Como cientistas vivem como astronautas sem tirar os pés da Terra
Instalações espaciais terrestres simulam a vida em outros planetas e testam limites e capacidades das tripulações
Viver em pontos extremos do planeta Terra ou isolar-se, por longos períodos, em habitats que simulam estações espaciais. Cientistas colocam em prática experiências desse tipo e contribuem para conhecimentos geológicos e sobre os desdobramentos psicológicos de quem passa por missões espaciais.
As pesquisas vêm de longe. Em 26 de setembro de 1991, oito pioneiros se trancaram em uma redoma de vidro e aço de 1,27 hectare, completamente vedada ao exterior, na cidade de Oracle, a 50 minutos de Tucson, no Arizona. O espaço ganhou o nome de Biosphere 2 (Biosfera 2), onde foram montados diversos ecossistemas.
Na geleira Thwaites, na Antártida Ocidental, em janeiro de 2023, durante 16 dias, Tara Sweeney e seus colegas viveram em barracas no gelo sob tempestades. "Eu tinha três objetivos: ser uma boa companheira de tripulação, fazer boa ciência e me manter viva."
Em maio, Sweeney participou da Conferência de Astronautas Analógicos de 2023, um encontro de pessoas que simulam viagens espaciais de longo prazo.
O encontro foi sediado na mesma Biosfera 2 (a Biosfera 1 é o planeta Terra) usada nos anos 90. Ela é uma das primeiras instalações construídas para entender se os humanos poderiam criar um ambiente habitável em um planeta hostil.
Ao todo, o mundo conta com 20 instalações espaciais analógicas que hospedam voluntários para os estudos.
Isolados por semanas ou meses em estações polares, postos no deserto ou até mesmo em habitats fechados dentro dos centros da Nasa, esses locais imitam como as pessoas poderiam viver em Marte ou na Lua.
O objetivo das pesquisas é testar ferramentas médicas e de software e solucionar as dificuldades que os astronautas enfrentam, incluindo a readaptação ao “mundo normal” ao final das missões. Também possibilitam avaliar como a capacidade cognitiva muda ao longo de uma missão.
Longe dos riscos reais
As instalações permitem simular missões espaciais sem o preço de realmente ir ao espaço, tanto no aspecto financeiro como em relação à integridade dos astronautas.
Os astronautas analógicos testam equipamentos que vão de trajes espaciais a equipamentos médicos de ambientes extremos.
As missões analógicas "podem nos dar insights sobre como uma pessoa reagiria ou que tipo de equipe – que tipo de mistura de pessoas – pode reagir a alguns desafios", diz Francesco Pagnini, professor de psicologia da Universidade Católica do Sagrado Coração, na Itália, que pesquisou o comportamento e o desempenho humanos em colaboração com as agências espaciais da Europa e Itália.