Turbulência no Ártico causa calor e derretimento de geleiras
Uma equipe de oceanógrafos conseguiu evidências de que turbulências no oceano Ártico – provocadas pelo vento – estariam trazendo mais calor das profundezas do mar para a superfície.
Segundo a descoberta dos
pesquisadores, o derretimento das geleiras expõe mais água ao vento, e a turbulência acaba fechando um círculo vicioso de calor, acelerando ainda mais esse derretimento.
A equipe mediu o calor subindo das profundezas e ele equivale ao calor que chega à superfície do sol do outono.
"O calor que vem debaixo da superfície tem sido tão forte quanto o que vem do sol", disse à BBC a cientista-chefe da missão, Jennifer MacKinnon, do Instituto de Oceanografia da Universidade da Califórnia em San Diego.
"É certo que os dias estão ficando mais curtos aqui (no Ártico), então a luz do sol não é extremamente forte nessa latitude. Mas ainda assim, isso é algo que raramente acontece e que nos surpreendeu bastante."
A fonte desse calor das profundezas é uma camada de água quente que é mais salgada – e consequentemente mais densa – do que a água na superfície.
"Há um reservatório de calor no oceano Ártico, bem embaixo da superfície, que historicamente – quando havia muitas geleiras – costumava ficar parado por ali mesmo", explicou MacKinnon. "Ele só estava lá 'quietinho' como uma poça de água quente e salgada abaixo da superfície."
Agora que o "encolhimento" das geleiras está expondo mais água ao vento, os cientistas estão preocupados que essa "poça de água salgada e quente" possa subir à superfície.
Além disso, a equipe de MacKinnon identificou que esse calor estava sendo trazido à superfície por fortes e surpreendentes turbilhões no oceano – que eles estudaram em detalhes por eles com o uso de um instrumento que parece um "canhão com uma agulha com gravador na frente".
Medições
Matthew Alford, pesquisador e líder do projeto, explicou como esse instrumento, desenvolvido na Universidade de Washington, funciona quando é jogado no mar.
"Quando ele encontra correntes de turbulência muito pequenas, a agulha fica levemente inclinada", disse Alford.
"Essas ferramentas estão nos ajudando a ter uma visão mais clara não só da estrutura dessas correntes, mas também a medir diretamente o fluxo de calor no topo delas e na superfície das geleiras."
Algumas dessas correntes estão trazendo água a uma temperatura de 6°C para profundidades menores que 50 metros; essas são mudanças tão drásticas que nem a equipe esperava.
"A força dessas correntes é impressionante", disse MacKinnon. "Nós agora precisamos decifrar qual é a contribuição disso para o processo de derretimento das geleiras a longo prazo."
A expedição chegou ao fim no sábado, quando o navio da Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos retornou ao porto no Alasca.
Entre os outros instrumentos utilizados pela equipe estava um "Swims" (Sistema de mapeamento de água) que poderia ser arrastado atrás do barco para medir continuamente a temperatura, a profundidade e a condutividade.
"A ideia é balançar os sensores na frente do navio e ter uma amostra do oceano 'impertubável'. Isso tem nos mostrado algumas estruturas interessantes nos primeiros 20 metros do oceano."
Os pesquisadores encontraram morsas, papagaios-do-mar e um urso polar durante as semanas que passaram no oceano. Mas MacKinnon alerta que a vida selvagem na região tem aparecido com menos frequência do que antes. "Está parecendo bastante tranquilo aqui, mais do que era."
A temperatura, porém, se manteve bem baixa. "Estava bastante frio. Por várias noites, trabalhamos lá fora, no convés, quando estava nevando e ventando bastante. Fazia -5°C no barco."
Julienne Stroeve, especialista em Ártico no National Snow and Ice Data Centre dos EUA, disse que os novos resultados são interessantes e muito valiosos.
"Acho que é bem importante entender essa mistura das águas quentes das profundezas do oceano com as geleiras", disse à BBC.
Será crucial quantificar exatamente quanto desse calor chega às geleiras e o quanto ele está influenciando no derretimento delas, segundo Stroeve.