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Como é viver como um superdotado? Acompanhamento é fundamental

De acordo com o Censo Escolar do Brasil, em 2022 26.815 estudantes brasileiros tinham perfil de superdotação e altas habilidades

10 ago 2023 - 15h44
(atualizado em 28/8/2023 às 15h18)
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Cicero Moraes, brasileiro especializado em reconstruções em 3D de pessoas falecidas
Cicero Moraes, brasileiro especializado em reconstruções em 3D de pessoas falecidas
Foto: Acervo pessoal / Facebook Cicero Moraes

No cenário educacional e social do Brasil, um grupo de indivíduos se destaca por suas mentes exuberantes, capazes de transcender as fronteiras convencionais do intelecto. Esses são os superdotados, um segmento da população cujas habilidades cognitivas estão acima da média. 

Enquanto o Dia do Superdotado, celebrado nesta quinta-feira (10), mostra essa faceta menos conhecida do espectro da educação, também chama atenção para uma importante discussão sobre o entendimento, apoio e potencial negligência desses talentos únicos.

De acordo com o Censo Escolar do Brasil, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 26.815 estudantes brasileiros tinham perfil de superdotação e altas habilidades em 2022.

Entre as linhas da genialidade e complexidade emocional, há também uma realidade onde talento e desafio frequentemente coexistem. No Brasil, o acompanhamento adequado de superdotados ainda é uma questão em debate. Há uma preocupação com a falta de programas educacionais diferenciados e apoio psicológico. 

Neste sentido, muitos superdotados podem sentir a necessidade de buscar oportunidades no exterior, onde possam encontrar ambientes mais adequados para o desenvolvimento de suas habilidades.

Esse foi o caso do brasileiro Cícero Moraes, designer especializado em reconstrruções em 3D de rostos de figuras históricas a partir de seus crânios. Ele descobriu a superdotação aos 39 anos, em 2021. “Na época, eu passei pela crise da meia-idade, algo que acontece com uma série de pessoas sem maiores problemas, mas no meu caso despertou ansiedade e introspecção exacerbadas”, disse ao Byte.

Foi com muita pesquisa e motivação psicológica que ele descobriu ser uma pessoa altamente sensível (PAS) — termo que designa indivíduos mais suscetíveis a estímulos do ambiente e emoções — e, posteriormente, um superdotado. 

“Acerca de superdotados me identifiquei com uma série de características. Isso me motivou a ir atrás de uma especialista na identificação de pessoas com altas habilidades/superdotação (PAH/SD)”, contou Moraes. 

Reconhecendo um superdotado 

Embora haja padrões internacionais para a identificação da superdotação, as abordagens podem variar de país para país. Nas escolas brasileiras, o processo de identificação e reconhecimento de superdotados muitas vezes fica aquém do esperado. 

Sem um sistema eficiente para identificar as habilidades singulares, muitas dessas pessoas passam despercebidas, perdendo a oportunidade de receber estímulos adequados para o desenvolvimento.

Embora os testes de QI (quociente de inteligência) sejam frequentemente utilizados, eles não são os únicos indicadores. As avaliações também levam em conta realizações acadêmicas, criatividade e habilidades específicas. 

A identificação da superdotação é conduzida por profissionais especializados em psicologia e educação, frequentemente em conjunto com testes de QI e avaliações comportamentais.

A Mensa Internacional é a principal sociedade de alto QI do mundo e reúne muitas dessas pessoas pelo mundo, incluindo o Brasil. Para ser membro, é preciso obter pontuação mínima em certos testes de inteligência. No Stanford-Binet é a partir de 132; no Cattell, é 148; e nos testes Wechsler (WAIS, WISC), 130. O escritor russo Isaac Asimov, a atriz dos EUA Geena Davis e o músico da banda Ultraje a Rigor, Roger Moreira, são alguns dos nomes mais famosos da sociedade. 

Cadu Fonseca, vice-presidente da Associação Mensa Brasil (sociedade de alto QI), falou em entrevista ao Byte que o maior desafio é a falta de uma política pública para garantir o direito à educação especial. 

