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Petroleiras cortam investimentos em energias renováveis

14 abr 2009 - 20h12
(atualizado às 20h14)
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Jad Mouawad

Estados Unidos

O governo Obama quer reduzir o consumo de petróleo, ampliar a oferta de energia renovável e reduzir as emissões de dióxido de carbono, o que representa a mais ambiciosa transformação na política energética dos Estados Unidos em uma década.

Mas as gigantes petroleiras do planeta não estão convencidas de que o plano funcionará. Enquanto Washington trabalha freneticamente em suas medidas de energia, muitas das empresas de petróleo se mantêm à margem e recusam investir nas novas tecnologias que o presidente defende, e evitam até mesmo se afastar de compromissos de investimento que já tenham assumido.

A Royal Dutch Shell anunciou no mês passado que congelaria seus investimentos em energia eólica, solar e por hidrogênio, e concentraria sua atividade de energias alternativas nos biocombustíveis. A empresa já vendeu boa parte de seus negócios de energia solar e no ano passado se afastou de um projeto de construção do maior complexo mundial de geração de energia eólica, perto de Londres.

A BP, uma empresa que passou nove anos alegando que estava avançando "para além do petróleo", desde 2007 decidiu avançar de volta para ele, cortando seu programa de energias renováveis. E as empresas petroleiras norte-americanas, que sempre se mantiveram mais céticas do que as rivais europeias quanto às energias alternativas, estão ignorando deliberadamente as novas mensagens que Washington vem enviando.

"Em minha opinião, nada mudou de fato", disse Rex Tillerson, presidente-executivo da Exxon Mobil, logo que o presidente Barack Obama foi eleito. "Não nos opomos a fontes alternativas de energia e ao seu desenvolvimento. Mas apostar o futuro do país nessas alternativas desafia a realidade, em função da escala e tamanho requeridos".

O governo deseja investir US$ 150 bilhões nos próximos 10 anos para criar o que define como "um futuro de energia limpa". O plano tem por objetivo diversificar as fontes de energia do país ao encorajar maior uso de fontes renováveis, e quer reduzir o consumo de petróleo e as emissões de dióxido de carbono geradas pela queima de combustíveis fósseis.

As empresas de petróleo já veicularam muitos anúncios em que expressam seu interesse por novas formas de energia, mas seus investimentos reais contradizem a retórica de marketing. A maior parte de seus investimentos se dirige a recursos petroleiros tradicionais, entre as quais fontes de energia que gerarão fortes emissões, como as areias que contêm petróleo e o gás natural do xisto betuminoso, enquanto os investimentos alternativos respondem por fração mínima de seus gastos. Isso pouco mudou desde que o presidente Obama assumiu.

"A escala de seus investimentos alternativos é tão absurdamente ínfima que é difícil até encontrar algum deles", diz Nathanel Greene, analista sênior do Conselho de Defesa de Recursos Naturais dos Estados Unidos. "Essas empresas de maneira alguma acreditam que precisem estar na vanguarda desse processo". Talvez não surpreenda que a maioria dos investimentos em fontes alternativas de energia estejam sendo realizados por outros setores que não o petroleiros.

Nos últimos 15 anos, as cinco maiores companhias de petróleo investiram cerca de US$ 5 bilhões no desenvolvimento de fontes de energia renovável, de acordo com Michael Eckhart, presidente do Conselho Americano de Energia Renovável, uma organização setorial. Isso representa apenas 10% dos US$ 50 bilhões canalizados para o setor pelos fundos de capital para empreendimentos e por investidores empresariais, ao longo do período, ele diz.

"As grandes empresas petroleiras não consideram a energia alternativa como um negócio importante", diz Eckhart. "Para eles, é uma atividade colateral". A Shell, por exemplo, afirma ter investido US$ 1,7 bilhão desde 2004 em projetos alternativos. Essa quantia quase desaparece diante dos US$ 87 bilhões que investiu em projetos de petróleo e gás natural em todo o mundo, no mesmo período. Este ano, os investimentos gerais de capital da empresa estão cotados em US$ 31 bilhões, a maior parte dos quais para o desenvolvimento de combustíveis fósseis.

Os executivos do setor rebatem alegando que comparar investimentos em projetos de petróleo e gás natural aos seus esforços de pesquisa no segmento de energia renovável é enganoso. Dizem que embora os combustíveis renováveis sejam necessários, ainda estão em estágio inicial de desenvolvimento, e o petróleo continuará a ser a fonte dominante de energia por décadas.

Em suas projeções de longo prazo, a Exxon afirma que, até 2050, os hidrocarbonetos - que abarcam petróleo, gás natural e carvão - responderão por cerca de 80% do total mundial de energia, a mesma proporção de hoje. "A energia renovável é muito real", declarou David O¿Reilly, presidente-executivo da Chevron, em discurso em Nova York em novembro passado.

"Precisamos dela. Será parte essencial do futuro em que acredito. Mas não é realista supor que possa substituir a energia convencional no prazo sugerido por alguns". A despeito do entusiasmo recente em Washington pelos combustíveis ecológicos, executivos do setor argumentam que substituir parcela significativa dos combustíveis fósseis é um processo que levará décadas.

De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), apenas para acompanhar o crescimento na demanda por energia convencional, os produtores terão de investir mais de US$ 1 trilhão ao ano, daqui até 2030.

Tradução: Paulo Migliacci

The New York Times
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