar de todas as infecções", disse Manian.

J. Scott Weese, clínico veterinário e microbiologista da Universidade de Guelph, no Canadá, acredita que a transmissão de MRSA entre animais e humanos seja relativamente rara, mas os animais podem ser um risco considerável porque seu relacionamento com os seres humanos é próximo. "Se você pensar naqueles com quem se relaciona de mais perto em termos de duração, intensidade e intimidade, para a maioria dos seres humanos estaremos falando de cônjuges, filhos pequenos e animais de estimação", afirma Weese. "E para algumas pessoas, os animais estão em primeiro lugar nessa lista".

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times
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