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Por que a Nasa quer levar batatas para Marte

5 jan 2016 - 06h11
(atualizado às 08h12)
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Para pesquisadores, batatas poderiam alimentar uma futura colônia humana em Marte
Para pesquisadores, batatas poderiam alimentar uma futura colônia humana em Marte
Foto: CIP

Pouco sabemos sobre os detalhes da viagem que, em algum momento do futuro, levará o primeiro explorador humano a Marte.

Porém, é bem possível que a batata peruana figure na dieta desse astronauta pioneiro.

A Nasa (agência especial americana), em conjunto com o Centro Internacional da Batata (CIP, na sigla em espanhol), com sede no Peru, está fazendo experimentos para descobrir como se desenvolveriam os tubérculos peruanos em solo marciano.

Para isso, deram início a um cultivo experimental de batata em condições que simulam as do planeta vermelho.

Segundo as instituições, na Terra há poucos lugares para o teste melhores que o deserto de Pampas de la Joya, no Peru, na fronteira com o Chile.

"São solos vulcânicos que não contêm nenhuma forma de vida, assim como em Marte", afirmou à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, Joel Ranck, chefe de comunicações do CIP.

Dieta para todos

O cultivo da batata tem um lugar especial na cultura peruana
O cultivo da batata tem um lugar especial na cultura peruana
Foto: CIP

Além das paisagens "marcianas", há outro motivo que torna o Peru o local ideal para fazer experimentos com batatas.

"Aqui temos 4,5 mil variedades de batata. Por isso, o Peru é um lugar muito bom para descobrir qual delas melhor se ajustaria às condições de Marte", afirma o porta-voz da CIP, instituição que faz parte de uma rede internacional de centros de investigação agrícola.

Na primeira fase do experimento, Julio Valdivia, um cientista peruano afiliado à Nasa, colherá amostras do solo desértico e entregará aos laboratórios da CIP, onde até nove tipos de batata serão testados nessas condições severas.

A partir daí, será usada uma tecnologia desenvolvida pela Nasa para replicar também as condições atmosféricas de Marte, e ver que efeitos elas teriam sobre as plantas.

A ideia é deixar os astronautas com uma boa ideia do quão viável seria a colonização agrícola do planeta com esse tipo de cultivo.

Hollywood

Trata-se de uma ideia que, de alguma maneira, está na moda graças a Hollywood.

É exatamente isso que faz o personagem de Matt Damon, um astronauta abandonado no planeta vermelho, no recente filme Perdido em Marte.

Para sobreviver nos meses que antecedem a chegada de uma missão de resgate, ele semeia o tubérculo em solo marciano, e assim consegue se alimentar.

"As batatas são uma excelente fonte de vitamina C, ferro e zinco", lembra Ranck.

"Não acreditamos que ninguém deva depender exclusivamente de um só alimento, mas a batata é muito nutritiva. Uma só, fervida, entrega a vitamina C que um adulto precisa para um dia", explica.

Segundo ele, não há dúvidas de que a batata seria uma parte importante da dieta variada e balanceada da qual necessitariam os astronautas para levar adiante suas tarefas a 225 milhões de quilômetros da Terra.

Laboratórios da CIP têm amostras de mais de 4 mil tipos de batata
Laboratórios da CIP têm amostras de mais de 4 mil tipos de batata
Foto: CIP

Batata congelada

Uma das variáveis que preocupam os pesquisadores é que as batatas comecem a germinar antes do tempo.

"Estimamos que a viagem a Marte leve nove meses", conta o porta-voz da CIP.

E como já sabe qualquer um que tenha armazenado batatas em casa, depois de um tempo os tubérculos começam a germinar. Por isso, a ideia seria congelá-las durante a travessia espacial.

Os experimentos que buscam responder a essas questões serão realizados na sede da CIP, em Lima, e em outras localidades, incluindo o deserto.

Eventualmente também se integrarão ao time de pesquisadores especialistas e estudantes de universidades de vários países, que ajudariam a reunir os dados necessários para o estudo.

O conhecimento a ser obtido, aliás, não se limitará à aplicação em viagens interplanetárias.

"A batata é o terceiro cultivo mais importante do mundo, e é parte da dieta de quase todas as culturas humanas", explica Ranck.

Com o aquecimento global e a desertificação, fica cada vez mais importante encontrar variedades mais resistentes a condições de seca, lembra.

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