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Vacinar ou não os filhos? O encontro de um casal em dúvida com especialistas em imunização

Mark e Victoria estão esperando o primeiro filho, que nasce em agosto, e estavam em dúvida se deviam vacinar ou não o bebê.

3 abr 2019 - 16h06
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Victoria e Mark estão esperando o primeiro filho para o mês de agosto e tinham dúvidas sobre vacinar ou não
Victoria e Mark estão esperando o primeiro filho para o mês de agosto e tinham dúvidas sobre vacinar ou não
Foto: BBC News Brasil

Cada vez mais pais e mães estão ficando confusos a respeito da vacinação dos filhos - muitos deles, influenciados pelo "movimento antivacina" nas redes sociais.

Mas será que uma conversa com especialistas pode ajudar a esclarecer as dúvidas de um casal indeciso?

"Estamos inseguros se devemos vacinar ou não o bebê", diz Mark ao programa da jornalista Victoria Derbyshire, da BBC.

Ele e a mulher, Victoria, estão esperando o primeiro filho, que nasce em agosto. Ela já tem outros dois filhos adolescentes, ambos vacinados.

Especialistas garantem que a vacina tríplice viral - que protege contra sarampo, caxumba e rubéola - é segura, sendo aplicada em milhões de crianças em todo o mundo.

Mas Mark e Victoria, por exemplo, não têm tanta certeza disso. "As pessoas tendem a aceitar as coisas sem questionar", diz ele.

"Quando um profissional diz alguma coisa, você considera aquilo [como verdadeiro]."

Para se informar, eles costumam pesquisar sobre o assunto principalmente na internet.

Kampmann esclarece que a quantidade de alumínio presente nas vacinas é muito pequena
Kampmann esclarece que a quantidade de alumínio presente nas vacinas é muito pequena
Foto: EPA / BBC News Brasil

"É bom fazer sua própria pesquisa, fazer as mesmas perguntas ou questionar as respostas, não importa de onde tenham vindo."

E eles não estão sozinhos neste raciocínio.

Estatísticas da empresa de dados SEMrush, obtidas pelo programa da BBC, revelam um crescimento de 296% nas buscas sobre vacina contra o vírus do sarampo, caxumba e rubéola (tríplice viral) nos últimos 12 meses no Reino Unido, enquanto o termo de pesquisa "antivacina" aumentou 171%.

No entanto, é na internet que circulam muitas informações falsas sobre vacinas - consideradas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um dos fatores por trás do aumento preocupante nos casos de sarampo no mundo - inclusive, no Brasil.

Com base em dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI), o Unicef alerta para uma queda no percentual da população imunizada com a tríplice viral a cada ano desde 2015.

'Injetando alumínio'

Victoria e Mark se encontraram com a professora Beate Kampmann, diretora do Centro de Vacinas da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, para perguntar sobre uma de suas principais preocupações.

"Por que você acha que é aceitável injetar alumínio em bebês quando a substância é proibida em produtos como aerossóis?"

Kampmann diz que muitas pessoas estão preocupadas com os ingredientes extras usados na composição das vacinas.

"O alumínio é uma parte muito importante das vacinas porque ajuda o que é realmente importante nas vacinas, os ingredientes virais bacterianos, a funcionar bem no organismo", diz ela.

"Do jeito que você fala, parece que estamos dando uma injeção enorme de alumínio no corpo. Não é esse o caso."

"A concentração é de apenas um milésimo do que você encontraria no ambiente natural e do que já temos em nossos corpos", acrescenta a especialista.

Mark diz ainda que a bula da vacina nem sempre é oferecida aos pais antes da aplicação da injeção.

E algumas bulas a que ele e Victoria tiveram acesso alertam que a vacina não deve ser administrada se a criança for alérgica - mas como os pais poderiam saber?

Kampmann esclarece que a principal preocupação de alergia é que algumas vacinas, como a tríplice viral, contêm traços da proteína do ovo.

"Você sabe quando tem alergia a ovo", diz ela. "E deve chamar a atenção para isso."

"Na época em que o bebê receber essa vacina em particular, você vai saber ele tem ou não, porque há ovo em muitos outros tipos de produtos."

Metas financeiras

O médico Julian Spinks, da clínica Court View, em Rochester, no Reino Unido, aborda outra preocupação do casal - por que as clínicas no país são pagas a cada vacinação.

"Ficamos nos perguntando se os GPs (sigla para "general practitioner", espécie de clínico geral no Reino Unido) são pressionados para atingir metas de ganho financeiro?"

'Uma das dificuldades é que muitos dos sites antivacinação levantam questões muito obscuras, que seriam impossíveis de esclarecer em um pequeno folheto', diz Spinks
'Uma das dificuldades é que muitos dos sites antivacinação levantam questões muito obscuras, que seriam impossíveis de esclarecer em um pequeno folheto', diz Spinks
Foto: BBC News Brasil

Spinks diz que eles têm algumas metas, mas que a quantia envolvida é relativamente pequena.

"O valor que recebemos por vacina é de cerca de 10 libras (cerca de R$ 50)", revela o médico.

"Quando você cobre todos os custos que temos, que envolve o registro de pessoas, pagamento de enfermeiras, funcionários, e assim por diante, mais da metade desta verba vai embora."

"Então, na verdade, sendo realista, é uma quantia muito pequena de dinheiro que recebemos."

Opcional ou compulsório?

Mark e Victoria também ficam incomodados com a suposta rapidez do sistema de saúde público do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) na hora de oferecer vacinas - sem explicar todos os possíveis riscos.

"Não acho que haja omissão de informação, [mas] talvez as pessoas pudessem obter mais", avalia Spinks.

"Uma das dificuldades é que muitos dos sites antivacinação levantam questões muito obscuras, que seriam impossíveis de esclarecer em um pequeno folheto."

"Isso não significa que não vamos responder a perguntas."

"Por que, então, não é explicado claramente aos pais que as vacinas são opcionais?", questiona Mark.

Spinks afirma que sempre avisa aos pais que a imunização é voluntária, apesar de recomendar fortemente.

"Em última análise, é uma escolha dos pais", diz ele, "mas eu tenho preocupações porque acredito que a imunização protege, protege seu filho e também protege as crianças ao seu redor, por causa disso, na verdade, impede a propagação do vírus de uma criança para outra."

No Brasil, a tríplice viral faz parte do Calendário Nacional de Vacinação, sendo oferecida gratuitamente nos postos de saúde.

Os pais que deixam de levar os filhos para a vacinação obrigatória correm o risco de ser multados ou processados por negligência e maus tratos, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que "é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias".

Para Mark e Victoria, a conversa com os especialistas foi "esclarecedora e informativa".

"Ficamos satisfeitos que os profissionais tiveram empatia", diz Mark, "e sentiram que precisa haver mais informações disponíveis e treinamento para profissionais de saúde".

"Espero que outros pais agora se sintam confortáveis a seguir em frente."

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