Script = https://s1.trrsf.com/update-1731009289/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Pesquisadores da USP isolam variante Ômicron do coronavírus

Trabalho permitirá monitorar a disseminação da nova cepa e avaliar a eficácia de vacinas contra a covid-19 empregadas atualmente no Brasil

13 dez 2021 - 13h46
(atualizado às 14h20)
Compartilhar
Exibir comentários
Imagem ilustrativa mostra ampolas de vacinas contra o coronavírus com o nome da variante Ômicron
Imagem ilustrativa mostra ampolas de vacinas contra o coronavírus com o nome da variante Ômicron
Foto: Kevin David/A7 Press / Estadão

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) conseguiram isolar a cepa da variante Ômicron do coronavírus, o Sars-Cov-2. Amostras da variante estão sendo cultivadas em células e, dentro de duas semanas, começarão a ser distribuídas para laboratórios com nível 3 de biossegurança (NB-3) e pesquisadores de todas as regiões do Brasil a fim de ajudar a detectar a disseminação da Ômicron pelo país.

Além disso, o isolamento da nova cepa permitirá avaliar a eficácia das vacinas contra a nova cepa aplicadas atualmente na população brasileira.

"É a primeira vez que a cepa Ômicron é isolada no Brasil", diz Edison Luiz Durigon, professor do ICB-USP e coordenador do projeto, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

A cepa da variante Ômicron foi detectada em um casal de brasileiros que mora na África do Sul e que veio ao Brasil a passeio. O casal passou por exames no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, que detectou a infecção pelo coronavírus e encaminhou amostras ao ICB-USP na última quarta-feira, 8."Essa amostra foi rapidamente sequenciada pelo hospital, que confirmou que era a cepa Ômicron. Pegamos essa amostra e colocamos em cultura de célula", explica Durigon.

O grupo de pesquisadores do ICB-USP também foi o primeiro a conseguir isolar e cultivar em laboratório a cepa original do SARS-CoV-2 que chegou ao Brasil, no final de fevereiro de 2020.

Na época, alíquotas do vírus cultivado em laboratório foram distribuídas para grupos de pesquisa e laboratórios clínicos públicos e privados em todo o país e permitiram o desenvolvimento dos primeiros testes diagnósticos de covid-19 no Brasil e a realização de estudos sobre a doença.

"Agora, estamos preparando alíquotas da cepa Ômicron para poder distribuir para laboratórios e grupos de pesquisadores que queiram padronizar novos testes para identificar essa variante rapidamente em outras cidades e Estados", afirma Durigon.

A previsão é de que no período de duas semanas haverá um estoque suficiente de vírus cultivado para dar início à distribuição pelo país. "Para os laboratórios que estão necessitando com mais urgência, conseguimos enviar algumas alíquotas mais rapidamente", diz Durigon.

Neutralização por efeito citopático

O isolamento da cepa original do Sars-Cov-2 e da variante Ômicron foi feito por meio de uma técnica de reação de neutralização por efeito citopático, conhecida como VNT, que os pesquisadores do ICB aprimoraram durante a epidemia de zika vírus no Brasil. "Com a chegada do Sars-Cov-2 ao Brasil, conseguimos isolar o vírus e usá-lo como controle padrão de neutralização", disse Durigon em palestra no Simpósio sobre a Coronavac, realizado pelo Instituto Butantan e a indústria farmacêutica Sinovac Biotech, produtora do imunizante, no início deste mês.

Para isolar o vírus, as amostras clínicas dos pacientes são incubadas em cultura de células Vero e levadas para uma estufa, onde permanecem entre 48 e 72 horas. A partir de 48 horas, os pesquisadores observaram que o Sars-Cov-2 causa mudanças (efeitos citopáticos) bastante características nas células hospedeiras. "As células ficam bastante arredondadas. Algumas variantes do Sars-Cov-2 causam até sincícios [formação de células multinucleadas por fusão de células uninucleadas ou por muitas divisões celulares incompletas de células]", afirma Durigon. "Após 72 horas, conseguimos isolar 100% das amostras com relativa facilidade", diz.

A técnica de neutralização também foi empregada para avaliar a produção de anticorpos neutralizantes no soro ou plasma de convalescentes da covid-19.

Nesse ensaio, o soro ou o plasma sanguíneo do paciente é diluído de maneira seriada e incubado com quantidades conhecidas do vírus. A mistura de soro e vírus é então transferida para as culturas de células Vero e o efeito citopático do vírus é avaliado depois de 72 horas. O resultado é reportado como a maior diluição do soro capaz de neutralizar o efeito citopático do vírus. "O plasma de pacientes convalescentes, com altos títulos de anticorpos neutralizantes, ainda é usado hoje no tratamento de pacientes com covid-19 em estado grave e no tratamento precoce, nos primeiros sete dias de infecção", explica Durigon.

Os pesquisadores também empregaram a técnica VNT para avaliar a quantidade de anticorpos neutralizantes induzidos pela Coronavac. Os resultados de dois estudos, com a participação de 580 e 866 indivíduos vacinados com o imunizante, respectivamente, demonstrou que, após a segunda dose, a Coronavac induz a produção de anticorpos neutralizantes em títulos altos, chegando até 640 para as cepas Wuhan, P1 (gama), P2 (zeta) e delta. Os títulos atingem um pico entre 30 e 60 dias após a segunda dose. Depois há uma queda, mas ainda são detectáveis até cinco meses após a vacinação, e a memória imunológica perdura.

"Diferentemente de vacinas que estão sendo usadas para induzir a produção de anticorpos contra a proteína spike - usada pelo SARS-CoV-2 para se conectar com o receptor da célula humana e viabilizar a infecção -, a CoronaVac também induz anticorpos contra a nucleoproteína do vírus. Isso aumenta muito a imunidade geral", avalia Durigon.

O acompanhamento de alguns pacientes vacinados com a Coronavac e que contraíram a doença posteriormente também indicou que esses indivíduos, mesmo após seis meses terem recebido a segunda dose da vacina, apresentam resposta muito rápida à infecção, com aumento abrupto dos títulos de anticorpos neutralizantes. "Essa resposta rápida à infecção permitiu que esses pacientes apresentassem quadros leves da doença. Nenhum deles precisou ser internado", afirmou Durigon.

A ideia, agora, é avaliar se a variante Ômicron é capaz de escapar ou não dos anticorpos de pacientes que receberam as diferentes vacinas aplicadas no país.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade