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Trem da Linha 4-Amarela são operados por sistema automático   Foto: Metrô de São Paulo

Como a tecnologia pode deixar o transporte urbano mais eficiente e sustentável no Brasil

Tecnologias sustentáveis usadas no transporte da Suíça também são implementadas no país, mas dependem de mais apoio público e privado

Imagem: Metrô de São Paulo
  • Anna Gabriela Costa
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5 ago 2024 - 05h00

Mais de 185 milhões de brasileiros utilizam transporte público por mês nas principais capitais do país. A frota de veículos particulares ultrapassou os 111 milhões e a malha rodoviária do Brasil compreende cerca de 1.720.909,0 km; no entanto, mais da metade das rodovias (66%) apresentam algum problema no estado geral.

Os dados são do Anuário da Confederação Nacional do Transporte (CNT), realizado em 2022, que consolidou informações do setor público e privado sobre o transporte no Brasil. 

Os números trazem um panorama do caos vivenciado nas principais metrópoles do país: ônibus e trens lotados, engarrafamentos e estradas em situações precárias

Somos o quinto maior país do mundo, com peculiaridades geográficas que tornam um enorme desafio a mobilidade eficiente sustentável. Desta forma, é possível traçar um paralelo com um país considerado um dos mais desenvolvidos do mundo?

Brasil x Suíça

Especialistas defendem que há soluções tecnológicas acessíveis ao Brasil, que poderiam tornar a nossa mobilidade de primeiro mundo
Especialistas defendem que há soluções tecnológicas acessíveis ao Brasil, que poderiam tornar a nossa mobilidade de primeiro mundo
Foto: Divulgação/Siemens

Dados do World Data Bank comparam os dois países: o Brasil conta com 8.510.345 km² e a Suíça 41.277 km², sendo o primeiro quase 200 vezes maior. 

Apesar de ser um país pequeno, a Suíça possui uma densa rede de linhas ferroviárias que abrange tanto áreas urbanas, regionais quanto de longa distância. Desde 2004, a rede da maior operadora de infraestrutura, a SBB, está totalmente eletrificada, tornando o transporte ferroviário um dos modos de transporte mais sustentáveis.

Em paralelo, especialistas defendem que há soluções tecnológicas acessíveis ao Brasil que podem ser implementadas para tornar a nossa mobilidade urbana de primeiro mundo.

Para aprofundar o debate, o Byte esteve na Suíça para entender como funciona este sistema de transporte eficiente, tecnológico e, principalmente, sustentável. 

No país, a Siemens é responsável pela automação dos principais veículos, como trens e teleféricos. Afinal, a Suíça tem desafios geográficos parecidos com algumas regiões do Brasil: montanhas e temperaturas extremas. 

A Gornergrat Railway (GGB) por exemplo, chega a uma altitude de 3.089 metros e é a segunda ferrovia de montanha mais alta da Europa.

A GGB adotou o primeiro modelo operacional baseado em nuvem, facilitado pela Siemens Mobility. A tecnologia elimina a necessidade de infraestrutura de servidores no local e permite o gerenciamento remoto de sistemas críticos, por exemplo.

O sistema integrado de controle e informação, conhecido como “Iltis”, permite o controle remoto de sinalização, monitoramento das operações e gerenciamento dos sistemas de informações aos passageiros.

Byte esteve na Suíça para entender como funciona este sistema de transporte eficiente, tecnológico e, principalmente, sustentável
Byte esteve na Suíça para entender como funciona este sistema de transporte eficiente, tecnológico e, principalmente, sustentável
Foto: Divulgação/Siemens

“A digitalização das infraestruturas é uma alavanca extremamente importante para a sustentabilidade e a eficiência energética. Combinamos os mundos real e digital para impulsionar a transformação sustentável da infraestrutura", disse Matthias Rebellius, membro do Conselho de Administração CEO da Siemens Smart Infrastructure. 

No Brasil, esta tecnologia da Siemens é aplicada na cidade mais populosa do país: São Paulo. A linha 4 (amarela) do metrô, por exemplo, tem operação totalmente automatizada. 

Para Andreas Facco Bonetti, CEO Siemens Mobility Brasil & América Latina, mais importante do que construir novas linhas, é essencial ter uma visão do desenho da futura rede como um todo.

"Os trens devem poder circular em mais de uma linha, utilizando os mesmos sistemas de vias, eletrificação padronizada e tecnologia de sinalização uniforme. Soluções individuais, como monotrilhos, teleféricos e trens com diferentes sistemas de sinalização, podem dificultar a interoperabilidade da rede e aumentar os custos de manutenção", disse Bonetti ao Byte.

