Como programador achou suspeita de fraude em vacina de Bolsonaro antes da polícia
Marcelo Oliveira, de 43 anos, disse não foi procurado pela Polícia Federal e publicou informações em seu perfil no Twitter
A Operação Venire, da Polícia Federal (PF), investiga o uso de dados falsos em carteiras de vacinação contra a covid-19 e tem Jair Bolsonaro como um dos alvos. Quatro meses antes da investigação ser divulgada pelas autoridades, um engenheiro de software usou seu perfil no Twitter para mostrar indícios de fraude no cartão de vacina do ex-presidente.
Bolsonaro já foi ouvido pela polícia quatro vezes e nega a acusação. Ele chegou a ter seu celular apreendido na apuração do caso.
Marcelo Oliveira, de 43 anos, falou ao UOL que não foi procurado pela Polícia Federal e que também não recebeu nenhuma quantia pelas informações divulgadas em sua rede social.
Segundo o engenheiro, a análise de dados que propiciou a descoberta nasceu como um hobby durante a pandemia, quando ele passou a ajudar a levantar o número de óbitos pela covid-19 e a desmentir fake news sobre as urnas eletrônicas.
"Deixando claro devido a matéria do UOL, eu só notei tecnicamente os dados deletados da vacina, a investigação da PF foi encontrada e feita de forma independente por eles", disse o engenheiro após a repercussão do caso.
Ele explicou nas redes como surgiu a desconfiança e o processo para investigar o caso de forma autônoma.
"Sobre a suposta carteira "vazada" de vacinação do Bolsonaro. Consultei no OpenDataSUS usando a CNES e data de nascimento informadas. É bem improvável, aplicada na UBS Parque Peruche (ZN/São Paulo), raça informada Preta, Estrangeiro, etc.", escreveu o desenvolvedor em seu Twitter.
Sobre a suposta carteira "vazada" de vacinação do Bolsonaro.
Consultei no OpenDataSUS usando a CNES e data de nascimento informadas.
É bem improvável, aplicada na UBS Parque Peruche (ZN/São Paulo), raça informada Preta, Estrangeiro, etc.
— Marcelo Oliveira (@Capyvara) January 2, 2023
Ele afirmou que vinha "cantando essa bola" desde 2 de janeiro, quando desconfiou de uma provável "vacina falsa do Bolsonaro, 2 doses de Pfizer deletadas pré viagem dele aos EUA".
"No vazamento de Janeiro com a data de nascimento e local exato pude encontrar a dose e achar o campo "paciente_id" (hash feito para anonimizar) que corresponde ao CPF dele, com esse valor fiz novas buscas por outras doses", explica.
Marcello ressalta, pelas redes sociais, que a consulta destes dados é pública.
"No DataSUS quando vc apaga uma dose ele não sai do banco de dados, ela só fica como status "apagada", então ficou esse rastro digital. E apesar das datas das doses constarem nos dias mencionados, no campo "timestamp" parece que foram criadas e invalidadas no mesmo dia", afirma.
O engenheiro afirma que também encontrou, deletadas na mesma UBS e data, duas doses de Laura Bolsonaro, filha do ex-presidente, na época com 11 anos.
Encontrei também deletado na mesma UBS e data, 2 doses da filha dele, na época com 11 anos. 🤦♂️ pic.twitter.com/XxeGgTW4hg
— Marcelo Oliveira (@Capyvara) May 3, 2023
Cautela
Ao UOL, Marcello Oliveira afirmou que busca sempre ser cauteloso com os dados que divulga. Isso também seria uma forma de se proteger pessoalmente de possíveis ataques online.
"Eu nunca sou categórico. Tento sempre ser neutro mostrando as informações que tenho. Eu tenho um pouco de receio de publicar, mas, ao mesmo tempo, acho importante fazer isso", disse.