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Como Amazon, Microsoft e outras empresas ganham milhões com políticas de Trump contra imigração 

Relatório apresentado por organizações de direitos dos imigrantes afirma que companhias do Vale do Silício fornecem ferramentas para facilitar a vigilância, o rastreamento, a detenção e a deportação de pessoas.

1 nov 2018 - 08h45
(atualizado às 10h09)
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Empresas como Microsoft e Amazon foram criticadas por suposta cooperação com agências que gerenciam a política de imigração dos EUA
Empresas como Microsoft e Amazon foram criticadas por suposta cooperação com agências que gerenciam a política de imigração dos EUA
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Os serviços de vigilância e controle de imigração do governo dos Estados Unidos têm poderosos aliados no Vale do Silício.

Um relatório apresentado pela organização de direitos dos imigrantes Mijente afirma que grandes empresas de tecnologia estão ganhando milhões de dólares com a política anti-imigração conduzida pelo governo de Donald Trump.

Companhias como Amazon, Microsoft e Palantir, citadas no documento, são fornecedoras do Departamento de Segurança Nacional (DHS, na sigla em inglês) e do Serviço de Imigração e Controle Alfandegário (ICE, na sigla em inglês) dos EUA, que contam com tecnologia de ponta para controlar a imigração irregular.

Elas forneceriam ferramentas para facilitar a vigilância, o rastreamento, a detenção e a deportação de pessoas, atividades que tiveram aumento significativo nos últimos dois anos.

Governo americano conta com tecnologia de ponta para conter a imigração irregular
Governo americano conta com tecnologia de ponta para conter a imigração irregular
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Essas tecnologias são usadas em tempo real e muitas empresas estão lucrando com isso", disse Jacinta Gonzalez, da organização Mijente, que conduziu a pesquisa junto ao National Immigration Project e Immigrant Defense Project.

Diferentes funcionalidades

As ferramentas mencionadas no relatório podem servir tanto para identificar e localizar imigrantes sem documentação quanto para recrutar novos agentes para a Patrulha da Fronteira ou criar sistemas de vigilância inovadores.

A Amazon tem mais autorizações federais do que qualquer outra empresa de tecnologia para armazenar dados de diferentes agências governamentais: 204, em comparação com 150 da Microsoft, 31 da Salesforce e 27 do Google.

Cartazes de protesto pedem para Amazon 'não ser cúmplice' do serviço de imigração dos EUA
Cartazes de protesto pedem para Amazon 'não ser cúmplice' do serviço de imigração dos EUA
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A empresa de Jeff Bezos fez amplo uso dessas autorizações e serve como banco de dados do Departamento de Segurança Nacional para armazenamento de informações biométricas de 230 milhões de identidades únicas.

A maioria desses dados são impressões digitais, mas há também 36,5 milhões de registros faciais e 2,8 milhões de imagens da íris dos olhos.

A Amazon Web Services (AWS), subsidiária da Amazon que vende serviços de armazenamento na nuvem, tem um contrato de US$ 6,8 bilhões com o DHS, o que a torna sua principal fornecedora.

O método de armazenamento em nuvem permite que a polícia local, por exemplo, tenha acesso a dados federais de determinados indivíduos.

Os agentes federais de imigração podem, por sua vez, acessar informações das policiais locais, como dados de placas de veículos, mesmo nos casos em que a jurisdição local tenha optado por não cooperar com as forças federais de imigração.

A BBC Mundo entrou em contato com a AWS para saber seu posicionamento em relação à publicação do relatório, e um porta-voz da empresa respondeu que "não vai comentar".

A Palantir, companhia que tem como cofundador o bilionário Peter Thiel, aliado do presidente Donald Trump, também desempenha um papel fundamental no gerenciamento de informações para o ICE.

A empresa criou a ferramenta Falcon Search and Analysis, que ajuda as autoridades a analisar dados e produzir relatórios de inteligência.

Reação dos funcionários

O caso da Microsoft é semelhante ao da Amazon. Liderada por Satya Nadella, a companhia anunciou neste ano que a Azure, seu braço de computação na nuvem, assinou um contrato com o ICE.

Para os executivos da empresa, esse foi um importante passo dentro do lucrativo mercado de agências governamentais.

Satya Nadella, CEO da Microsoft, negou relação com a política do governo americano de separar famílias na fronteira
Satya Nadella, CEO da Microsoft, negou relação com a política do governo americano de separar famílias na fronteira
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Os funcionários da empresa não receberam, no entanto, a notícia com o mesmo entusiasmo.

Centenas assinaram uma carta endereçada a Nadella, exigindo que a empresa encerrasse o contrato de US$ 19,4 bilhões com a ICE e adotasse uma política de não colaboração com certos clientes.

"Acreditamos que a Microsoft deve adotar uma posição ética e colocar as crianças e as famílias acima dos lucros", escreveram.

"Como profissionais que desenvolvem as tecnologias de que a Microsoft se beneficia, nos recusamos a ser cúmplices."

Ao ser questionada pela BBC Mundo sobre a polêmica, a Microsoft enviou a declaração redigida por Nadella em resposta à carta de protesto dos funcionários:

"Quero ser claro: a Microsoft não está trabalhando com o governo dos EUA em nenhum projeto relacionado à separação de crianças de suas famílias na fronteira."

"Nosso compromisso atual de computação na nuvem com o ICE é limitado ao suporte de serviços de e-mail, agenda, mensagens e gerenciamento de documentos."

Além das empresas de tecnologia

Mas não são apenas as empresas de tecnologia que estão sob escrutínio.

As novas tecnologias facilitam a cooperação entre as forças de segurança locais, estaduais e federais
As novas tecnologias facilitam a cooperação entre as forças de segurança locais, estaduais e federais
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Somente em 2017, o ICE destinou quase US$ 3 bilhões para financiar o sistema de detenção de estrangeiros, que trata de casos pendentes de resolução pelos tribunais ou cuja deportação já foi concedida.

A maioria desses centros pertence ou é administrado por empresas privadas, que nos últimos meses de maio e junho foram criticadas por fazerem negócio com a separação de famílias.

Há ainda companhias aéreas como a American Airlines, a Delta, a Southwest, a Frontier, a Alaska Airlines e a United, que alugam seus aviões para a transferência de imigrantes, e também estão sob os holofotes.

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