Por que Relógio do Juízo Final está mais perto da hora da destruição do que nunca
Ameaças nucleares, possíveis abusos de avanços em biologia e inteligência artificial e mudanças climáticas significam que estamos a apenas 89 segundos da destruição da humanidade, de acordo com o relógio simbólico criado pelo Boletim dos Cientistas Atômicos.
O Relógio do Juízo Final, que simboliza o quanto a humanidade está perto da destruição, avançou um segundo, chegando a 89 segundos para a meia-noite, o mais próximo que já esteve.
O Boletim de Cientistas Atômicos (BAS, por sua sigla em inglês), que ajusta o relógio anualmente, diz que os principais impulsionadores desse avanço são ameaças nucleares, possíveis usos indevidos de avanços em biologia e inteligência artificial e mudanças climáticas.
Daniel Holz, presidente do Conselho de Ciência e Segurança do BAS, disse que o acontecimento foi "um aviso a todos os líderes mundiais".
O relógio foi originalmente ajustado para sete minutos para a meia-noite em 1947. Em 2024, ele foi ajustado para 90 segundos.
Na declaração feita na terça-feira (28/1), a BAS, uma organização sem fins lucrativos sediada em Chicago, disse que "ao adiantar o relógio um segundo para a meia-noite, estamos enviando um sinal claro".
"Dado que o mundo já está perigosamente perto do abismo, uma mudança de até mesmo um único segundo deve ser considerada uma indicação de perigo extremo e um aviso inequívoco de que cada segundo de atraso na reversão do curso aumenta a probabilidade de um desastre global."
"Este relógio é um diagnóstico claro da nossa realidade", alertou o ex-presidente colombiano e ganhador do Prêmio Nobel da Paz Juan Manuel Santos.
Santos, que lidera a organização The Elders, fundada por Nelson Mandela, participou da apresentação do relógio.
"A única resposta eficaz é que as nações trabalhem juntas, e é por isso que é tão alarmante que o presidente Trump tenha declarado sua intenção de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris", disse Santos, referindo-se ao tratado internacional que busca limitar o aquecimento global.
'Efeito Trump'
O colombiano também lamentou a decisão "prejudicial" de Trump de retirar os Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS), pois "isso terá enormes ramificações para a segurança sanitária global".
O Boletim de Cientistas Atômicos alertou que a guerra na Ucrânia — agora entrando em seu terceiro ano desde a invasão russa — "poderia se tornar nuclear a qualquer momento devido a uma decisão precipitada, acidente ou erro de cálculo".
"O conflito no Oriente Médio ameaça sair do controle e levar a uma guerra maior sem aviso prévio."
O grupo de cientistas também disse que "as perspectivas a longo prazo para as tentativas do mundo de lidar com as mudanças climáticas continuam ruins, com a maioria dos governos falhando em promulgar as iniciativas financeiras e políticas necessárias para deter o aquecimento global".
No âmbito biológico, continuou o BAS, "doenças emergentes e reemergentes continuam ameaçando a economia, a sociedade e a segurança do mundo".
Ele também alertou que "várias outras tecnologias disruptivas avançaram em 2024 de maneiras que tornam o mundo mais perigoso".
"Sistemas que incorporam inteligência artificial têm sido usados para fins militares na Ucrânia e no Oriente Médio. E vários países estão avançando na integração de IA em seus Exércitos."
A organização enfatizou que todos esses perigos "são grandemente exacerbados por um poderoso multiplicador de ameaças: a disseminação de fake news, desinformação e teorias da conspiração que degradam o ecossistema de comunicação e cada vez mais confundem a linha entre a verdade da falsidade".
De acordo com o BAS, os Estados Unidos, a China e a Rússia "têm o poder coletivo de destruir a civilização", acrescentando que as três nações "têm a responsabilidade primária de tirar o mundo do abismo".
"Ainda temos tempo para tomar as decisões certas para voltar os ponteiros do Relógio do Juízo Final", disse Santos. "Na Colômbia, dizemos que 'cada segundo conta'."
Em 2020, os ponteiros do relógio marcaram 100 segundos para meia-noite. Nos anos seguintes, em 2021 e 2022, os ponteiros permaneceram no mesmo lugar, mas em 2023 foram adiantados para 90 segundos, onde permaneceram em 2024.
Em 1991, com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética assinaram o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start), o primeiro tratado a prever cortes profundos nos arsenais de armas nucleares estratégicas de ambos os países. A medida levou o boletim a atrasar o relógio em 17 minutos para meia-noite.
Esse foi o ponto mais distante que os ponteiros do relógio do desastre chegaram.
![BBC News Brasil](https://p2.trrsf.com/image/fget/sc/80/30/images.terra.com/2022/03/25/logo-novo-bbc-1jicr7q0d5dtk.png)