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Como a peste negra ainda afeta nossa resposta a doenças autoimunes

Pesquisa internacional avaliou diversas amostras de esqueletos em Londres e na Dinamarca; resultados foram publicados na Nature

21 out 2022 - 17h22
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Sob uma ampliação de 1000X, imagem revela bactérias Yersinia pestis
Sob uma ampliação de 1000X, imagem revela bactérias Yersinia pestis
Foto: Divulgação / CDC

Um estudo de cientistas internacionais analisou o DNA secular de vítimas e sobreviventes da pandemia da peste negra, que assolou a Europa no século 14, e identificou diferenças genéticas importantes na evolução do nosso sistema imunológico. As descobertas foram publicadas na quarta-feira (19) na revista Nature.

Pesquisadores descobriram que o mesmo DNA que antes conferia proteção contra a Peste Negra, causada pela bactéria Yersinia pestis, está hoje associado a uma maior suscetibilidade a doenças autoimunes, como a doença de Crohn e a artrite reumatóide

A pesquisa de sete anos envolveu análise de gene isolado de três grupos diferentes de restos esqueléticos desenterrados mais de 500 em Londres e amostras adicionais na Dinamarca: vítimas da peste, aqueles que morreram antes da Peste Negra e aqueles que morreram entre dez e 100 anos após o ataque da praga. 

Adaptação genética

Para chegar aos resultados, cientistas procuraram sinais de adaptação genética relacionados à praga. Eles identificaram quatro genes (chamados de alelos) que estavam envolvidos na produção de proteínas que defendem nossos sistemas de patógenos invasores. Descobriram que versões desse DNA protegiam ou tornavam alguém suscetível à peste.

Segundo o estudo, os indivíduos com duas cópias idênticas de um determinado gene, conhecido como ERAP2, sobreviveram à pandemia em taxas muito mais altas do que aqueles com o conjunto oposto de cópias. Esses genes, consideradas “bons”, permitiram uma neutralização mais eficiente da bactéria pelas células do sistema imunológico.

O geneticista evolucionista Hendrik Poinar, autor do artigo e diretor do Centro de DNA Antigo da Universidade McMaster, explicou que quando uma pandemia dessa natureza — que mata de 30% a 50% da população — ocorre, é provável que haja seleção de alelos protetores em humanos. Isso significa que pessoas suscetíveis ao patógeno da epidemia se tornam vítimas. 

“A vantagem significa a diferença entre sobreviver ou passar. É claro que os sobreviventes em idade reprodutiva passarão seus genes", disse em um comunicado. 

Ainda de acordo com o estudo, os europeus que viviam na época da Peste Negra eram muito vulneráveis porque não tiveram exposição recente à bactériaYersinia pestis. Segundo os estudiosos, à medida que picos da pandemia ocorreram repetidamente nos séculos seguintes, as taxas de mortalidade diminuíram.

As estimativas são de que as pessoas com o alelo protetor ERAP2 (a boa cópia do gene, ou característica), tinham 40% a 50% mais chances de sobreviver do que aquelas que não o possuíam.

Evolução do sistema imunológico

De acordo com os pesquisadores, nosso sistema imunológico evoluiu para responder de maneiras diferentes aos patógenos. Assim, o que antes era um gene protetor contra a peste na Idade Média hoje está associado a uma maior suscetibilidade a doenças autoimunes. 

O impulso dado pela variante protetora do ERAP2 também pode ter resultado em impactos negativos para a saúde das populações europeias modernas. Essa mutação, eles observam, também é um fator de risco para doenças autoimunes, como a doença de Crohn — condição inflamatória séria do trato gastrointestinal que afeta predominantemente a parte inferior do intestino delgado. 

“Entender a dinâmica que moldou o sistema imunológico humano é fundamental para entender como pandemias passadas, como a peste, contribuem para nossa suscetibilidade a doenças nos tempos modernos”, finaliza Poinar.

Fonte: Redação Byte
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