“A Mensa Brasil está em constante contato com o poder público nas três esferas (federal, estaduais e municipais) para promover o público superdotado e oferecer apoio na construção de melhorias”, explicou.

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Moraes procurou a Mensa quando recebeu seu diagnóstico e logo depois se inscreveu para a Intertel, sociedade internacional para pessoas com uma pontuação de QI superior a 99% da população mundial. O objetivo é conversar com eles também e entender como é a abordagem sobre o assunto em outros países.

Em 2015, o Governo Federal chegou a criar um cadastro nacional de superdotados, com a intenção de criar políticas públicas que alcancem esse público e ajudem a desenvolver melhor essas habilidades especiais. Mas Fonseca acredita que o cenário ideal está longe. “A julgar pelo volume esperado de superdotados na população, estamos muito distantes de um atendimento pleno para esse público."

Existe leis para superdotados?

No Brasil existem leis específicas que garantem o atendimento aos alunos superdotados. A Constituição Federal tem o Art. 208, que define como dever do Estado garantir "acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um".

Além disso, há legislações como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, que destina educação especial a certos tipos de alunos, como pessoas com altas habilidades ou superdotação; e Resolução 04/2009 e Parecer 17/2001 do Conselho Nacional de Educação, vinculado ao Ministério da Educação, com condutas especializadas para o ensino de superdotados na rede pública.

Como explicou Claudia Hakim, advogada especialista em direito educacional e neurociências e psicologia aplicada, o aluno superdotado pode receber várias formas de atendimento, a depender das características de cada aluno. Algumas delas são:

  • Aceleração de série para estudantes que tenham alto desempenho acadêmico e maturidade para tanto;
  • Enriquecimento curricular;
  • Adaptação curricular;
  • Flexibilização de currículo;
  • PEI (Plano de Estudos Individualizado);
  • Direito a frequentar as salas de recursos especiais para superdotados.

“É importante frisar que uma forma de atendimento educacional especializado não isenta o aluno de receber outra forma de atendimento junto dela. Ele pode se beneficiar de mais de uma modalidade de atendimento educacional especializado, prevista em lei”, disse Hakim, que é uma das criadoras do Instituto Brasileiro de Superdotação e Dupla Excepcionalidade.

Desafios

Um acompanhamento neuropsicológico é fundamental para pessoas superdotadas. O motivo são as complexidades que podem surgir no seu desenvolvimento cognitivo e emocional.

No caso de Moraes, como a identificação aconteceu de forma tardia, isso afetava seus afazeres. “Há algum tempo começava uma tarefa e ficava horas a fio trabalhando até finalizar o máximo possível, isso me esgotava mas eu teimava em praticar tal ato”, contou. 

Helena Rinaldi Rosa, especialista em avaliação psicológica do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), disse ao jornal da instituição que identificar uma criança superdotada não é tão simples quanto parece.

O reconhecimento começa, diz a professora, quando “a criança faz alguma coisa muito extraordinária, muito acima do que a gente espera da média das crianças, esse é o jeito que as pessoas acabam fazendo. Mas existem instrumentos de psicologia, por exemplo, testes”.

A identificação precoce e precisa das habilidades excepcionais e áreas de desafio ajuda a adaptar estratégias de aprendizado e enfrentamento, garantindo que o potencial seja otimizado. 

Além disso, muitos superdotados enfrentam questões emocionais, como ansiedade de desempenho, perfeccionismo e isolamento social, que podem afetar sua saúde mental e bem-estar. 

O acompanhamento neuropsicológico oferece um suporte especializado para lidar com esses aspectos, promovendo um desenvolvimento saudável e equilibrado, além de ajudar a superar possíveis obstáculos emocionais.

No Brasil, isso ainda é um desafio. Segundo Fonseca, “superdotados primeiro precisam conhecer sua potencialidade. O Brasil sequer conhece a fundo seus superdotados”, disse.

Para Moraes, há a necessidade de um debate mais amplo e uma popularização maior sobre o conceito. "Todo mundo pode ganhar com isso, tanto quem é identificado quanto a sociedade", finalizou.

Fonte: Redação Byte
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