Comunidades e crimes: como funciona o Discord
Reportagem no Fantástico mostrou crimes contra meninas que ocorrem na plataforma
Discurso de ódio, propagação de violência e abuso contra crianças e adolescentes foram relatados em uma reportagem veiculada no "Fantástico", neste domingo (25), em uma denúncia de crimes que ocorrem na plataforma Discord.
De acordo com a reportagem, criminosos usam a rede social para chantagear vítimas a cumprirem desafios. Caso não aceitem, eles ameaçam com a possibilidade de vazar fotos íntimas.
Segundo as autoridades policiais entrevistadas, os criminosos se sentem protegidos pelo anonimato e se tornam cada vez mais cruéis.
“Eles são sádicos, misóginos, eles têm um asco, um avesso por mulheres”, afirmou o delegado Fábio Pinheiro Lopes em entrevista ao "Fantástico".
Até o momento, há denúncias de dez vítimas. A investigação já encontrou fotos de meninas nuas e mutiladas com uma assinatura com o nome Dexter, escrito com lâmina na pele.
Na última sexta-feira (23), a polícia prendeu dois criminosos que agiam na plataforma e identificaram mais um, Carlos Eduardo, conhecido como DPE, que estava foragido, mas foi preso nesta segunda-feira (26).
Além da responsabilização individual dos agressores, o Ministério Público de São Paulo também investiga o próprio Discord.
“Nós estamos apurando, através de um inquérito civil, a falta de segurança da plataforma Discord. Crimes individuais sempre vão ocorrer na internet. O que diferencia é a detecção de que nessa plataforma está ocorrendo um discurso estruturado de ódio”, disse na reportagem o promotor de Justiça de São Paulo Danilo Orlando.
Ao "Fantástico", um porta-voz do Discord afirmou que a plataforma “não tolera comportamento odioso”.
“Nós somos um produto gratuito para mais de 150 milhões de usuários ao redor do mundo, e de tempos em tempos, conteúdo mau e comportamento mau vão acontecer. Nós trabalhamos ativamente para remover esse conteúdo”, afirmou o porta-voz.
O que é Discord?
O Discord é uma plataforma com estrutura similar ao Skype, TeamSpeak ou Slack, onde o usuário bate-papo com outras pessoas por chamadas de vídeo, áudio ou trocas de mensagens em comunidades, chamadas de servidores no sistema, ou de forma particular.
O diferencial é que a plataforma oferece um espaço para criar comunidades ou mesmo compartilhar conteúdo sobre determinado assunto com uma, ou mais pessoas. Além disso, permite transmissões ao vivo para sua comunidade diretamente da plataforma.
É fortemente relacionado com jogos eletrônicos, devidos a facilidade de conexão com múltiplas plataformas da indústria.
A plataforma serve como espaço para conversas pessoais em chats privados, onde o usuário pode adicionar amigos para conversar, por tópicos em canais de texto ou criar canais de voz.
Riscos da plataforma
Muitos aspectos da plataforma ainda são desconhecidos dos usuários. Isso atrai cibercriminosos que tentam se aproveitar das vulnerabilidades.
“Como atrai adultos, crianças e adolescentes, é importante conhecer essas características para garantir um entretenimento seguro”, disse Martina López, pesquisadora do Laboratório da Eset América Latina em entrevista ao Canaltech.
Além de ciberbullying e doxing (coleta e publicação de informações privadas para pressionar e prejudicar alguém ou levá-la a sofrer assédio), foram relatados casos de ideologias extremistas — políticas, religiosas ou sociais — e de comunidades de ódio contra personalidades em particular.
“O número de reclamações e encerramentos de contas por violação (cyberbullying, spam, crime cibernético e assim por diante) cresceu significativamente: de 26.886 reclamações em janeiro de 2020 para mais de 65 mil em dezembro", disse López ao Canaltech.
Especialistas recomendam sempre que pais e responsáveis por menores de idade monitorem as atividades dos jovens na internet e denunciem em casos suspeitos.