Como funciona programa espião que teria sido usado no governo Bolsonaro
Ferramenta foi usada pelo governo até 2021 e monitorava cada passo de proprietários de dispositivos que acessavam redes 2G, 3G e 4G
O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria usado por três anos, por meio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o FirstMile. Trata-se de um programa secreto para monitorar a localização de cidadãos a partir de dados do celular. As informações foram divulgadas pelo jornal O Globo.
De acordo com a reportagem, a ferramenta não tinha qualquer protocolo oficial e controlava os passos de até 10 mil proprietários de telefones a cada 12 meses.
O FirstMile ofereceu à Abin a possibilidade de identificar a localização da área aproximada dos dispositivos que usam as redes 2G, 3G e 4G”. O software foi desenvolvido pela empresa israelense Cognyte.
Como funciona a FirstMile
No site da Cognyte, a empresa afirma que oferece soluções analíticas para capacitar unidades de campo com insights acionáveis em tempo real.
Eles usam inteligência artificial (IA), aprendizado de máquina e automação para equipar as organizações de segurança com inteligência acionável de dados de grande escala coletados de uma ampla variedade de fontes de rede de comunicação.
A reportagem d'O Globo decobriu que programa permitia rastrear uma pessoa a partir de dados transferidos do celular para torres de telecomunicações instaladas espalhadas pelo país.
Dessa forma, com base no fluxo dessas informações, o sistema oferecia a possibilidade de acessar o histórico de deslocamentos e até criar “alertas em tempo real” de movimentações de um alvo em diferentes endereços.
Procurado pelo jornal, o ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem não quis detalhar se e como usava a ferramenta na sua gestão. "Isso é com a Abin. Tem contrato, tem tudo. A contratação está toda regular. Se tiver algum questionamento, tem que fazer à Abin", disse.
Já a agência não forneceu à reportagem as informações sobre o caso. O Globo também tentou ouvir a empresa responsável pelo programa, que afirmou que não poderia comentar por questão de sigilo contratual.