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Como pega? De onde veio? Veja 5 mistérios sobre a varíola do macaco

Doença já existe desde 1970, mas surto atual no mundo tem estimulado pesquisas para descobrir as particularidades do novo vírus

6 ago 2022 - 05h00
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Possíveis lesões de monkeypox.
Possíveis lesões de monkeypox.
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Alardeada como a nova epidemia global pós-covid, a chamada varíola do macaco é mais antiga do que você pensa. É uma zoonose viral — ou seja, vem de um vírus transmitido inicialmente por animais para humanos — identificada em diversos países africanos desde 1970, e nos últimos 20 anos também nos Estados Unidos, Reino Unido e Cingapura.

Em 2022, porém, vários países registraram surtos da varíola símia. O Brasil já conta com 1.800 casos, incluindo grávidas e crianças, sendo o sexto país do mundo em diagnósticos. Os EUA lideram com mais de 6.600 casos.

O vírus tem DNA de dupla cadeia e pertence ao gênero Ortoxoxvirus da família Poxviridae. É transmitido via contato com lesões, fluidos corporais e gotículas respiratórias de outras pessoas, além do contágio de mãe para filho pela placenta. Também é consenso que é um vírus "parente" da varíola humana, erradicada do planeta. Mas, apesar da comunidade científica já saber muita informação sobre o vírus, ainda resta muito a se descobrir.

Formas de contágio, imunidade e sintomas da varíola do macaco

Os padrões de infecção e de transmissão ainda são muito incertos na varíola do macaco. Por exemplo, não sabemos ainda se pessoas assintomáticas podem transmitir a doença. Nem se o indivíduo ganha imunidade depois de contraí-la, ou por quanto tempo ela dura.

Outro ponto é que os sintomas ainda estão sendo analisados. Um novo estudo publicado pelo The British Medical Journal mostrou que uma parcela relevante de pessoas infectadas apresentaram inchaço peniano (31, de um total de 197), o que pode indicar que essa seja também uma das queixas da doença.

As mais tradicionais, no entanto, são as “bolinhas” vermelhas na pele (erupções cutâneas), que só aparecem normalmente após o período de incubação. Elas têm acompanhado dores de cabeça, calafrios, febre e outras características.

Apesar disso, em um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) com 5.255 membros infectados, 4.808 se infectaram por meio de encontro sexual, 315 por contato de pessoa para pessoa, 122 por “outros meios”, nove por contato com material contaminado e um associado a outros problemas de saúde. Portanto, ao que parece, a transmissão por meio de objetos é “rara”. Há uma tendência de ocorrer apenas com longo tempo de exposição e no caso de hospitais ou leitos, onde o nível de infecção é alto. 

Vírus da varíola do macaco no microscópio.
Vírus da varíola do macaco no microscópio.
Foto: Smith Collection/Gado/Getty Images / Guia do Estudante

De que espécie de animal surgiu essa varíola?

A espécie “original” de onde veio a varíola do macaco ainda não foi identificada; talvez sequer tenha vindo de um primata. Os candidatos mais prováveis são os roedores, de acordo com a OMS.

No entanto, é importante frisar que a transmissão de animais para humanos ocorre mais por meio de mordidas, secreções ou ingestão de carnes contaminadas. Organizações de proteção aos animais têm alertado para que não sejam cometidos atos de violência contra primatas.

Serão necessários mais estudos para confirmarmos o histórico da doença, que por sua vez pode ajudar no desenvolvimento de seus possíveis tratamentos.

Existe transmissão sexual da variola do macaco? Gays são mais sensíveis à doença?

Embora o contato físico próximo seja um fator de risco bem conhecido para a transmissão, a OMS afirma que não está claro se a varíola pode ser transmitida especificamente através de transmissão sexual. A confirmação ou não também depende de mais estudos.

A agência de Segurança Nacional de Saúde do Reino Unido (UKHSA) sugeriu que as rotas de transmissão do vírus poderiam ser sexuais por conta de uma incidência grande da doença em homens que fazem sexo com outros homens, e que apresentam úlceras genitais dolosas. Porém, como esse é um dado novo, com características nunca antes associadas à varíola, cientistas têm alertado para que não sejam tiradas conclusões precipitadas.

No Twitter, a população LGBTQIA+ apresentou preocupações sobre a estigmatização da doença relacionando-a a homens gays. De acordo com declarações do médico infectologista Vinícius Borges em suas redes sociais, todos precisam se cuidar, e a população LGBTQIA+ deve reconhecer o risco. 

Por que o surto está acontecendo agora?

Diante do surto em todo o mundo, cientistas imaginaram que ele poderia ter relação com o surgimento de uma nova forma de varíola mais transmissível. Com as primeiras sequências genômicas virais sendo publicadas, não é o que parece ter acontecido. 

O professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles, Jamie Lloyd Smith, disse ao portal Wired que o mais provável é que o surto tenha decorrido de uma explosão de casos de partes da África, combinado com o pico de viagens aéreas após o período pandêmico. Outro suposto fator foi a diminuição da imunidade contra o Ortoxoxvirus, já que por conta da erradicação da varíola, toda uma geração não desenvolveu anticorpos contra ele. 

Apesar dessas hipóteses, não se sabe com certeza a causa do surto atual.

Tratamento ainda é controverso

Ainda que a vacina contra a varíola humana ofereça proteção contra a do macaco (dados mostram que eficácia chega a 85%), esse é um imunizante que não é usado há mais de 40 anos.

Isso preocupa os cientistas porque ele contém um vírus vivo de uma doença que já desapareceu do mundo. Mesmo com a monkeypox sendo um mal antigo, a demanda por essa vacina não era tão grande até este ano.

A ideia então seria a de produzir outra vacina, e fabricantes estão avaliando a produção dela dentro de um plano de emergência. Por enquanto, apenas países da Europa e dos Estados Unidos, que possuíam doses estocadas, podem dar início à vacinação. No Brasil, a previsão é de que 50 mil doses, encomendadas junto com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a OMS, sejam importadas em setembro. 

Não existem medicamentos aprovados ainda contra a varíola do macaco; apenas antivirais usados contra outros patógenos foram testados em animais. A combinação de cidofovir e brincidofovir, que tratam citomegalovírus e varíola humana, já demonstrou eficácia contra a varíola símia em estudos preliminares, assim como a droga tecovirimate. Nenhuma delas é aprovada no Brasil.

Fonte: Redação Byte
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