Cientistas inventam "câncer do bem" que cura feridas de diabéticos
Estudo descobriu que células imunes podem ser treinadas para promover a cicatrização de feridas diabéticas
Pesquisadores da Universidade de Macau e da Escola de Ciências da Vida da Universidade de Nanjing, na China, descobriram um jeito inusitado de curar feridas de pacientes diabéticos: treinando as células do sistema imunológico saudáveis para adquirir as habilidades de alguns tumores, acelerando o processo de cicatrização. Os resultados foram publicados na revista científica EMBO Molecular Medicine.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 422 milhões de pessoas em todo o mundo têm diabetes. Entre as complicações da doença, estão as úlceras do pé diabético (DFUs) – que causam uma amputação a cada 30 segundos em média.
Uma das razões fundamentais por trás do estado de não cicatrização das úlceras, em comparação com feridas comuns na pele, é a disfunção de um grupo misto de células imunes chamadas macrófagos. Eles mudam suas funções para coordenar a cicatrização de feridas em diferentes estágios, mas falham em fazê-lo sob uma condição diabética.
Esperança
A técnica é inspirada nos macrófagos associados ao tumor (TAMs), que desempenham papéis essenciais na condução do desenvolvimento de cânceres, secretando fatores que promovem a formação de vasos sanguíneos e inibindo o ataque ao sistema imunológico.
A hipótese do estudo é de que os anticorpos que agem contra tumores poderiam "transmitir" essas habilidades para células imunes não-tumorais por meio de cocultura, de uma forma que os TAMs influenciam outras células no crescimento.
Com experimentos em camundongos, os pesquisadores descobriram que macrófagos normais derivados da medula óssea desses animais podem ganhar um novo conjunto de funções pró-regenerativas após a cocultura com as células associadas ao câncer.
Quando transferidas para o local da ferida em camundongos diabéticos, essas células induziram de forma potente a proliferação, resolveram a inflamação e orquestraram a vascularização nas feridas que normalmente não cicatrizavam.
Com o resultado positivo, os cientistas querem continuar o trabalho para entender as variações dos macrófagos manipulados, enfrentando os desafios do controle de qualidade e acelerando os testes pré-clínicos em humanos.