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Coletar mais dados sobre saúde nos tornará mais saudáveis?

Dispositivos como pulseiras inteligentes e relógios estão se tornando cada vez mais poderosos, mas de que maneira eles de fato contribuem?

8 set 2020 - 05h12
(atualizado às 08h41)
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Segundo a Amazon, as pessoas deveriam usar um aparelho que monitora o condicionamento físico, faz imagens em 3D do nosso corpo, e analisa quando a nossa voz soa estressada. Seja bem-vindo a um futuro provavelmente útil – e possivelmente arrepiante – dos cuidados com a saúde.

Apple Watch mostra o calendário sem eventos
Apple Watch mostra o calendário sem eventos
Foto: Reuters

Lançada há duas semanas, a nova pulseira inteligente da Amazon que colhe dados sobre a nossa saúde mostra quanto as tecnologias usadas sobre o nosso corpo evoluíram nos últimos anos. Aparelhos relativamente simples que registravam quantos passos as pessoas tinham dado transformaram-se em sistemas holísticos que prometem guiá-las e orientar os médicos, melhorar a nossa saúde, e talvez até detectar doenças como a covid-19, antes de sabermos que estamos doentes.

Segundo o princípio que sustenta estas tecnologias, coletando mais dados poderemos contribuir para nos tornarmos mais saudáveis. A mensagem dos especialistas com os quais conversei é que esta ideia tem certo potencial, mas ainda não foi devidamente explorada.

Por hora, os sistemas que rastreiam a saúde e o condicionamento físico podem ser muito úteis para certas pessoas – mas não para todas. Conheço algumas que juram que eles as ajudam a administrar seu peso, e outras que se exercitam mais porque o relógio inteligente da Apple, o Apple Watch, as elogia quando o fazem.

Mas uma grande limitação dos aparelhos que monitoram a nossa saúde é o fato de que eles não sabem o que fazer com os dados que colhem a respeito do nosso batimento cardíaco, ou das nossas horas de sono. "Não estamos fazendo um trabalho muito bom para a educação das pessoas no uso destas informações. Esta é a peça que está faltando", afirmou John Jakicic, diretor do Healthy Lifestyle Institute da Universidade de Pittsburgh.

As empresas que produzem estas tecnologias de monitoramento sabem que este é um problema, e prometem cada vez mais sugerir as medidas que as pessoas – ou seus médicos – podem extrair de todos os dados coletados pelos aparelhos.

Por exemplo, a Amazon afirma que seu sistema de monitoramento sugere qual é o exercício mais eficiente para alguns. A Fitbit diz que seus sensores podem avaliar o nosso nível de estresse. Amazon, Apple e outras companhias também estão tentando integrar informações sobre a nossa saúde fornecidas pelas respectivas tecnologias em registros médicos eletrônicos. Em princípio, isto significa que um paciente com um problema cardíaco poderá transmitir diariamente ao médico as leituras do seu eletrocardiograma.

Entretanto, não está sempre claro se o conhecimento proporcionado por estes monitores são úteis ou precisos. Jesselyn Dunn, professora da Drake University, que estuda o emprego de dados médicos coligidos por aparelhos vestíveis, disse que os pesquisadores em geral não têm condições de acessar ou confirmar as avaliações feitas pelas companhias de tecnologia a partir de dados das pessoas.

Dunn está otimista quanto ao potencial das tecnologias de monitoramento da saúde para os médicos e para as pessoas em geral. Mas ela disse que a falta de transparência torna difícil saber por que motivo uma tecnologia deste tipo poderia sugerir à pessoa que necessita de mais uma hora de sono ou pode estar prestes a apresentar uma perigosa anomalia no coração.

Por isso, se estiverem pensando em adquirir um destes aparelhos, pensem o que vocês poderão fazer com ele em termos realistas. Será útil para saber quanto dormiram, ou para a Amazon calcular o seu grau de estresse pelo tom da sua voz? Pensem até que ponto confiam na companhia que produz o aparelho com informações sensíveis a respeito do seu organismo.

Talvez os achem úteis. Mas não esperem que eles ofereçam curas milagrosas.

Estadão
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