Como em "2001": veja plano da Nasa para fazer naves espaciais falarem
Pesquisadora brasileira Larissa Suzuki explica como a Nasa está desenvolvendo a tecnologia
No filme "2001: Uma Odisseia no Espaço", o supercomputador senciente, HAL 9000, conversa com os pilotos de uma espaçonave em missão a Júpiter, confirmando suas ordens, alertando-os sobre falhas a bordo e, eventualmente, se rebelando.
Agora, os engenheiros da Nasa dizem que estão desenvolvendo sua própria interface no estilo ChatGPT, que pode permitir que os astronautas conversem com suas espaçonaves e os controladores de missão conversem com robôs movidos a inteligência artificial que exploram planetas distantes.
Em artigo exclusivo para o jornal britânico The Guardian, a pesquisadora brasileira Larissa Suzuki conta como a Nasa está desenvolvendo esta interface.
A pesquisadora, que trabalha como diretora técnica no Google, conta que uma personificação inicial da inteligência artificial está programada para ser implantada no Lunar Gateway, uma estação espacial extraterrestre planejada que faz parte do programa Artemis, de acordo com o engenheiro que desenvolve a tecnologia.
“A ideia é chegar a um ponto em que tenhamos interações de conversação com veículos espaciais e eles [estão] também respondendo a nós sobre alertas, descobertas interessantes que eles veem no sistema solar e além”, disse Larissa Suzuki, pesquisadora visitante da Nasa, ao The Guardian.
“Realmente não é mais como ficção científica", afirmou a pesquisadora em um encontro sobre comunicação espacial de próxima geração no Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE) em Londres, na última terça-feira (20).
Suzuki delineou uma rede de comunicações interplanetárias com IA embutida para detectar e possivelmente corrigir falhas e ineficiências à medida que elas ocorrem.
“Em seguida, [o sistema de IA] alerta os operadores da missão de que há uma probabilidade de que as transmissões de pacotes do veículo espacial X sejam perdidas ou falharão na entrega”, disse ela.
“Não podemos enviar um engenheiro ao espaço sempre que um veículo espacial fica offline ou seu software quebra de alguma forma.”
Ao The Guardian, a pesquisadora explica que o sistema também possui uma interface de linguagem natural que permitirá que os astronautas e o controle da missão conversem com ele, em vez de ter que vasculhar manuais técnicos complicados para obter informações relevantes.
Ela prevê que os astronautas possam buscar conselhos sobre experimentos espaciais ou sobre como realizar manobras complexas.
Suzuki também está investigando como implantar o aprendizado de máquina no espaço, onde não é possível executar grandes quantidades de dados por meio de supercomputadores. Ela descreve como uma abordagem conhecida como aprendizado federado, que pode permitir que uma frota de rovers robóticos, buscando água ou minerais específicos em um planeta distante, compartilhe conhecimento.
Isso significa que eles podem continuar aprendendo sem transmitir grandes quantidades de dados de volta à Terra.
“A espaçonave faz atualizações colaborativas com base no que é visto por outras espaçonaves. É uma técnica para fazer aprendizado distribuído – aprender de forma colaborativa sem trazer todos esses dados para o chão.”
Pesquisadora brasileira
Além de seu cargo no Google e das pesquisas realizadas na Nasa, Larissa Suzuki, também participa de uma nova galeria, a Engineers, inaugurada no Museu da Ciência em Londres na última sexta-feira (23).
A galeria destaca tecnologias que vão desde satélites espaciais e robôs cirúrgicos até moda digital, e visa desafiar equívocos sobre o que os engenheiros fazem e quem eles são.
Suzuki diz que trabalhar para a Nasa é a realização de um sonho de infância. “Tenho uma lista de desejos desde os 12 anos. Tem cerca de 500 itens. Trabalhar e colaborar com a Nasa foi um deles", disse ao jornal britânico.
Outros itens de sua lista de desejos incluem conhecer um membro da família real britânica, construir um robô e visitar todos os parques da Disney.
Ela descreve como a paixão pela engenharia a impulsionou durante os difíceis anos escolares. “Eu sofria bullying na escola todos os dias por ser autista e não ter os mesmos interesses de outras meninas da minha idade”, disse.
“Embora eu estivesse isolada e tivesse que enfrentar o bullying, minha verdadeira e profunda paixão por criar coisas para o benefício da humanidade foi o que me fez continuar. Foi isso que me fez seguir em frente para aceitar que não era esquisita, era quem eu sou. Tudo bem se nem todo mundo quiser brincar com Barbies”, contou.
Após frequentar brevemente a faculdade de música, ela abandonou os planos de ser pianista profissional e conquistou um diploma de ciência da computação, onde era a única menina em uma classe de 40 meninos.
Suzuki diz que ser autista pode ter permitido que ela visse além dos estereótipos da engenharia. “Eu queria fazer coisas e resolver problemas para a humanidade e pensei que poderia fazer isso com a ciência da computação”, disse ela.
“Devemos incentivar as mulheres a seguirem carreiras técnicas. Caso contrário, quem será a Ada Lovelace do futuro?” ela disse. “Gostaria que a próxima geração não apenas celebrasse as mulheres do passado, mas também as engenheiras modernas. Deveríamos ter mais mulheres modernas e hardcore na tecnologia também.”