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Robô da Nasa identifica 'arrotos' de metano em Marte

17 dez 2014 - 15h29
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Jonathan Amos

Crédito: Nasa
Crédito: Nasa
Foto: BBC Mundo / Copyright

Correspondente de Ciência da BBC News

Cientistas ainda são cautelosos quanto à existência de vida em Marte, mas reconhecem indícios identificados pelo Curiosity

O robô Curiosity – criado pela Nasa para explorar a superfície de Marte – identificou metano no planeta 'vizinho' à Terra, o que poderia ser um sinal de vida por lá no passado ou mesmo no presente.

O robô detectou a presença constante de níveis bastante baixos do gás, mas também registrou "picos" de concentração bem mais elevada.

O fato de existir metano em Marte é intrigante porque, na Terra, 95% desse gás vem de organismos microbiais, como bactérias.

Pesquisadores também levantaram a hipótese de que a presença dessas moléculas em Marte possa ser um sinal de existência de vida no planeta.

A equipe do Curiosity não conseguiu identificar de onde vinha exatamente o metano encontrado, mas a maior probabilidade é de que tenha vindo dos estoques subterrâneos que são periodicamente vasculhados pelo robô.

O cientista do projeto Sushil Atreya disse que era possível que os chamados hidratos de metano estivessem envolvidos.

"Essas coisas são como gaiolas moleculares de água-gelo, onde o gás metano está aprisionado. De vez em quando, essas moléculas poderiam ser desestabilizadas, talvez por alguma tensão mecânica ou térmica, e o gás metano seria liberado para encontrar o seu caminho através de fendas ou fissuras na rocha para entrar na atmosfera ", explicou o professor da Universidade de Michigan à BBC News.

A questão que ainda permanece no ar é como o metano teria chegado às reservas de hidrato.

Pode ter vindo de microorganismos; pode também ter vindo de um processo natural, como reações químicas decorrentes da interação de água com alguns tipos de formações rochosas. Até o momento, tudo é especulação. Mas pelo menos o Curiosity já identificou o gás.

Amostras

O fato de o robô ter demorado para detectar o gás - que já vinha sendo observado por satélites em órbita em Marte e por telescópios na Terra - causou um certo estranhamento.

O Curiosity se encontra em uma cratera na superfície de Marte chamada Cratera Gale.

Robô identificou presença de metano na superfície do planeta vermelho

Ele tem sugado o ar de Marte para investigar seus componentes desde que aterrissou no planeta, em agosto de 2012.

Para gases que têm concentrações muito baixas na atmosfera, o robô utiliza uma técnica especial que expele a molécula mais abundante – dióxido de carbono – antes de analisar a amostra.

Isso tem o efeito de enriquecer e ampliar qualquer resíduo químico.

E ao fazer isso com o metano, o Curiosity descobriu que há uma presença constante de algo perto de 0,7 partes de bilhão por volume (ppbv).

"O pano de fundo sugere que há cerca de 5.000 toneladas de metano na atmosfera", disse o Dr. Chris Webster, do Jet Propulsion Laboratory da Nasa, que liderou a investigação.

"Você pode comparar isso com a Terra, onde há cerca de 500 milhões de toneladas. A concentração aqui na Terra é de cerca de 1.800 ppbv."

Vida

Os picos de metano detectados pelo Curiosity ocorreram em quatro ocasiões durante no curso de um período de dois meses.

Eles variaram entre cerca de 7 e 9 partes de bilhão por volume.

É provável, segundo a equipe, que o gás esteja sendo liberado em um lugar relativamente perto do robô, seja no interior da cratera ou do lado de fora.

A estação climática do Curiosity sugere que o gás está vindo do norte, na direção da borda da cratera.

Uma forma de investigar se o metano de Marte tem origem biológica ou geológica seria estudar os tipos, ou isótopos, de átomos de carbono no gás.

Na Terra, a vida favorece uma versão mais leve do elemento (carbono-12) sobre uma mais pesada (carbono-13). Uma proporção alta de C-12 em relação a C-13 em rochas antigas da Terra foi interpretada como prova de que existia atividade biológica no nosso mundo quatro bilhões de anos atrás.

Se os cientistas descobrirem provas similares em Marte, seria surpreendente. Mas, infelizmente, os volumes de metano detectados pelo Curiosity são simplesmente pequenos demais para fazer esse tipo de experimento.

"Se tivéssemos enriquecido nossa amostra durante um dos picos, poderíamos ter tido uma chance de examinar esses isótopos", explicou o Dr. Paul Mahaffy, investigador-chefe de Análise de Superfície do Curiosity em Marte (SAM).

"Eu acho que ainda há alguma esperança. Se o metano voltar, e podermos enriquecê-lo, vamos certamente estar tentando."

Longa busca

Outra grande descoberta do Curiosity é que o robôr também confirmou a existência de compostos orgânicos (ricos em carbono) em amostras de rochas.

É a primeira vez que são identificados elementos orgânicos em materiais da superfície do Planeta Vermelho.

O robô encontrou evidências de clorobenzeno em um pedaço de rocha pulverizada extraído de um lamito (tipo de rocha sedimentar) apelidado de Cumberland.

Clorobenzeno é um anel de carbono com cinco átomos de hidrogênio e um átomo de cloro ligados.A equipe não consegue ter certeza se o elemento químico estava especificamente presente no Cumberland ou se foi produzido durante o aquecimento na análise. Mas mesmo que seja o último caso, os cientistas parecem confiantes de que a molécula seria, no mínimo, derivada de estruturas de carbono maiores que as que estavam no local.

Mais uma vez, os cientistas estão interessados em confirmar a existência de tais produtos orgânicos porque a vida como a conhecemos só pode existir onde há capacidade de troca de moléculas de carbono.

Se elas não estão presentes, então não poderá haver biologia. No entanto, assim como com a identificação do metano, isso por si só não é um indício automático de vida em Marte, agora ou no passado, porque há uma abundância de processos abióticos que irá produzir estruturas de carbono complexas também.

"É um grande dia para nós - é uma espécie de coroamento de 10 anos de trabalho duro -, em que relatamos que há metano na atmosfera e também existem moléculas orgânicas em abundância sob a subsuperfície", comentou o cientista do projeto Curiosity John Grotzinger.

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