Como funcionam as tecnologias usadas para contar pessoas em megaeventos
Inteligência artificial, softwares e drones são aliados tecnológicos para contar participantes de eventos
O ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no último domingo (25), na avenida Paulista, em São Paulo, reuniu milhares de apoiadores. Mas, desde o fim do evento, especulações sobre o número de participantes gerou debates. Afinal, como é possível a contagem de tantas pessoas em um megaevento como shows e manifestações?
No evento dos bolsonaristas, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirmou que 600 mil pessoas estiveram presentes. Porém, se considerar as regiões adjacentes à avenida Paulista, a projeção sobe para 750 mil.
Já o Monitor do Debate Político no Meio Digital, projeto de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), calculou um número bem menor, estimando que cerca de 185 mil pessoas estavam na avenida durante o pico do protesto.
A estimativa da USP utiliza uma tecnologia que é uma novidade em relação aos métodos já usados por outros órgãos. A metodologia é utilizada desde agosto de 2022.
Como funciona?
O cálculo do grupo da USP foi feito com 43 fotografias do protesto. Dessas imagens, foram selecionados oito registros, de forma a cobrir a Avenida Paulista em toda a sua extensão, conforme explicou em entrevista ao Estadão o professor Pablo Ortellado, professor de Gestão de Políticas Públicas e coordenador do grupo da USP.
Em seguida, empregou-se um método denominado "Point to Point Network", que consiste em contar o número de cabeças presentes em cada fotografia.
As imagens foram registradas da seguinte maneira:
- Drones tiram fotos na posição vertical;
- A divisão é feita por perímetro;
- Um software excluí imagens sobrepostas, para não contar as mesmas pessoas duas vezes;
Como são feitos vários registros ao longo da duração do protesto, também é possível calcular qual foi o instante com a maior concentração de pessoas no evento, o chamado pico da manifestação.
Segundo o estudo da USP, o pico de 185 mil ocorreu por volta das 15h. Às 17h, havia entre 45 mil e 30 mil pessoas no protesto.
"Criou-se uma cultura política de números grandiosos, não só em manifestações políticas como em outras ocasiões, como a Virada Cultural ou os blocos de carnaval. São números muito grandiosos que não se sustentam quando você vai contar com algum critério", disse o coordenador do estudo ao Estadão.
Inteligência artificial
A tecnologia utiliza inteligência artificial. Apesar de contar com o que há de mais moderno no âmbito do processamento de dados, a ferramenta precisou ser "treinada" manualmente para reconhecer cabeças em imagens de multidão.
Segundo Ortellado, o esforço contou até com um mutirão de alunos da USP para realizar marcações de modo manual. A margem de erro desta metodologia é de cerca de 12%.
Demais contagens
A Secretaria de Segurança Pública também utiliza imagens aéreas para contabilizar o número de pessoas, mas o cálculo não é feito contando cabeças, e sim multiplicando a área observada por um "coeficiente de ocupação".
Ao Estadão, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que se baseia em informações que combinam "imagens aéreas" com "informações das equipes em terra".
Em posse de um coeficiente que indica a densidade de pessoas em uma determinada área, o policiamento calcula quantas pessoas estiveram na região. "A técnica consiste basicamente na multiplicação da área ocupada pelo coeficiente de ocupação", diz a nota da SSP.
O cálculo é realizado pelo Centro de Operações da Polícia Militar do Estado de São Paulo (Copom) e o software utilizado para a projeção se chama Copom Online, uma ferramenta de uso interno da corporação.