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Computador mecânico mais antigo do mundo seguia calendário lunar

Um mistério persistente sobre a Máquina de Anticítera, ou Antikythera, foi solucionado por acaso na união de trabalhos amadores e cálculos astronômicos

4 jul 2024 - 01h09
(atualizado às 18h42)
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Um dos mistérios envolvendo a Máquina de Anticítera (ou Antikythera, em grego), considerado o computador mais antigo do mundo, de mais de 2.000 anos atrás, foi solucionado por cientistas — e por um amador, como forma de passar o tempo. Parte do cálculo ainda envolveu técnicas de análise do espaço-tempo, mostrando a complexidade do antigo aparelho.

Foto: Zde/CC-BY-S.A-4.0 / Canaltech

A Anticítera é um computador mecânico — o que significa que usa mecanismos analógicos para computar, ou calcular — encontrado em um naufrágio no mar Egeu, na ilha de Anticítera, em 1901. O mecanismo data do século II a.C., é feito de bronze e tem pelo menos 30 engrenagens, muito precisas e intrincadas.

Desvendando a Anticítera

Para que servia a antiga calculadora, afinal? Segundo os cientistas, para prever a data de eventos futuros diversos, desde os astronômicos, como eclipses, movimentações planetárias e fases lunares, e mais mundanos, como o calendário das próximas olimpíadas (e não a existência de fendas no tempo, como em Indiana Jones e a Relíquia do Destino). O que a ciência desconhecia, no entanto, era o caráter do calendário — seria ele solar ou lunar?

Recriação de como teria sido a Máquina de Anticítera, o aparelho mais complexo da antiguidade a ter sobrevivido (Imagem: University College London)
Recriação de como teria sido a Máquina de Anticítera, o aparelho mais complexo da antiguidade a ter sobrevivido (Imagem: University College London)
Foto: Canaltech

A resposta veio aos poucos. Em 2020, uma análise com imagens de raio-x mostrou diversos buracos espaçados regularmente abaixo do círculo de calendário do dispositivo, este incompleto. Assim, não era possível saber quantos buracos teriam existido na Anticítera completa, mas estimava-se entre 347 e 367, o que poderia incluir tanto os calendários lunar quanto solar.

Cientistas da Universidade de Glasgow, então, notaram algo interessante — um YouTuber chamado Chris Budiselic estava fazendo, de forma amadora, uma réplica do círculo do calendário, e buscando maneiras de calcular quantos buracos havia nele.

Graham Woan, da Faculdade de Física e Astronomia da universidade, contou em comunicado que isso o inspirou a buscar análise bayesiana para o cálculo, um método que lida com incerteza e dados incompletos. O resultado mostrou entre 354 e 355 buracos.

Já Joseph Bailey, da mesma universidade, mas do Instituto de Pesquisa Gravitacional, usou um método estatístico desenhado para detectar e calcular incertezas nas ondas gravitacionais, elementos delicados do espaço-tempo afetados por eventos grandiosos, como a colisão de buracos negros.

O resultado mostrou 354 ou 355 buracos em um raio circular de 77,1 mm, com incerteza de ⅓ mm. O cálculo também revelou que cada buraco varia apenas 0,028 mm na distância até o próximo, uma precisão incrível para algo tão antigo.

Além de técnicas de medição muito precisas, os gregos precisariam de uma mão muito estável para perfurar os buracos com tal exatidão, o que mostra quão engenhosos os povos da época eram.

Os resultados, revelando que o calendário era lunar, foram publicados no periódico científico Horological Journal, e são descritos pelos cientistas como "poéticos". Segundo eles, é uma simetria interessante que técnicas usadas para calcular elementos do universo lá fora tenham servido para entender melhor um mecanismo tão antigo usado para acompanhar os céus há dois milênios.

Fonte: The Horological Journal, University of Glasgow

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