Como era o navio tóxico São Paulo, afundado pela Marinha brasileira
Antigo porta-aviões era cheio de amianto, tintas contendo microplásticos e outros resíduos prejudiciais ao ambiente
Tachado "pacote tóxico de 30 mil toneladas", navio desativado pela Marinha desde 2018 teve submersão controlada a 350 km da costa brasileira, após meses de impasse. ONGs preveem "danos incalculáveis" para meio ambiente.
Apesar dos protestos de diversas organizações ambientais, a Marinha do Brasil anunciou ter afundado no Oceano Atlântico, no fim da tarde de sexta-feira (3), o antigo porta-aviões São Paulo, cheio de amianto, tintas contendo microplásticos e outros resíduos tóxicos.
O "afundamento planejado e controlado", iniciado com três furos no casco, transcorreu a cerca de 350 quilómetros da costa brasileira, a "aproximadamente 5 mil metros de profundidade", informou a Marinha em comunicado.
Na quarta-feira, a instituição admitiu não ter alternativa senão remover o casco de 266 metros de comprimento, descrito pela associação Robin Hood como um "pacote tóxico de 30 mil toneladas": "Tendo em conta os riscos envolvidos no reboque e a deterioração [...] a única solução é abandonar o casco, afundando-o de forma controlada", explicou a Marinha em declaração conjunta com o Ministério da Defesa.
O Ministério Público, que tentou sustar a operação através de uma série de processos judiciais, alertou para as consequências, salientando que o porta-aviões "contém 9,6 toneladas de amianto, uma substância com potencial tóxico e cancerígeno, bem como 644 toneladas de tintas e outros materiais perigosos". Existe um "risco de danos ambientais graves [...] em particular porque o casco está danificado", argumentou o órgão.
"Danos incalculáveis" para o meio ambiente
As organizações ambientalistas não-governamentais Greenpeace, Sea Shepherd e Rede de Ação de Basileia partilhavam a opinião, denunciando "uma violação de três tratados internacionais" sobre o meio ambiente. A submersão vai causar "danos incalculáveis", com "impactos na vida marinha e nas comunidades costeiras", afirmaram as ONGs em declaração conjunta.
De acordo com o portal de notícias G1, contudo, o juiz do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, na capital pernambucana, Recife, argumentou que evitar a operação seria "provavelmente inútil", dada a "iminência de um afundamento espontâneo do casco, que nada faria pelo ambiente e seria suscetível de pôr em perigo a vida da tripulação envolvida na operação de reboque".
O magistrado autorizou o afundamento, embora considerando a solução "trágica e lamentável". Enquanto se aguardava uma decisão judicial, o São Paulo ficou meses meses à deriva diante do litoral de Pernambuco.
Décadas a serviço da Marinha francesa e brasileira
Construído em fins dos anos 1950 no estaleiro naval Saint-Nazaire, no oeste de França, o porta-aviões, o porta-aviões originalmente batizado Foch serviu a Marinha francesa durante 37 anos, antes de ser comprado em 2000 pelo Brasil, por 12 milhões de dólares.
No entanto, devido à idade e a uma série de problemas, incluindo um incêndio em 2005, em 2018 o São Paulo foi desativado como embarcação de combate. Brasília decidiu desfazer-se dele, já que uma reforma sairia demasiado caro.
O estaleiro turco Sök Denizcilik comprou a embarcação em abril de 2021, para sucateá-la, mas não conseguiu encontrar um porto para recebê-la. Assim, o Brasil recebeu o navio de volta, porém não permitiu que atracasse, devido aos danos no casco.
Cerca de duas semanas atrás, a Marinha anunciou ter rebocado o velho porta-aviões para o Atlântico. Dado o estado de degradação e "o elevado risco", que representava para o meio ambiente, reforçou que não autorizaria o regresso a um porto ou a águas costeiras brasileiras.
av (Lusa,AFP,KNA,DPA,ots)