O especialista cita o desafio em São Paulo, com uma rede que cresceu ao longo de décadas com diferentes operadoras e tecnologias. "Um exemplo disso é a Linha 4 - Amarela, que possui um alto grau de automação, enquanto outras linhas ainda utilizam tecnologias analógicas antigas".

Ou seja, focar apenas na construção de novas linhas não é suficiente. A manutenção confiável e a modernização contínua também são aspectos igualmente relevantes.

Trem da Linha 4-Amarela são operados por sistema automático
Trem da Linha 4-Amarela são operados por sistema automático
Foto: Metrô de São Paulo

Tecnologia, sustentabilidade e conforto para passageiros

Bonetti destaca que a utilização de tecnologias de sinalização digital avançadas pode aumentar o número de trens circulando nas linhas já existentes, o que resultaria no aumento do conforto e segurança dos passageiros. 

Com sistemas digitais modernos, os trens podem operar com frequências de apenas 90 segundos entre eles, permitindo um transporte eficiente de grandes demandas.

Questionado sobre a capacidade do Brasil em avançar na “mobilidade inteligente e sustentável”, o especialista comenta que é essencial que exista a vontade política e a capacidade de gerenciar projetos de infraestrutura complexos ao longo de décadas. 

Linha 4-Amarela liga o centro da cidade a bairros da zona sul de São Paulo
Linha 4-Amarela liga o centro da cidade a bairros da zona sul de São Paulo
Foto: Evelson de Freitas/Estadão / Estadão

Para Marcelino Aurélio, chefe do Departamento de Engenharia de Transportes da Politécnica-UFRJ, o fato de o Brasil ainda usar muito combustível fóssil, evidencia que há muito a melhorar para de fato a gente ter uma mobilidade urbana sustentável.

No entanto, o professor destaca que a tecnologia pode ser uma forte aliada neste processo, desde a diminuição das distâncias percorridas até a eficiência energética dos veículos. 

"A tecnologia apoia no planejamento, para otimizar os recursos e na questão de informação. Quando a gente incentiva o transporte ativo, de fato se usa menos combustíveis fósseis e vai para um caminho mais sustentável. É um conjunto de soluções", diz o engenheiro. 

O que o governo brasileiro está fazendo

O Brasil possui uma legislação federal, a Lei n° 12.587/2012, para orientar as prefeituras e governos de estados na aplicação do conceito de mobilidade urbana sustentável.

Este conceito de sustentabilidade, segundo o governo federal, se baseia na promoção do deslocamento de cargas e pessoas no território urbano de maneira a permitir o acesso às diferentes regiões de forma socialmente igualitária, segura, limpa e econômica.

Em entrevista ao Byte, o Secretário Nacional de Mobilidade Urbana, Denis Eduardo Andia, do Ministério das Cidades, afirma que o país tem boas práticas sendo adotadas e que seguem as exigências da política nacional. Dentre as medidas, ele cita:

  • Ações de melhoria do transporte público coletivo, com linhas de metrô, VLT, BRT e corredores de ônibus, que otimizam o espaço público e permite o deslocamento rápido;
  • Renovação da frota de ônibus urbano com tecnologia Euro 6 e Elétrico, que contribuem para a diminuição da emissão de CO₂ e poluentes locais;
  • Ampliação da infraestrutura cicloviária e oferta do serviço de bicicleta compartilhada.

Segundo o secretário, planejar, implantar e operar o serviço de transporte público coletivo envolve uma série de atividades complexas. Com isso, ele destaca a importância da tecnologia neste processo.

"As atuais tecnologias de rastreamento de veículos, monitoramento por câmeras, instalação de centro de controle operacional integrados, desenvolvimento e uso de plataformas de celular para os passageiros, tecnologias de cobrança e inteligência artificial permitem uma melhoria significativa no trabalho dos gestores públicos, dos operadores e especialmente na experiência dos usuários", diz Andia. 

Conforme o secretário, o Ministério das Cidades busca aperfeiçoar os projetos de transporte urbano com o conceito da sustentabilidade, priorizando tecnologias mais limpas.

Para isso, o governo federal anunciou recentemente um pacote de investimentos no âmbito do Novo PAC para promover a mobilidade urbana sustentável. Ou seja, parte dos recursos será destinada à aquisição de veículos elétricos para o transporte público, processo adotado pela Suíça há anos. 

Fonte: Redação Byte
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